Pamela Camocardi

De interesse ao desinteresse é só uma questão de (falta) atitude

Esqueçam as palavras, engavetem as fotos, arquivem as declarações. O que faz as pessoas permanecerem interessadas nos relacionamentos são as atitudes diárias e não as declarações escancaradas.

Não que as palavras não mereçam credibilidade, nem que ouvir um ‘eu te amo” não seja maravilhoso, mas entre verdade e teoria, há uma grande diferença.

No livro “Rebelião das Massas”, José Ortega y Gasset afirma que as palavras “servem basicamente para enunciados e provas matemáticas; já ao falar de física começa a ser equívoco e insuficiente. Porém quanto mais a conversação se ocupa de temas mais importantes que esses, mais humanos, mais “reais”, tanto mais aumenta sua imprecisão, sua inépcia e seu confusionismo. Dóceis ao prejuízo inveterado de que falando nos entendemos, dizemos e ouvimos com tão boa fé que acabamos muitas vezes por não nos entendermos, muito mais do que se, mudos, procurássemos adivinhar-nos.”

A verdade é que sabemos muito de tudo e aplicamos pouco de quase nada. Na teoria vivemos o manual do amor perfeito, discursamos sobre fidelidade e temos, na ponta da língua, o exemplo do amor feliz. Na prática, vivemos atrás de relacionamentos perfeitos, mas nunca nos entregamos a nenhum.

Parece que as relações mais bacanas do mundo foram infectadas por um vírus de vaidade sem tamanho. Colocando nas mentes humanas que se ignorarmos, não iniciarmos o diálogo e fizermos charme, despertaremos interesse a ponto de sermos amados incondicionalmente. Nessa linha, o amor parece mais uma tática de jogo do que uma possibilidade de felicidade.

Funciona assim: o que demonstrar menos interesse na relação é o que “vence”. Para tanto, algumas “táticas” devem ser seguidas à risca: não telefone, não responda às mensagens e não diga, em hipótese alguma, que sente saudades. Grande ilusão! Mal sabemos que as pessoas gostam do difícil, não do impossível!

Pela lógica, ninguém gosta de ser rejeitado, humilhado e ignorado. Nessa luta de egos, perde quem finge não se interessar e, perde, quem é alvo do desinteresse, já que ambos anulam a oportunidade de serem felizes. Entenda que amor nunca esteve aliado à rejeição. Essa teoria de que quanto mais charme você fizer, mais amor receberá de volta, é tão enganosa quanto ingênua. Relacionamentos dão certo quando as pessoas estão dispostas a isso. E só!

Portanto, a não ser que você tenha 14 anos, esteja no colegial e nunca tenha namorado, joguinhos amorosos estão fora de cogitação. Tenha bom senso, utilize sua inteligência emocional e jogue limpo. Mais vale um relacionamento real do que vários pseudo- relacionamentos carregados de charminhos.

Imagem de capa: fizkes, Shutterstock

Pamela Camocardi

A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.

Share
Published by
Pamela Camocardi

Recent Posts

Falecido Agnaldo Rayol emocionou vizinhos ao cantar ‘Ave Maria’ da varanda durante pandemia; assista

Nesta segunda-feira (4), o Brasil se despede de Agnaldo Rayol, que faleceu aos 86 anos…

1 dia ago

Última apresentação de Agnaldo Rayol foi eternizada em vídeo; lúcido com voz potente

O cantor Agnaldo Rayol, uma das vozes mais marcantes da música brasileira, faleceu na madrugada…

1 dia ago

“Cozinharam nosso cachorro”: tutor denuncia negligência em pet shop após perder cadelinha

A perda de Filó, uma cadela da raça bulldog francês de cerca de dois anos,…

3 dias ago

Chefe explica “teste da xícara de café”, método decisivo usado em entrevistas de emprego

No competitivo mercado de trabalho, a preparação para entrevistas de emprego costuma envolver currículos impecáveis…

3 dias ago

Você sabia que dormir abraçado ao travesseiro pode indicar sua personalidade?

Você já parou para pensar no motivo de dormir abraçado ao travesseiro? Esse hábito comum…

4 dias ago

Filme da Netflix retrata a luta de uma mãe e vai te emocionar com uma dose de esperança

O cinema consegue traduzir sentimentos e vivências que, muitas vezes, vão além das palavras. No…

4 dias ago