Eu sou assim, como dizem, um amorzinho de pessoa. Meio fofo; às vezes, faço carão para parecer mais “bruto”. Engano ninguém. Sempre de sorriso no rosto, meio tímido, querendo sempre agradar à primeira vista; não me dou em parcelas minúsculas, mas tenho meu valor, de imediato para muitos, e caibo no coração de qualquer um — acredito nisso. Sou entrega inteira. Sem ninharia. Olhar afetuoso. Abraço materno de vó. Tenho, como muitos dizem, um gosto agradável nas palavras que ofereço; companhia com cheirinho de café da manhã. Geralmente, agrado a gregos e troianos. Sei, então, que posso cativar quem está disposto a me conhecer. Valorizo isso; respeito isso.
Pessoas como eu são amadas com facilidade; amadas pelo jeito simples e contagiante de se pôr no lugar do outro. Sou amigo para todos os momentos; prefiro dar prazeres do que recebê-los, pelo simples fato de ver a satisfação no olhar de quem eu amo; sou duro quando precisa ser, também, sem deixar de massagear as “pancadas” que dou… de vez em quando, porque tem horas que é preciso dá-las, sabem?
Sou assim: sentimentalmente, consciente, do bem que eu posso ser ou causar. Isso é bom para todos os envolvidos no meu dia a dia; proximidade sentimental não tem nada a ver com presença física, sempre é estreito o laço que sustentam a proximidade de dois corações que se correspondem. Desfazê-los, sem cuidar das consequências desastrosas de um supetão dessa base, é algo que não está em mim. E nem deveria estar em ninguém.
Muitas pessoas acabam gostando da gente, involuntariamente, daquilo que fazemos, só por aquilo que exatamente somos, sem maquiagens. Sentimentos unilaterais não cabem a totalidade da nossa responsabilidade, contudo, no mínimo, merecem respeito; é muito fácil se apegar quando nos deparamos com um jeito agradável de agir, com uma boa educação, delicadeza, charme, beleza… empatia, e outras qualidades que acordam as borboletinhas que dormem na gente. Friozinho bom; receber frieza, em excesso, trincam o coração até despedaçá-lo.
Embora, não exista a nossa total responsabilidade pelos sentimentos que nutrem pela gente, somos, sim, diretamente responsáveis por como lidar com eles. Quando existe uma relação recíproca — pelo menos na aparência — o buraco é mais embaixo. Se colocar no lugar do outro em todas as nossas ações deveria ser o esperado. Ninguém quer sair machucado. Então, não machuque. Difícil? Tem gente que não tem coragem de assumir essa responsabilidade, então prefere fugir do semblante triste que chora ao escutar explicações de despedida. De desamores. Da falta de diálogos. De — ainda me pergunto como tem gente que faz isso ¬— traições.
Pessoas responsáveis sentimentalmente, que prezam pelo coração do outro, não inventam personalidades para agradar ninguém, no entanto se o sentimento existir, elas sabem como respeitá-los. É preciso cautela para se aproximar sentimentalmente; e, logo, ser cauteloso exponencial quando, por ventura, deixar de querer estar próximo sentimentalmente. Por qualquer razão.
Não sei como você pensa. Aliás, ninguém sabe. Espero que saiba que os seus pensamentos — e atitudes —, para um alguém especial, são tão importantes a ponto de machucá-las profundamente. “Eu me importo com o que você pensa em relação a mim”, tenho absoluta certeza que alguém próximo a você pensa assim. É. Eu sei. Às vezes a gente perde o interesse mesmo e, só queremos seguir a nossa vida sozinho. Tudo bem! Não há problema nisso. Deixar ir também é prova de amor; é prova de que amou o tempo juntos, os momentos, os sonhos. Só que acabou. Só deixe acabar de maneira honesta. Não seja propagador de desgraças na vida de ninguém. Não seja propagador de “que que aconteceu?”.
Tem gente que não está nem aí para isso: o impacto que causam na vida do outro. E, como eu, sabem muito bem que são até certo ponto, responsáveis sentimentais daqueles com que se envolvem. É isso. A gente influencia a vida do outro em várias áreas que elas deveriam ser responsáveis sozinhas; na amorosa, no que diz respeito a atenção, carinho, lealdade, somos responsáveis diretos. Senão, seria outra coisa diferente de relacionamento amoroso. Querendo ou não.
Chegar, se relacionar, despertar o encantamento do outro e, simplesmente, dar meia volta e sumir, sem mais nem menos, é golpe baixo. Baixíssimo. Não é questão de manipular as palavras, só tomar cuidado com as duras. Que ferem. Que destroem na preguiça. Um pouquinho de cada vez. É não trair a confiança que, até então, foi estabelecida no silêncio confidente da entrega. É entrar de cara limpa, sair também. É ser amigo na apresentação, ser amigo na separação. É não sumir, sumindo. “Não fazer com o outro aquilo que não desejo que façam comigo”, deveria ser a regra, mas vejo uma exceção hoje em dia. Ser a exceção quando só é esperado, novamente, a repetição de desrespeito sentimental.
Imagem de capa: everst, Shutterstock
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