Mesmo que o amor seja um sentimento inesgotável, abundante, próspero e de todas as suas qualidades infinitas, nas relações humanas possui certos tipos de limitações quando apenas doado e não recebido. Pois aquele que muito deposita o seu amor na conta do outro acaba ficando com o saldo baixo se não houver a contrapartida. E nesse caso, pedir empréstimo de amor não irá resolver sua fatura final, pois o débito ainda vai existir -senão maior que o saldo devedor inicial, e a sensação de estar no vermelho não será solvida.
Empréstimo nesse caso seria achar que qualquer graça ou mínima atenção do ser amado seja suficiente para quitar sua entrega, ou então a busca por outras pessoas que nada te acrescentam para satisfazer uma carência instantânea e conseguir com isso uma prova de autoestima.
O amor por alguém é algo mais envolvente, latente, de nos fazer querer estar sempre perto, por mais tempo juntos, cuidado e entrega, sentimento além ternura, da sensação do ser completo.
Porém, se as faltas dele te fazem se sentir esgotado, perceba onde você está investindo todo o seu bem precioso.
Falar que ama, apenas, não é depósito de amor, é cheque em branco. A gente nunca sabe a quantia real a ser depositada. Não é palpável e pode ser garantia sem fundo.
Amor com saldo real mesmo é aquele que vem com atitudes, demonstrações de carinho, de importância e prioridade. De cuidado e atenção. Não quero dizer que amor seja puramente exclusividade, mas que se ambos estão na mesma frequência amorosa, seja então respeitado este sentimento que os une.
O medo pode fazer esse movimento ser paralisado, ou a falta de atenção pode prejudicar aquele que está disposto a se doar.
Porém, de nada adianta depositar amor se não contarmos com o saldo positivo do amor-próprio. Aquele montante essencial à nossa sobrevivência, autoestima e dignidade. Sem ele, a conta fica negativa e tudo o que temos é a garantia de amor do outro.
Não vale a penas abrir mão do próprio amor por conta de terceiros, pois se algo no parceiro não lhe agrada e isso te traz até mesmo um sofrimento, é importante ter um saldo para recuar e se cuidar.
Entendo que ninguém é perfeito, falhas e faltas existem, estamos todos no aprendizado, mas é importante saber distinguir e se orientar quando a limitação do outro chega a nos prejudicar, a nos ferir.
Compaixão é necessário, mas além disso, ter amor-próprio é passo primordial para amar o próximo e a maior prova de maior com nós mesmos.
Atitude de desamor consigo nos coloca em sintonia com o desamor do outro. Estabelecer limites nítidos é um ato de amor por si mesmo. Não ter limites transmite aos outros a mensagem de que você quer ser tratado de forma ilimitada. Ninguém é ilimitado.
Os limites alimentam nossa totalidade e mostram ao outro quem você é onde você está. Delimitar o próprio espaço além de trazer proteção aumenta ainda mais nossa energia e amor no nosso espaço sagrado.
Se quem entra no nosso espaço também souber dar seu amor, aí teremos algo bonito de se ver e viver. Uma luz se acenderá de amor ilimitado para ser consumido.
Fora isso, mais vale perder um amor por falta de cuidado que perder a dignidade por falta de amor próprio.
Imagem de capa: Ruslan Sitarchuk, Shutterstock
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