Ana Macarini

Cresci com déficit de atenção e hiperatividade! E agora?!

Viver às voltas com esquecimentos, distrações, falta de foco e tarefas que quase nunca são terminadas, são apenas alguns dos obstáculos diários enfrentados por aqueles que já chegaram à fase adulta e, ou não foram diagnosticados e tratados, ou tiveram diagnóstico, mas não receberam a oportunidade de ter o apoio necessário para desenvolver estratégias eficientes para lidar com as inúmeras peculiaridades daqueles que sofrem de Transtorno de Déficit de atenção, com, ou sem Hiperatividade.

Ao contrário do que se pensa comumente, TDAH não é exclusividade infantil. A descoberta de marcadores diagnósticos desse transtorno tem muito pouco tempo de vida. Até mais ou menos 15 ou 20 anos atrás, os profissionais envolvidos com esses estudos, acreditavam que com a maturidade, as crianças disfuncionais em atenção, ou controle da impulsividade e agitação física e mental, teriam uma melhora nos sintomas e, por consequência, no comportamento.

Hoje, sabe-se que todos os adultos com TDAH trazem esse transtorno da infância e, assim como os pequenos, sofrem com um esmagador sentimento de inadequação, incompreensão e incompetência. Entretanto, sabe-se também que 50% das crianças diagnosticadas e tratadas assertivamente, chegam à vida adulta contando com recursos para identificar e administrar comportamentos advindos desse transtorno.

O fato é que, seja você adulto ou criança, a descoberta de que tem um nome para sua falta de concentração, tendência a adiar decisões e tarefas, incapacidade de tolerar atividades prolongadas ou monótonas, impaciência a ponto de não conseguir ler um livro inteiro, ficar na mesa batendo papo depois de finda a refeição de família, ou ver um filme até o fim, trazem uma bem-vinda sensação de alívio.

O diagnóstico feito com critério, revela que todas essas dificuldades têm explicação científica, caracterizam uma doença tão palpável quanto uma enxaqueca, por exemplo. E, assim como a enxaqueca, o TDAH vai acompanhar o indivíduo por toda uma vida, só que com um bom prognóstico de controle e capacidade de ter uma vida plena e integrada, como qualquer outra pessoa, desde que sejam feitas as adaptações necessárias.

Se um paciente portador de enxaqueca precisa tomar certos cuidados com a alimentação, a postura, a tensão psicológica ou muscular; o paciente de TDAH terá de encontrar também sua própria maneira de conviver com o transtorno, tais como: planejar tarefas por escrito e criar o hábito de checar as anotações, evitar fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, estabelecer pequenas pausas ao longo do dia, fixar metas a serem cumpridas a cada período do dia, reservar momentos para praticar alguma atividade física que lhe traga prazer, gasto energético e relaxamento, dormir bem e por tempo suficiente.

A descoberta e nomeação do transtorno colocam o paciente num outro patamar, em uma posição mais favorável, a partir da qual ele pode perceber que todos os percalços que vem enfrentando e que desorganizam sua vida afetiva, profissional, acadêmica e social, têm solução. Com a ajuda profissional adequada; o apoio e compreensão das pessoas mais próximas – principalmente os familiares e amigos -, em alguns casos, o uso de medicamentos, comprometimento pessoal e postura positiva, aquele que sofre de TDAH encontrará estratégias próprias para ir ao encontro de uma vivência e convivência amplamente satisfatórias.

É importante ter em mente que por trás de um adulto com TDAH, há uma criança e um adolescente que chegaram à maturidade com uma história de menos valia, cuja origem vem da própria autoimagem distorcida, quanto das etiquetas que foram sendo colocadas na testa de sua personalidade em desenvolvimento.

A grande maioria dos adultos portadores de TDAH cresceu com fama de preguiçoso, briguento, folgado, sem caráter e tantas outras pechas atribuídas por aqueles que olharam, mas não foram capazes de enxergar ali alguém que sofria, porque simplesmente não conseguia funcionar de outro jeito. E uma vez incorporadas essas crenças, fica muito mais difícil ressignificar comportamentos e lutar contra a tendência iminente de jogar a toalha e se encaixar num padrão de pensamentos que martelam ideias auto impostas e limitantes: “Eu sou burro!”; “Eu não tenho conserto!”; “Nunca terei sucesso em nada!”; “Sou desinteressante!”.

E esse cocktail formado por comportamentos típicos do transtorno, mais o sentimento cristalizado de incompetência, mais a desvalorização vinda das pessoas no entorno, podem produzir outras comorbidades, como: transtorno de ansiedade, compulsões e depressão. A falta de motivação, causada pelo acúmulo de insucessos e tentativas frustradas para tirar a cabeça para fora do caos, produz indivíduos exaustos e prostrados diante dos desafios da vida.

Em verdade, aquele que sofre de TDAH e já é adulto, quase sempre não tem condições de buscar ajuda por conta própria, posto que um dos traços mais marcantes do transtorno na maturidade é a procrastinação, ou o adiamento crônico. A pessoa vai sempre deixar para amanhã, para a semana que vem, o mês que vem. Enquanto isso, continua sendo tragada pelo mar de tarefas inacabadas, obrigações esquecidas, oportunidades perdidas, relacionamentos negligenciados e falta de amor próprio.

É um enorme nó para ser desfeito, verdade seja dita. Mas é indispensável olhar-se e ser capaz de vislumbrar caminhos mais acertados para lidar com as demandas de uma vida adulta, cheia de desafios e recheada de vivências prazerosas com o outro e com a felicidade de conseguir chegar a termo em seus projetos.

Se você chegou até aqui nesse texto e identificou com as ideias expostas, ou identificou alguém do seu convívio, talvez você esteja diante do momento exato para recolher medos ou reservas, enfrentar a verdade e buscar ajuda, ou oferecê-la, conforme o caso. Nada é melhor e mais eficiente para nos alçar a uma vida mais plena, do que a posse de nossas reais necessidades.

Pense nisso! Mas não fique só pensando, não… aja. E aja com a mente e o coração abertos. Assim, amanhã, daqui uma semana, ou daqui um mês terá uma história inteiramente nova para contar.

Imagem de capa: Tanechka, Shutterstock

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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