Então você fez o teste de farmácia, o exame de sangue, o ultrassom, e descobriu que está grávida. Então seu corpo mudou, você passou a se alimentar melhor, está bebendo mais de três litros de água por dia e evita ultrapassar os carros pela direita. Passou a seguir blogs de maternidade, reformou o antigo escritório para ser o quarto do bebê e fez a mala da maternidade. Se programou para amamentar de três em três horas, comprou um sling para carregar o bebê para qualquer canto e tem certeza que, com o exemplo do pessoal de casa, seu filho irá gostar de ler e não dará trabalho para comer beterraba.
Eu gostaria de acreditar que tudo aquilo que sonhamos correrá exatamente como planejamos. Gostaria de pensar que há uma porção de regras que garantirão que nada sairá dos trilhos. Porém, a vida não funciona assim. E na maioria das vezes o que ela quer de nós é evolução, é mudança. E não há algo maior nesse mundo, algo que nos transforme tanto, do que ter um filho.
Ter um filho nos arremessa para bem longe da zona de conforto, da comodidade e do conformismo. Nos faz buscar respostas, decifrar mapas e pegadas na areia, ter soluções para o mistério das nuvens de algodão e do arco íris refletido nas bolhas de sabão. Nos torna heróis da noite para o dia, nos faz ter olhos de simplicidade e poesia. Ter um filho é andar de mãos dadas com uma pessoinha que te vê maior que o mundo, é sentir os dedos melados de açúcar e saliva, é aprender a ser paciente com o suco esparramado no vestido na hora de sair e com as pausas para catar gravetos no caminho para o dentista.
Então você vai ser mãe e eu gostaria que você soubesse que mesmo planejando, organizando, arquitetando e estudando tudo nos mínimos detalhes, ainda assim você irá se surpreender. Ainda assim você ficará perdida em alguns momentos e não encontrará as respostas em nenhum livro, site, palpite ou bula. Seu filho irá exigir que você encontre as respostas dentro de você. Irá lhe fazer entender que é um caso único entre infinitos, e que, de um jeito novo, surpreendente e improvável, contrariando todas as previsões e estatísticas, você dará conta.
Você perceberá que deu conta quando a casa silenciar e você for cobri-lo na penumbra do quarto, e sentada na beira da cama desejar que o tempo congele. Você perceberá que deu conta quando ele tiver onze anos, e no intervalo das lições de ciências ouvir ele dizer um “eu te amo” gratuito, sincero e espontâneo. Você perceberá que deu conta quando notar o olhar aflito de seu pequeno te procurando na plateia da apresentação da escola, e então ser notada e presenteada com olhinhos brilhantes de alívio e amor. Você perceberá que deu conta quando, tarde da noite, o telefone tocar e ele te pedir conselhos para cuidar do próprio filho, pois você foi “a melhor mãe do mundo”.
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Então você vai ser mãe e eu desejo que você possa viver essa experiência intensamente. Que sua casa seja invadida por aviões de papel, alguns rabiscos nas paredes e manchas de Nescau no sofá. Que você passe mais tempo construindo cabanas de cobertor e barcos de sucata do que aspirando o carpete, e não desperdice o tempo que vocês têm juntos com excesso de trabalho e preocupações com o futuro. Lembre-se que a infância é um sopro, e num instante você terá todo tempo do mundo só para você e muita saudade da cama compartilhada depois de um pesadelo, do abraço envergonhado perto da escola, das marcas na parede evidenciando o aumento de estatura, dos verbos conjugados arduamente, da primeira visita da fada do dente.
Eu pensei que tinha planejado tudo. Pensei que poderia ser apenas o tipo de mãe amorosa que conta histórias, cuida, brinca e reza para dormir. Mas meu filho veio me tirar da zona de conforto. Eu tinha me habituado a ser o tipo de pessoa carinhosa que conquista tudo com seu afeto. Mas ele não queria só isso. Ele queria se sentir seguro. E só se sentiria seguro se eu fosse uma mãe posicionada, firme, enérgica e confiante. Ele queria limites. Queria que eu demonstrasse meu amor por meio dos limites. E me transformou. Me tornou uma pessoa mais determinada e cheia de fé em si mesma, muito diferente do que eu era. Hoje sei que nada te prepara para ter um filho. Nada te prepara para ser confrontada por um serzinho que irá lhe tornar mais forte, firme, imbatível. Para te tornar, com sorte, uma pessoa melhor.
Então você vai ser mãe e eu torço para que saiba aproveitar esse momento com alegria. Para que respire vapores do momento presente e não lamente o “trabalho” que as crianças dão. As noites em claro, viroses e birras não irão durar para sempre, e se você tiver doado seu tempo com alegria, interesse e presença verdadeira, terá conseguido desempenhar sua missão com louvor. E talvez um dia, depois de cumprir o ritual dos pijamas e escovas de dentes, você irá respirar fundo e pensar, com antecipada nostalgia, que aquele é um momento mágico; um momento que justifica e valida a vida, um momento que será revisitado e lembrado para sempre…
Imagem de capa: Dubova / Shutterstock
O título desse texto foi inspirado no título “Então, você vai ser pai” de Marcos Piangers
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Com lágrimas nos olhos finalizo seu belo texto lembrando de tudo que vivi nestes últimos 3 anos e meio. Quantas transformações. Me vi em quando tudo que você descreveu. Deixei meu sobrenome de lado e me tornei a mãe do Arthur. Confesso que este é o meu sobrenome da qual mais me orgulho.
Fabíola parabéns por seu lindo trabalho em compartilhar conosco seus sentimentos, experiência, aprendizado e sua vida de Mãe.
Desejo um dia poder começar a trilhar meu caminho assim como você em escrever meus sentimentos.
Sucesso para você, e obrigada mais uma vez por tão belo texto.
Tambem terminei de ler o texto com lagrimas nos olhos , e recordando dos Meu filhos pequenos o tempo nao passou ele simplismente voou e a sensacao que nao esgotei Todo meu amor queria ter Feito mais e mais .
Que coisa mais linda esse texto! Impossível não se emocionar! Parabéns pela sensibilidade e pelo dom em expressar com palavras o sentido da maternidade. O texto mais bonito que já li sobre o que é ser mãe!
Vivi o antes da maternidade e, estou vivendo o agora. Confesso - te: Fabiola, grata por este grande alivio e sabor de tranquilidade atravès deste texto mais que maravilhoso. Justamente, hoje, algo me transportou para aqui, pois, ultimamente ando me sentindo uma mãe fracassada e muito depressiva. Talvez, seja pela falta de filosofia ao enfrentar OS desafios da maternidade, ou por estar longe do meu país (longe dos meus genitores, aonde estes, poderiam dar un suporto de coragem e ajuda psicologica) Sabemos que, nossos pais è a nossa rocha. È un laco divino,é eterno. Mas, enfim, grata pelas palavras. Me ajudaram muito e, grata por existir. Deus te abencoe ricamente. Abracos!
Não sou mãe ainda, mas me emocionei com suas palavras, lindo texto! ♥️