Luverlandio Silva

Há dor de engano por aqueles que amamos, até nos amarmos ainda mais

Parecia que eu estava adivinhando como terminaríamos. Olhava para você e lá no fundo, bem no fundo, alguma coisa me dizia para puxar o freio de mão das emoções, dos impulsos, dos sonhos; tornou-se rotina levar a minha mão para meu coração e pressioná-la contra o peito, com certa força, na tentativa de atenuar esse desfile carnavalesco fora de hora. Sem festa. Sem alegria. Pensei varias vezes que a minha esperança de construir um futuro ao seu lado, acabaria em mim, com suas mãos retirando o que ainda restava, não deixando nada para o que sonhar. E não deu outra. Contudo, não foi com suas mãos – que eu adorava tanto tê-las pelo meu corpo — que esse fim, finalmente, aconteceu. Como você conseguiu fazer isso, pergunta-se, agora? Bem… Foi difícil, mas você se esforçou demais para conseguir isso. Nada como determinadas pancadas de ausências, desculpas que mais tarde se revelariam mentiras das mais escrotas, sorrisos sarcásticos que eu, talvez, por ingenuidade ou confiança, achava ser charme para me encantar. Encantava-me, tanto, que não percebi a realidade da situação, que todos me apontavam desde o começo.

Quantas promessas que não vingariam, passaram? Quantos “compromissos” — como VOCÊ costumava tachar os programas românticos que eu inventava para nós dois — previamente agendados, desmarcados? Quantos nãos, quando só caberiam sins, ditos e reditos? Quantas vezes eu me perdi por aí na tentativa de me encontrar quando, os caminhos que percorri, foram inconscientes e às vezes conscientemente, andados apenas porque uma vez foram passados por você? Quantas vezes eu busquei me tornar melhor do que imaginei ser, para você? Para quê? Por quê? Para você olhar de uma vez por todas para mim e ver o quanto te amava, o quanto te amei. Não sei dizer se foi tudo em vão, porém, é certo dizer que não trouxe efeito algum na maneira como me tratava. Como tudo aconteceu.

Dizem que os anos que passam nos faz amadurecer. Ainda me vejo uma criança inocente que não compreende a vida, e, que, invariavelmente a enxerga com olhos de descoberta e encanto. E por mais anos que passam choro querendo colo de mãe, de pai, de proteção. Crescer dói. Sei tão bem disso que não suportava lhe ver triste, corria para enxugar suas lagrimas ou chorá-las junto, se fizesse necessário. Você cutucava minhas feridas sempre que possível. Quando eu precisava de alguém para falar sobre o meu dia, sobre as minhas angustias — acredite, cedo ou tarde, também irá tê-las, todos têm —, o quanto tinha sido difícil àquela reunião importantíssima para mim, não lhe encontrava. E pior do que uma palavra afiada é a lâmina do descaso vestida de desculpas. Parece bonita, só parece.

Foi difícil perceber as suas mentiras sempre tão certeiras. Talvez, eu me esforcei para não creditá-las no meu caderninho de decepções. Não lhe queria lá. A conta ficou grande. E você, aos poucos, ganhou uma atenção que até então, não tinha: minha desconfiança. Todas às vezes, desde então, lhe olharia diferente. Comunicar-me-ia com você, diferente. Escutaria suas palavras, outrora canção para meus ouvidos, com notável insegurança. Não tem como manter um relacionamento sem confiança com ninguém. Pelo menos um relacionamento saudável. Onde só existia amor, fez morada o medo. Medo de viver mentiras, de ser dependente de alguém. Medo de depositar meu amor em uma conta falida, sem garantias de resgatá-lo no futuro, quando mais irei precisar dele. Daí, meu amor, o que no começo aparentava ser apenas precaução, tornou-se, de fato, realidade: nosso amor foi apenas uma invenção da minha cabeça. Na sua era diversão.

É difícil acreditar que alguém engana outra pessoa apenas por enganar, para satisfazer seu próprio ego. Mas, engana. As mesmas desculpas não colariam mais. E, sem atentar-se, caiu diversas vezes em contradição. Percebi que o sorriso não era charme, só deboche. Que todas às vezes que me dizia não, para outras pessoas dizia sim. Para mim, o tempo sempre foi corrido… e a frequência com que nos víamos, diminuía. Caramba… sempre estive aqui para você, por você. Por que fez isso comigo? Por mais que eu considere isso injusto, não posso lhe pegar pelas mãos e lhe mostrar o que perdeu. Apenas, confortar-se com a ideia que não podemos mudar as atitudes de ninguém e que caráter é algo intrínseco a cada um.

Parei de lhe procurar para me achar onde tinha me perdido. E, para a minha surpresa, eu ainda estava lá. Só precisei me esforçar um pouco para reascender o amor que até pouco tempo, nem sabia que ainda possuía: amor próprio. As ruas nunca foram tão floridas, depois que parei de andar pelos seus caminhos, e percorri os meus. Conforta-me saber que eu sempre fui verdade nessa relação. Entreguei-me com sinceridade em todos os momentos. Não acredito que o amor é sinônimo da nossa história, que ficou na lembrança com sua importância. Tão dolorosa, mas importante.

Imagem de capa: Captblack76, Shutterstock

Luverlandio Silva

Nasceu no Piauí e cresceu em São Paulo, mora atualmente em Santo André – SP. Apaixonado pela área de exatas, mas tem o coração nas artes e escrita; trabalha e defende o meio ambiente e, as causas naturais: sentimentos; afetos; amor.

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