Cada vez que eu tive que olhar nos teus olhos e me convencer, que nada daquilo que você me dizia era pra valer, eu morria um pouco.
Cada vez que meu coração ansiava e meu corpo…tolo, meu corpo todo implorava, para te amar e eu sabia que não podia me entregar, eu morria.
Cada mentira que você contava, cada desculpa esfarrapada, cada passo que você insistia em dar sozinho…acabava comigo.
Eu morri te vendo sorrir para outra pessoa, um sorriso tão fácil e aberto, a olhos despertos que esperavam por ti. Como se nada tivesse existido, como se fosse a coisa mais normal do mundo ter partido e me deixado pra trás… Como se todo aquele amor tão imenso um dia, não tivesse simplesmente passado de mais um caso fugaz.
Eu morri imaginando como seria a vida sem você, e agora, vivo morrendo, cada hora um pouco, por não mais te ter…ao alcance das minhas mãos.
Eu queria dizer que te esqueci, mas a real é que eu continuo te querendo, exatamente como da primeira vez que eu te vi.
De nada adiantou meu afastamento, meu amor criou um mito, criou um abismo; Criou um muro, impossível de destruir.
Me condenei a solidão. Com um coração que já não aquece mais nada, em um corpo sem expressão, que abriga uma alma agora calada; Silenciada. Pelo barulho absurdo do silêncio que a falta de “nós” me causa.
Cada vez que eu tive que esquecer tudo que você me fazia, para me entregar às tuas fantasias e às tuas mãos que me percorriam com ímpar maestria, eu me lembrava que muito em breve, outra vez, eu morreria.
Eu morreria nos minutos seguintes; Na manhã seguinte; Em todos os dias seguintes, em que a culpa viria. Eu morreria no gozo e no desgosto. Na culpa e paixão, em exata proporção, afincando minha própria e à esta altura, tão vital tirania.
Nunca me perdoei por ter te amado tanto.
Nunca me perdoei por ter te deixado.
E não me perdoarei nunca por ter-me esquecido de mim.
Cada “NÃO” que eu te disse, foi um um “não” à mim mesma. Mas eu tive que tentar, já não podia mais continuar escrava da tua loucura.
Agora pelo menos, sou refém de mim e das memórias que tão bem cultivo.
Já não te tenho mais para tirar a minha paz…agora quem isso faz, é a tua ausência.
Mais inquieta e assustadora, que toda a sua rebeldia.
Escolher à mim, foi o ato mais corajoso que eu tive. Mas a razão, não manda nada, onde o coração decide. A razão não passa de uma bela nuance de covardia…
Eu nunca mais vou ser, para ninguém, o que eu te fui um dia.
Eu nem sequer consegui guardar um pouco de lucidez e empatia… Para quem sabe usar, qualquer hora dessas, em que a solidão se fez minha única companhia…
Eu nunca mais vou mimar um ser e me doar por completo. Até porque eu já não disponho de mim. Eu me esgotei enquanto você se sobressaía.
E hoje, meu caro, sinto dizer… não tem mais um poro em mim, que não exale você.
Vodka e rum já não fazem efeito. Fred e Elvis já não me aguentam. E hoje seriamente me questiono, se ainda tenho algo batendo no peito.
Eu sigo morrendo, toda vez que eu olho para a minha cama bagunçada e me dou conta, que além do seu cheiro e marca nos lençóis, não sobrou mais nada… Olhando pela janela molhada, eu me dou conta de que posso ficar aqui, 1 ou 2 horas, ou por toda madrugada…que nada vai acontecer, você não vai chegar… E eu estou cansada. Nessa, de te matar e jogar tuas cinzas ao vento, eu me matei e cá estou, sigo em morte lenta… a todo momento.
A todo momento que eu me lembro, que em algum lugar do mundo você está vivendo, bem e alegremente longe de mim…A todo momento que eu me dou conta, que já deve ter outra pessoa incumbida de te fazer feliz.
A todo momento que eu sinto, que agora você está tendo a vida que sempre quis.
Em morte constante e dolorida, assim é a vida, de quem teve que aprender com a dor, que o amor não é bússola alguma para ditar diretriz.
Assim é a vida, de quem, para sobreviver, teve que se tornar uma boa atriz.
Imagem de capa: shapovalphoto, Shutterstock
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