Nat Medeiros

Quantos de nós estamos inteiros?

Quantos de nós estamos inteiros?

Nem sempre aquela pessoa que não reclama, aquela pessoa que está sempre feliz ou que nunca se abate, está bem. Esse tipo de colocação aí do post há tempos me incomoda. Eu não acredito que todos nós tenhamos condições de apoiar uma pessoa em depressão. E mesmo que tenhamos condições, não podemos ser obrigados a assumir a responsabilidade dessa ação (que é uma baita responsabilidade por sinal). Setembro Amarelo está aí e com ele, a prevenção ao suicídio. Esse tipo de post vai ser muito comum. Mas antes de culpabilizar as pessoas pelo suicídio ou depressão de alguém, nos questionemos: será o quão saudáveis estamos para cuidar de outrem? Às vezes não estamos.

Nos últimos meses eu vivi momentos muito difíceis. Minha mãe estava tão doente que mesmo nos dias de férias e com ajuda de mais duas pessoas para cuidar dela, houve dias em que não tive tempo nem para tomar banho. Sem falar que como algumas pessoas sabem, eu tenho um tipo de transtorno que não é depressão, mas não é nada agradável ou fácil de se ter. Só que as pessoas sempre me viram forte, sem me abater. A maioria não sabia do quão difícil foram meus últimos quatro anos porque mesmo para amigos muito próximos eu não externei a gravidade da situação da minha mãe. Então muitas pessoas me chamavam para conversar, para me contar algum problema, alguma situação difícil pela qual estavam passando, mas não imaginavam um terço do que eu estava passando. Era impossível que eu auxiliasse outra pessoa, eu não tinha estrutura psicológica para isso. Até ter uma simples conversa era e ainda é difícil pra mim.

Mas o que eu estou querendo dizer é que, por mais que pareça clichê, “todos nós estamos enfrentando uma batalha que ninguém vê”. A diferença é que alguns expõem mais do que outros. Eu acho muito arriscado culpar as pessoas por elas não estarem disponíveis para apoiar quem está em dificuldade. Constantemente, somos atores sociais, aprendemos a mascarar nossa dor e nossos buracos, fingir um sorriso para evitar falar da dor. Quase todos nós estamos ou já estivemos um pouco (ou muito) doentes psicologicamente falando. As pesquisas que o digam, todos os dias lemos notícias como “Depressão é a doença do século”, “Transtorno de ansiedade é o mal do século”, “Depressão é a maior causa de afastamento do trabalho”, etc. O número de consumo de antidepressivos e ansiolíticos aumenta a cada ano. Não quero dizer que não possamos cuidar uns dos outros, mas devemos fazer só o que temos condições, com o cuidado de não estar assumindo uma tarefa que seja mais adequada para um psicólogo ou mesmo um psiquiatra. Porque é até um risco tentarmos resolvermos sozinhos uma situação tão séria se não estamos preparados para aquilo.

Acrescento que mesmo um psicólogo ou psiquiatra pode não ter condições de estar sempre disponível fora do seu horário de trabalho. Eu tenho alguns amigos psicólogos aqui no Facebook, sei que se eu precisar de ajuda e recorrer a um deles, pode ser que ele também esteja em momentos difíceis ou pode ser que outras quinze pessoas solicitaram a ajuda deles no Facebook antes de mim. É difícil abraçar o mundo ou carregá-lo nas costas… Todos nós temos limites e limitações. O que não quer dizer que somos seres humanos ruins por isso.

Imagem de capa: Kseniia Perminova, Shutterstock

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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