Nat Medeiros

Minimalismo: o que me fez querer transformar a minha vida

Tudo que é excesso nos desgasta

O minimalismo é um estilo de vida que vem ganhando notoriedade no mundo ao nos fazer repensar o nosso modo de viver. O objetivo é viver menos para coisas e mais para experiências. Não é sobre deixar de consumir, é passar a ter um consumo consciente. Não é sobre deixar de se conectar ou se relacionar com as pessoas, é sobre escolher melhor os nossos relacionamentos, sobre só se conectar ao mundo digital o suficiente, sobre assumir apenas compromissos que nos façam bem e nos levem à evolução. Agora que todo o deslumbre das redes sociais e do consumismo começam a nos trazer desgaste e infelicidade em determinados momentos, somos levados a nos questionar: “Precisamos mesmo de tantos amigos, de tantas roupas e sapatos, de tantos compromissos, de tantos likes e visualizações? O nosso tempo é o nosso bem mais precioso, para onde ele está indo? Investimos a maior parte dele para ganhar dinheiro e comprar coisas que nos fazem ou não nos fazem feliz?”. São esses questionamentos que começaram a me alfinetar. Eu não descobri o minimalismo por acaso, descobri por necessidade. No início do ano comecei a apresentar algumas insatisfações com a minha vida, são elas:

1.O alto número de demandas nas redes sociais. Muitas pessoas me chamando para conversar ou pedir conselhos. Tudo bem você conversar duas ou três pessoas por dia através das redes. Mas quando vinte, trinta pessoas te chamam ou mandam vídeos, áudios e textos, isso se torna bem complicado. Um dia eu parei para contar e se eu fosse responder todas as mensagens, ouvir todos os áudios, ler tudo que me chegava e ver todos os vídeos que me enviavam, eu teria que pedir contas do meu emprego pra poder atender a tudo isso.

2. O alto número de roupas e objetos que eu possuía. Essas coisas sempre ocuparam muito espaço no meu guarda-roupa. Esporadicamente eu doava quantidades enormes de coisas, até mesmos roupas que eu nunca cheguei a usar. Mas eu escoava isso, porque logo em seguida em comprava mais coisas. Isso tudo se tornou uma preocupação pra mim. “E se roubarem as minhas coisas?”, “E se um dia eu for embora da cidade? Não vai ter como eu levar tudo! Acho melhor eu nem ir porque não quero perder minhas preciosas coisas…”.

Foi bem nessa época que eu li o livro “Clube da Luta”. O livro faz um questionamento bem interessante sobre o consumismo, que pode ser sintetizado em uma frase gloriosa: “As coisas que você possui acabam possuindo você”. Eu super concordei com a frase, mas só isso. Porque eu não estava nem um pouco aberta a adotar a filosofia de vida relatada no livro. Abrir mão do conforto e da segurança definitivamente não eram opção pra mim.

O Começo da mudança

Mas, diante essas insatisfações, eu fui fazendo algumas mudanças. Parei de estar tão disponível nas redes sociais. No meu Facebook pessoal até pedi que as pessoas evitassem me chamar no Messenger e Whatsapp. Também fiz uma limpa em meu guarda-roupa. Me desfiz mesmo daquelas roupas que eu nunca tinha usado e achava que ainda usaria um dia. Fiz um brechó para as amigas e consegui cerca de 500 reais com roupas que estavam paradas no meu guarda-roupa. Só que parte desse dinheiro eu acabei usando pra comprar mais roupas, ou seja, eu escoei meu estoque (o que não foi nada minimalista). O lado bom foi que eu acabei comprando somente roupas que tinham muito a ver com meu estilo, que é mais sóbrio (metade das novas roupas eram cinza, a outra metade se dividiam entre preto e branco). E como eu estava praticamente renovando o meu guarda-roupa, eu decidi que compraria um maior, para poder caber as coisas de modo mais organizado e espaçado.

