Os olhos, foram os olhos dela que me fizeram apaixonar. Profundos, tão fundos, e falam, falam muito! Mas não foram só os olhos, foi a boca, o nariz e a forma como ela caminha. Foi o jeitinho como o sol olha pra ela, nutrindo a pele branquinha e o corpo todo.
Gosto mesmo é quando ela me olha sem dizer nada, e me surpreende com um beijo, e me devora com um olhar indecente, e me faz entender sobre filosofia, sociologia e sobre o que há dentro de mim.
Adoro o jeito com que se emociona ao lembrar do que viveu, e mais ainda quando diz que só consegue chorar ao lado meu. E é nos seus braços que me transformo em um rascunho de Romero Britto, cheio de luz, cores e um traço bonito.
Sabe, ela tem um jeito carinhoso de dizer que me ama, uma voz doce que acalma minha pressa, meu peito e a minha tosse. Ao mesmo tempo, ela é explosão. Ela fala alto, ela fala grande, ela fala direto, sem entrelinhas, sem papas na língua.
Ela trabalha muito e é feliz com o que tem, com o que chegou e com o que ainda vem. Ela ri bonito e sorri inteiro. Nada no mundo é mais bonito do que dividir com ela uma coberta macia, uma taça de vinho, um travesseiro.
Ela não tem ciúmes, mas pergunta quem é aquela da mensagem. Ela não é grande em altura, mas cabe inteira no meu abraço. Ela me ouve cantar, me ouve falar sem parar sobre aquilo que me encanta a alma e entende quando perco o rumo no meio da caminho.
Ela me guia, me faz olhar para os dois lados da rua e prestar atenção no todo. Ela não se importa de carregar minhas coisas na bolsa ou meu casaco enquanto me faz caminhar pela cidade inteira.
Ela se importa comigo, com o que como, com o quanto tomo de água no dia, com meu trabalho, com minha rotina. Eu só consigo ficar intacta agradecendo pela alegria que divide comigo. Não é apenas pelo conhecimento que ela compartilha, pelo corpo desenhado em nobres linhas ou por tudo de bom que ela me oferece.
Também é pela tristeza que armazena no peito, que a sufoca sem respeito e por como isso a distancia de tudo. É como isso me afeta e também me transforma. É como isso me deixa mais forte para arrancar a dor que ela sente, sem machucar, sem ferir, sem julgar. O pacote completo que escolhi para carregar comigo é de carne e osso, graças a Deus!
E é no meu abraço que ela mora, é no meu beijo que ela se demora e é na saudade que se abre. Não sei ao certo de onde ela veio, mas entendo perfeitamente para onde ela está indo. E quero ir junto, e quero ir logo, e quero carregar no colo para que nada machuque seus pés pequenos.
Meu bem é um tipo raro, dessas pedras preciosas que a gente não encontra na vitrine do amor. O meu bem é questão de merecimento. É fé da cabeça ao pé. É gratidão. É sensação. Meu amor é um pedaço de cada música que gosta e uma pergunta para o fim de cada resposta que não sabe dar.
Ela é dura na queda, dessas que não desistem da luta. Meu amor é questionador, é agressivo quando lhe cortam o caminho e é mulher em todos os outros sentidos. Meu amor é cheio de atalhos, alguns nem achei a saída, e quanto mais o tempo voa pra nós, mais sabemos que depois de um dia ruim, sempre haverá para onde voltar.
De todas as metades que recebi, de todas as metades que doei, ela é o inteiro mais inteiro que já vi. E não há nada mais pleno do que encontrar o inteiro mais inteiro para ser inteiro comigo. E diante de todos os ódios do mundo, de todas as lâmpadas queimadas, de todos os tempos desperdiçados, ela sempre será a minha esperança.
Não seremos duas metades que fazem um inteiro, mas sempre seremos dois inteiros que se complementam. A única metade que aceito, e desejo, é a metade daquele chocolate que ela escondeu na dispensa.
Que seja eterno enquanto inteiro. Que seja completo enquanto pleno. Que seja minha enquanto respiro.
Esse texto é o meu melhor jeito de dizer que te amo, que te admiro e que todos os teus medos morrerão no meu abraço.
Eu te prometo.
Imagem de capa: clownbusiness, Shutterstock
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