Guilherme Moreira Jr.

Para o amor que foi embora, muito obrigada

Eu preciso te agradecer. Na verdade, a vontade que tinha era de colocar o seu nome num cartaz bem grande, do alto de um prédio, só para ver qual seria a sua reação. Mas tudo bem, deixa pra lá. Agradeço aqui mesmo, neste texto, por ter ido embora. Amor, você me fez um favor para a vida toda.

Quando nos conhecemos, entendi que era amor. Pensei que, sendo assim, deveria dedicar tudo da minha pessoa para você. Com o objetivo de fazê-lo feliz, fiz tuas vontades, realizei sacrifícios, fui contra quem eu era antes de te conhecer. Esqueci completamente como andar com as minhas próprias pernas, como sentir o viver separado da sua companhia.

Amigos me diziam que isso não era normal. Que depositar tanto de si para alguém, não tinha como ser amor. Que talvez fosse algo mais próximo da obsessão, da obrigação embutida por uma cultura que prega “o amor que supera e faz de tudo”. Fiz pouco caso da preocupação deles. Continuei, firme e forte, ao seu lado. A minha vida significava amar você, não importando o porquê.

Nem sempre você era gentil comigo. Às vezes, você se esquecia de como tratar bem quem estava lá, diariamente, regando e mantendo o nosso querer. Isso me deixava chateada, causando até pensamentos de culpa. Mas logo você pedia desculpas e trazia presentes. Imaginava, agora vai ser diferente. Não foi. Vivi um ciclo de absurdos que nada é próximo do amor.

Um dia, tomei coragem. Resolvi partir e nunca mais voltar, nunca mais olhar para trás. Você protestou, chorou, suplicou. Disse exatamente aquilo que toda mulher quer ouvir, “sou seu e faço tudo por você, o que quiser”. Na época, não entendi muito bem a importância desse discurso, mas o aceitei de volta. Vivemos novas felicidades, mas não durou muito tempo.

Passado alguns meses, foi a sua vez de dizer que iria embora. Nada falei. Você não entendeu e ainda me encheu de perguntas – talvez, no mais súbito arrependimento, se perguntasse qual seria a outra escolha. Não importou muito. Continuei uma rocha. Você partiu.

Acumulei tristezas durante semanas. Sentia falta. Afinal, foram muitos instantes ao lado de uma pessoa. Não dá para apagar tudo, assim de uma vez. Vivendo um dia após o outro, descobri que não precisava. Descobri que não precisava fazer nada que não quisesse, inclusive amar. Pelo menos não do jeito “faço tudo por você”. Isso não é amor, nunca foi amor.

Hoje, vejo o tanto que aprendi. Graças a você, conheci os meus piores e melhores lados. Agora sei como diferenciá-los e não permitir que nenhum deles me sugue por completa. É preciso equilíbrio, inclusive para o amor. E quando você diz amar e se esquece de si, já sabe, passou da curva, perdeu o sentido continuar.

Para o amor que foi embora, muito obrigada. Ando serena, feliz e ciente do passado. Me conhecendo muito mais, aproveito igualmente as oportunidades que a vida me traz. Sou leve, sou amor, sou minha. No pior dos casos, concedo um empréstimo da minha companhia para quem possa se interessar.

Imagem de capa: AstroStar, Shutterstock

Gui Moreira Jr

"Cidadão do mundo com raízes no Rio de Janeiro"

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  • Muito bom o texto! Amei!!!! Mas realmente sou um"ET" , história bem parecida, só que não tinha volta e nem presentes, ininterruptamente desrespeitada , oprimida, eu vivia no escuro, nas trevas, doente e prostrada de opressão sem saber o porquê até que com grande desrespeito e descaso a criatura se foi e eu então liberta desse mal foi que a venda caiu dos olhos e enxerguei todo sofrimento que eu vivia. Uauuuuu tem uma vida linda aqui dentro e lá fora mesmo aos sessenta estou muito feliz ! Quero ter esse tempo de felicidade comigo mesma! Ah! Ah! Não quero mais me deixar!!! Amei e quero ficar! Enfim eu em primeiro, segundo e quiçá terceiro!!!!!

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