O desgaste com as redes sociais e a experiência da morte

Foi nessa época da minha vida também que a minha mãe teve uma piora em seu estado de saúde. Foram três meses vivendo em um hospital. Minha vida se resumia a: casa, trabalho, hospital. Não foi fácil. Eu tive que dar uma pausa nos meus textos. E expliquei o motivo à quem me lia através das redes sociais. Foi bem bacana porque muitas pessoas me mandavam diariamente mensagens de carinho, desejando força. E eu sempre tive o cuidado e a consideração de responder. Mas hoje vejo que me preocupar em sempre responder às mensagens não foi bom pra mim naquele momento. Porque as quase duas horas diárias que eu gastava respondendo às mensagens, poderiam ser dedicadas à minha mãe. Infelizmente ela faleceu no fim de julho e é algo que hoje não posso mudar. O que me conforta é que ela confidenciou antes da sua morte à três ou quatro amigas que estava muito feliz comigo, pois eu estava cuidando muito bem dela. Mas isso não me tira a certeza de que eu poderia ter vivido mais aquele momento. Eu poderia ter feito ainda melhor.

Vou comprar um carro! Mas pra quê mesmo?

Após a morte da minha mãe, eu comecei a me questionar: quero continuar vivendo na cidade? Sei que outros lugares poderiam me proporcionar mais oportunidades. Mas tudo ficava no imaginário. Eu não tinha nenhum plano real. Foi nessa época também que eu passei a ter possibilidades concretas de comprar um carro e esse foi se tornando meu plano principal. Voltei para a auto escola e coloquei metas de economia na minha vida, o que foi bem bacana. Sim, ter um carro era o meu objetivo agora. Isso é interessante porque lá em casa praticamente não tivemos carro. Isso me deixava muito frustrada. Eu via meus colegas com pais que tinham carro, meus tios, conhecidos, todo mundo! E não eram raras as vezes em que nós, lá em casa, deixávamos de ir a algum lugar ou evento pela falta de um carro. Mais tarde, vinham as cobranças dos amigos e colegas: “Você tem que juntar dinheiro pra comprar um carro logo”. Sim, eu tinha que juntar dinheiro pra comprar um carro logo. Nisso, foram mais de 25 anos sem carro. Frustante, não é? Mas agora finalmente eu teria condições de comprar um! E foi justamente quando essa possibilidade veio, que eu me perguntei: “Pra quê mesmo eu quero um carro? Porque eu vivi a vida inteira sem um e sei viver muito bem sem. Não sinto falta do que praticamente nunca tive. Além de não ter falta, não sinto necessidade pois moro pertinho do trabalho e dos lugares dos quais mais gosto de ir, sem citar que hoje temos o bom e acessível Uber. Minha casa não tem garagem e eu teria que me mudar de um lugar que é meu, em uma excelente localização, pra ir morar de aluguel só pra poder ter um carro do qual não tenho necessidade. Carro precisa de manutenção, requer grana, necessita lugar para estacionar, traz preocupação e como pontuou um amigo: “Poderia despertar ainda mais a minha ansiedade”. Comprar um carro também não seria a melhor escolha se eu penso em mudar de país no ano que vem, por exemplo. Isso somente travaria meus planos.

O que a sociedade quer X O que eu quero

Eu caminhei a vida toda para chegar ao momento em que a sociedade dita como indicador de sucesso para finalmente descobrir que esse lugar não atende às minhas expectativas e nem melhora a minha qualidade de vida. Talvez um carro melhore muito a qualidade de vida de quem dependa de transporte público, dependa de terceiros ou atravesse longas distâncias, mas esse não é o meu caso. Definitivamente não! Inclusive há estudos que mostram que determinadas gerações não se interessam tanto em comprar casa ou automóveis, preferem adquirir experiências. Essa diferença de interesse também é muito comum entre culturas e países diferentes. Eu não estou falando que comprar carro é besteira. Mas eu parei de ouvir a sociedade para me entender melhor e vi que os meus anseios diferem um pouco do padrão.

Enfim, o Minimalismo!

