Não sei gostar aos poucos. Medir as minhas atitudes e podar as minhas palavras carinhosas?, não é comigo. Sou feito de sentimentos que precisam de espaço para fazerem sentido. Detê-los em mim é dolorido e, não estou disposto a sentir dor pelo amor que carrego. É tão mais gostoso quando falamos tudo que sentimos, sem lapidar as verdades e disfarçar os pormenores desse jeito vulnerável de se entregar.
Acariciar quem a gente gosta sem hora ou data especial é um afago gratuito, como deve ser, que fazemos por puro deleite. Abraçamos a alma de quem a gente ama, com apreço e cuidado, para transbordar nela todo o nosso gostar. Dizemos gostar muito para não cansar o “te amo” tão evidente nessa energia que parte do nosso coração. E quando menos percebemos já estamos abraçando, dando beijos, segurando na mão para levar para lá, para cá… sem medo algum de achar que somos grudentos. Até podemos ser um pouco. Nesse mundo gélido eu prefiro ser sol, de todos os dias, para quem eu amo.
Quando a gente gosta de alguém e, esse alguém, nos recebe com muito amor, sentimos uma paz que transborda por todo nosso corpo. E sentir essa alegria percorrer cada molécula que possuímos é de uma sensibilidade ímpar; é uma faísca que desencadeia o melhor da gente. Amar é gostoso, sentir-se amado é tão gostoso quanto. Ou mais! Pessoas gostosas não tem nada a ver com aparência física, mas sim na maneira que elas transmitem a sua humanidade, seus sentimentos por mais delicados que sejam.
Quando não medimos o nosso gostar, não conseguimos ficar na mediocridade. É frio ou quente. Morno não existe; despertar o interesse de um coração disposto a se entregar com tudo para, depois, dizer para ir devagar é um tiro no pé. Até faz parar aos trancos, mas será difícil a continuidade. Tudo ganha exaltação nessa entrega energética, viva, inesquecível; se amo, amo em exponencial, no sofrimento a dor dói tantas vezes mais.
Eu gosto com todos os meus sentimentos ativos, não sou de perder tempo – se for para “perder tempo”, que seja com preliminares intensas e apetitosas. E quem já se perdeu nos beijos e nos abraços de um gostar intensificado sabe, muito bem, as delícias de preliminares intermináveis. Porque não é só no sexo que o amar exploratório percorre todo o nosso ser.
É fácil confundir essa entrega integral dos sentimentos com ansiedade do amar. É diferente. A gente sente com a alma e, a alma, não tem limites. Não reconhece margens para as suas entregas. Não há economia quando o assunto são os mistérios do coração. Mas, não é qualquer um que aguenta o tranco de se relacionar com a gente. A maioria das pessoas permeiam no comedido, no fácil, previsível; e a gente é euforia cem por cento dos momentos. Sentimentos.
Imagem de capa: TijanaM, Shutterstock
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