Ivonete Rosa

O ônus e o bônus de expor os relacionamentos nas redes sociais

Começo este texto deixando bem claro que não estou julgando ninguém, tampouco mandando indiretas, pois faço parte do time de pessoas que se expõe nas redes sociais, ou pelo menos, já se expôs. Tudo na vida tem ônus e bônus, e embora eu ainda não tenha conseguido enxergar o lado positivo da exposição minuciosa dos relacionamentos nas redes sociais, eu posso claramente perceber as nuances negativas dessa publicidade.

É fato que a maioria das pessoas gostam de perceber que seus parceiros demonstrem publicamente o quão orgulhosos sentem-se por tê-las como parceiros amorosos. Entretanto, há uma fato que considero como um complicador quando os casais optam por tornarem-se famosos no ambiente virtual: o desgaste gerado para a manutenção de uma “realidade” que nem sempre existe fora do ambiente virtual. Convenhamos que, por mais feliz e cúmplice que um casal seja na realidade, nas redes sociais, essa condição é sempre maximizada, melhor dizendo, há um exagero nas virtudes do relacionamento, algo surreal.

Diante disso, quanto mais um casal se expõe como perfeito, mais curiosidade e interesse ele estará atraindo daqueles que têm acesso às suas publicações. Devido ao excesso de exposição e o enaltecimento da relação, ao menor sinal de crise da relação, todos ficam meio que em “alerta” de que algo mudou na vivência daquele casal tão inspirador. E outra coisa: um casal que já está acostumado a estar em evidência e a receber os likes de forma rotineira, enfrentará uma certa dificuldade em administrar uma crise de forma reservada. Explicando melhor: pode acontecer, por exemplo, de ser o dia dos namorados, e o casal estar brigado, então, obviamente, as pessoas já estarão esperando por aquela homenagem em forma de textão do casal, daí, esse casal terá que se esforçar para manter as aparências de casal perfeito, postando algo na rede que não seja autêntico, enquanto que na realidade nem estão se falando.

Há casos muito constrangedores em que um dos cônjuges/namorados posta uma homenagem e o outro nem comenta ou, no máximo, apenas curte. Nessas horas, sentimos pena do autor da postagem, é muito embaraçoso. Na realidade, quando nos expomos em demasia no ambiente virtual, nos transformamos em atores com a missão de manter aquele “espetáculo” em cena, tornamo-nos, de certa forma, reféns da nossa exposição.

Partindo do princípio de que o que não é visto não é lembrado, o oposto acaba valendo: quem se expõe demais acaba virando espetáculo dos mais diversos olhares: curiosos, invejosos, empáticos e etc. Como disse no início do texto, eu não teria nenhuma condição de recriminar alguém por essa prática, justamente por já ter me exposto demais, entretanto, confesso aqui, que me arrependo de quase todas as exposições que já fiz envolvendo os meus relacionamentos.

Certamente, hoje em dia meu olhar sobre essa conduta é bem diferente. Eu me pergunto: qual a necessidade de alguém mostrar um presente que ganhou do cônjuge ou namorado? Bem, eu já fiz isso e, olhando para trás, sinto uma pontinha de vergonha. Alguns momentos tão íntimos, até mesmo print de mensagens percebemos expostos nas redes sociais, e vem a pergunta: qual o objetivo dessa exposição às pessoas que são, inclusive, desconhecidas?

Conheço uma pessoa que confessou ter mantido por muito tempo um relacionamento por vergonha de romper e “frustrar” os seguidores. Ela disse,em tom de desabafo: “nada daquilo que eu postava, existia, aquilo tudo era um teatro e era horrível manter as aparências, eu me sentia na obrigação de dar satisfação a todos pois meu casamento vivia exposto”. Por fim, a pessoa optou por abandonar por completo as redes sociais. Eu confesso que tenho uma profunda admiração pelas pessoas que conseguem viver seus relacionamentos sem expô-los de forma demasiada. Mas, viva a liberdade que cada um que faça o que bem quiser de suas vidas.

Imagem de capa: Branislav Nenin, Shutterstock

Ivonete Rosa

Sou uma mulher apaixonada por tudo o que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e psicologia. Escrevo por qualquer motivo: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel.

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