E foi neste justo e iluminado momento que eu descobri o “Minimalismo”, que é o estilo de vida onde o “Menos” é considerado “Mais”. Aqui não se fala de não consumir, mas fala do consumo consciente: Eu vou comprar só coisas que eu gostarei muito de usar. Eu vou manter na minha casa e na minha vida somente o que é essencial. Bacana, não é? E isso não é sobre o lado material da vida, mas também o lado virtual, social e tantos outros. “Só vou aceitar compromissos em que quero realmente ir”, porque quando dizemos por educação um “Sim” a algo que não queremos muito, estamos dizendo um “Não” a nós mesmos ou a algo que queremos muito. Minimalismo é ter consciência de quem somos. Não é sobre ter dois pares de sapato. Não existem regras. Se pra você é importante ter 12 pares de sapato, ok. Mas que você tenha realmente pares de sapatos que você goste muito de usar, e não pares de sapatos que são lindos mas machucam, que são lindos mas você não usa, que são lindos mas que não combinam mais com o seu estilo. Minimalismo é você reduzir coisas, pessoas, situações e ficar apenas com o que é essencial e te faz muito bem. Mais tempo, mais afeto, mais relações genuínas e profundas, mais grana. Minimalismo no meu conceito é: “Ei, eu quero mesmo ir nesse ritmo, eu quero mesmo estar nesse pódio, isso realmente me traz felicidade e paz?”.

O Destralhe – Desfazer-se de coisas que não são essenciais

Acabei percebendo que eu já tinha tendências minimalistas mesmo antes de descobrir esse estilo de vida. Até mesmo as minhas roupas, que se reduzem a jeans, branco, preto e cinza (embora isso não seja uma regra no minimalismo, mas de fato são cores mais fáceis de serem combinadas). A diferença é que depois que descobri esse estilo de vida, eu me conscientizei ainda mais sobre a necessidade e a vantagem de ter somente o que é essencial. E a mudança é gradual. Eu me desfiz de cerca de 1000 (isso, MIL) objetos nesse último mês. Estou mais leve. Eu li em algum lugar que cada coisa que possuímos nos gera preocupação e requer cuidado. Quanto menos preocupação tivermos, mais livres somos. Ainda há mais coisas das quais quero me livrar. Vou abrir uma lojinha no Enjoei e fazer um novo bazar. Compras daqui pra frente serão planejadas e eu vou priorizar a qualidade e a funcionalidade (lembre-se, minimalismo não é deixar de consumir, é consumir coisas úteis, que vão apresentar boa durabilidade). Um guarda-roupa maior já não é mais o que quero. Meu objetivo agora é reduzir ainda mais o meu armário atual.

O Destralhe Virtual e o desejo por apenas aquilo que nos é essencial

Eu também fiz um destralhe virtual. Apaguei do minha nuvem cerca de 4 mil fotos que não são essenciais pra mim. Deixei de seguir cerca de 200 pessoas no Instagram, que são pessoas que eu não conhecia muito ou não tinha muito contato. Apaguei aplicativos acessórios, arquivos que não me servem mais. A experiência da morte da minha mãe me mostrou que não levamos nada dessa vida. Eu quero ter o essencial para viver, para ter mais liberdade de ir e vir, de mudar de cidade, de estado ou de país. Eu quero ter o essencial para viver pois já tive a minha casa assaltada quando morei no Rio Grande do Sul e foi traumatizante perder tanta coisa de valor. Eu quero ter o essencial para viver porque passei a vida toda batalhando para adquirir mais coisas mas percebi que o lugar onde eu queria chegar não é mais o lugar aonde eu quero ir agora. Na minha adolescência eu sofri por não ter roupa para ir para a escola. Eu tinha que esperar a minha irmã chegar da aula no fim da manhã para eu usar a calça que ela tinha usado e ir para a escola à tarde. Quando me tornei salariada, eu comprei tantas e tantas calças para nunca mais passar por aquilo, mas hoje vejo que são somente quatro calças que eu amo usar e então serão quatro calças que eu vou ter no meu guarda-roupa.

O Acessório X O Essencial

O que eu tinha de mais importante nessa vida eu perdi, a minha mãe. Coisas não têm mais peso em minhas decisões nem importância além do que é devido. Eu quero viver bem, ter segurança, qualidade de vida e lutar pelos meus sonhos, e não somente abrir mão de boas experiências para pagar um carro ou qualquer outra coisa que não me são necessários neste momento. Situações, objetos, roupas, pessoas que não me trazem bem-estar e não são primordiais, não mais cabem no meu mundo. Eu não mais quero o acessório, eu quero somente o essencial.

Imagem de capa: EpicStockMedia, Shutterstock

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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