Ontem eu descobri que diálogo é o melhor dos remédios.

Eu sempre fui boa em segurar as pontas sozinhas, sempre fui ótima em interiorizar tudo e escrevia só para não surtar. Foi por isso que comecei a escrever: para não guardar tudo de uma só vez, sabe? Eu escrevia por mim e para mim e tudo bem. Não fazia muita questão de fazer sentido. Se me aliviasse, que fosse um pouco, já me bastava. Mas a vida não pode se resumir à palavras num papel, sabe? Às vezes – quase sempre – é preciso sentir-se ouvido: seja numa conversa com a terapeuta, seja numa conversa bem franca com quem quer que se precise conversar.

Não gosto, confesso. Não gosto mesmo de me expor e falar abertamente. Não gosto de expor problemas, porque falar deles tornam eles reais demais. Sabe aquela sensação de que, se ignorar, parece mentira? Então, é isso que tento fazer todo o tempo, o tempo todo. Ignoro. Finjo que não aconteceu, finjo que não existe, finjo que não incomoda.

Mas incomoda.

O coração vai sufocando, sabe? Vai ficando pequenininho e cheio, apertando o peito em dorzinhas espasmadas. De dorzinha em dorzinha, passa a incomodar e latejar demais. Aí que, ontem, eu descobri que o diálogo é o melhor dos remédios. E descobri que, assim como vários outros remédios, a dose é amarga e difícil de engolir.

Eu tremia, loucamente. Minhas mãos tinham vida própria, meu coração batia tresloucado no meu peito – e doía. A respiração era acelerada. A ponta de meus dedos ficou dormente. Meu estômago se contorcia. Reações claras de quem não está nem um pouco acostumada a se expor, a se abrir, a mostrar um lado frágil. É difícil desarmar armaduras quando se aprendeu a ser a própria fortaleza. É difícil encarar histórias e problemas, quando se aprendeu a ignorá-los até que passe.

Mas tem coisas que não passam. A vida vai sacaneando e mostrando que aquela feridinha deve ser cutucada, deve ser exposta, deve ser sarada de forma certa, ao invés de deixar virar uma cicatriz mal cuidada, sabe? Então eu abri a ferida, outra vez. E agora estou cuidando para ela fechar direitinho.

Ontem eu descobri que diálogo é o melhor dos remédios. Difícil de engolir, difícil de reconhecer que é necessário – mas libertador. Hoje inicio a semana mais leve, cheia de saudade e com a certeza de que ninguém merece guardar as palavras só para si.

Imagem de capa: BlackbourneA, Shutterstock

Mafê Probst

Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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Mafê Probst

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