Viver só, caminhar sozinho por aí, ser livre para levar em frente a própria vida é bom. Eu não reclamo, não. Mas eu confesso: troco todas as benesses de viajante solitário pelos encargos e compromissos, as incumbências e obrigações de viver ao lado de alguém.
Dei de achar que do primeiro instante em que chegamos ao mundo ao segundo exato em que o deixaremos, poucos sentimentos serão tão caros, profundos e bonitos quanto o espanto de sentir amor e se saber amado por alguém.
Tenho pensado no privilégio de seguir a vida caminhando ao lado de outra vida como uma dessas coisas que acontecem a todo mundo, mas que nem todo mundo aproveita. É uma pena. Mas essas ruas vão cheias de gente incapaz de compreender a alegria imensa de viver com alguém, por alguém, para alguém.
Incapaz de entender que amar é ajudar o ser amado a ser quem ele é, e não ter posse sobre ele nem a ele entregar a própria vida, tanta gente por aí estraga e joga fora a graça de viver na companhia de quem faz valer a pena todo esforço que existe.
Eu, não. Eu ainda sonho com o amor sob a forma de uma ave rara, voando livre, circulando o céu sobre minha cabeça até pousar em minha casa do nada, disposta a mudar o rumo de tudo. Ainda sonho em respirar fundo e alçar meu voo em sua companhia, duas almas livres tratando de si mesmas e cuidando uma da outra, buscando o que fazer de bom a quem quiser e souber receber.
Viver com ela, para ela e por ela será então o exercício diário de um amor generoso e simples, gentil e trabalhador. A vida seguindo adiante em nosso dia depois do outro, nossas questões resolvidas em parceria, nossos almoços de avó, nossas conversas na cama entre um cochilo e outro. Nossa alegria se fazendo certa enquanto fazemos amor. E a beleza renascendo entre nós a cada dia, crescendo forte como os nossos filhos, sob os nossos olhos, entre os nossos braços. A beleza bem aqui e logo ali… na frente. E a beleza, a beleza…
Imagem de capa: Myronovych, Shutterstock
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