Desde muito cedo ela sempre me encantou. Sempre exerceu sobre mim um fascínio inexplicável, como em toda grande paixão que se preze. Acho que às vezes até tento fugir negando dentro de mim esse amor incomensurável, mas no fim das contas é só nos deixarem a sós para que o grande encanto seja consumado e eis que eu me vejo perdidamente embriagada pelo calor de seu abraço mais uma vez. Somos grandes amantes. Eu e ela. Paixão da boa a incendiar quarteirões empoeirados. A emocionar olhares apaixonados. A conseguir enxugar caldo rançoso de mágoa com um passeio inesquecível em telhado sofisticado. Sou louca por ela. E faço loucuras assim, como toda essa beleza que de vez em quando ela traz pra mim. Me fazendo decorar paredes. Me tornando especial por entre essa gente que deixa recado dizendo que sente esse mesmo amor desenfreado que tanto me consome. Eu vivo por ela. E talvez só por ela eu ainda esteja por aqui. Ainda que às vezes insone. Por ela eu escrevo. Trabalho. Estudo. É por ela que eu vejo graça nesse mundo. Por ela é que eu acho que vale a pena acordar para através dela me encantar com mais um novo dia. Arte que me cala. Me desperta. E que me inspira. Arte que me põe em contato com mundos misteriosos. Almas desconhecidas. Que me leva ao paraíso cada vez que embala minha alma amargurada, insatisfeita com a cor vil da realidade. E é para isso que vem a arte. Pra colorir abismos gigantes. Pra expandir territórios e criar pontes entre corações desesperados. Arte que tem poder de acalmar. Persuadir. Conquistar. Apaixonar. Divertir. Encantar. Confundir. Comunicar. É ela a minha grande diva. Poderosa com seus encantos a se apossar de minhas insossas cercanias. A grande força devastadora que hoje transforma meu país em maravilhas.

Crônica do livro “As Maravilhas do País de Alice”, Scortecci Editora, São Paulo, 2008.

Imagem de capa: Tithi Luadthong, Shutterstock

Alice Venturi

“Burila as palavras com a maestria de quem enxerga as veredas do ser como pontos de passagem, onde tudo é passível de transformação. Os sentimentos se entrelaçam, vão da risada escancarada à mágoa que mancha as horas com um encardido que não sai fácil. As palavras dela não saem fácil da gente, perpetuam-se nos recônditos espaços, proliferam sentidos e criam raízes fundas. A “Palavra” que estilhaça e esfuzia sentidos é a mesma que embala e cura a alma das mazelas cotidianas. Chega para sublinhar a sofisticação do simples, para propor o jogo poético das imagens que se entrelaçam desvelando tudo que vibra e faz vibrar. Fotógrafa, poeta, produtora artística e professora são algumas das nuances dessa carioca de alma furta-cor que vive suscitando diálogos entre os diversos campos artísticos e convocando à emoção, ao delírio ─ ao voo. Formada em História da Arte pela UERJ, Alice tem um livro publicado, “As Maravilhas do País de Alice”, pela Scortecci Editora, 2008”. Ester Chaves

Share
Published by
Alice Venturi

Recent Posts

Com ação implacável e emoções à flor da pele, este thriller da Netflix é imperdível

Se você é fã de tramas intensas, cheias de ação e drama emocional, Através das…

10 horas ago

O que acontece conosco quando não temos amigos da infância?

A infância é um período de aprendizado intenso, onde relações interpessoais desempenham um papel crucial…

10 horas ago

Só os mais atentos conseguem desvendar o 2º rosto dessa ilusão de ótica

Uma nova ilusão de ótica tem desafiado os internautas, com uma imagem que esconde um…

1 dia ago

A comédia romântica da Netflix que promete conquistar seu coração e te levar a lugares paradisíacos

A sequência do aclamado musical “Mamma Mia!” fez sucesso entre os fãs do musical e…

1 dia ago

Hemocentro de cães e gatos convive também com a falta de sangue para salvar os animais

Hemocentro de cães e gatos convive também com a falta de sangue para salvar os…

2 dias ago

Você precisa sempre deixar a casa arrumada? Saiba o que diz a psicologia sobre esse hábito

Ter uma casa impecavelmente organizada pode parecer apenas uma preferência, mas para a psicologia, esse…

2 dias ago