Intimidade não tem nada a ver com penetração física. Intimidade é penetração emocional, é invasão pré-autorizada, porque quando há intimidade estabelecida, não precisamos de convocação, muito menos, de encontrar portas abertas para adentrarmos no outro. Entramos, batendo com a sola do pé na porta, quando assim acharmos necessário.
Intimidade não é sexo. Intimidade é o que vem depois de anos de convivência; ou, depois de sorrisos apresentados na fila do pão, em um domingo qualquer de preguiça planejada, só acontece. A gente não sabe quando, como ou, o porquê dela se apresentar… tão, como poderei dizer… excepcional. É loteria mesmo, sorte das grandes, quando vem — sabendo aproveitá-la —, muda a nossa vida para melhor. Muito melhor.
Intimidade permite a gente se livrar das bagagens desnecessárias do dia a dia. É um livrar-se de rótulos e, heroicas posturas frente aos nossos problemas pessoais para pedir colo querido, aconchegante, protetor. Não é para qualquer um que a gente se despe dos medos, das fraquezas, das vergonhas, das utopias para, assim, nos apresentarmos sem peso na consciência sobre o que acharão da gente. Sendo, naturalmente, o que somos dentro dessa bolha protetora que, às vezes, construímos.
Intimidade não é escancarar sorrisos e distribuir toques aleatórios. Intimidade é convidar o outro para fazer parte da gente.
Quando a gente tem a oportunidade ímpar de viver na intimidade de alguém, passamos a entender que não serão as baladas dos finais de semana enaltecedores do relacionamento — sejam eles de amizade, amorosos, profissionais, familiares —, o deixando mais forte. Não é a certeza da companhia para o cinema de quarta-feira. Intimidade não é a liberdade do puxão de cabelo, de variadas posições, dos tapas durante o sexo; e, por mais gostoso que seja, muitas vezes, tornam-se secundários. Ser íntimo, não é só ter alguém para postar belíssimas e fofas fotos juntos nas redes sociais e, mudar o status para “relacionamento sério”, que de sério, frequentemente, só tem no nome.
Ser íntimo é ser conexo.
E não adianta querer forçar intimidade. Ela não funciona assim; intimidade tem vida própria, nasce e amadurece em seu próprio tempo — a mensuração, pouco importa. O fato é que não podemos escolher quem serão íntimos da gente, eles, simplesmente, são. Aliás, tem coisa mais chata do que gente que força ser parte, quando, na realidade, não conseguem ser unidade? Quando a intimidade se mostra generalizada e, excessiva, fica evidente a falta de naturalidade.
Desejar se íntimo de todo mundo e, não ter para quem ligar quando a crise existencial bater na madrugada — acredite, ela vai bater —, é triste… Gente dependente da nossa aprovação é grudenta, inconveniente, imatura. É alguma coisa estranha, menos, íntima.
Intimidade é aquela coisa leve de querer dividir as nossas vontades, de dividir os nossos segredos. Não é todo mundo que merece saber todas as confusões de sentimentos que há na gente. Da boca para fora, podemos falar muito, entretanto, o que é especial, guardamos para não contarmos para qualquer um, não. Não mesmo. Todo mundo é bagunça, incertezas, medos e tantas outras coisas. Intimidade nos dá uma força para deixar de lado o que sentimos, para mergulhar no profundo oceano do outro, às vezes, tão fundo que perdeu o reflexo azul do céu para ser escuro e silêncio.
Intimidade é saber dos gostos e desgostos do outro. É, além de conhecê-las, ter compartilhado histórias e experiências, boas e ruins — rir e chorar juntos se necessário com todas elas. É cruzar por um perfume e sorrir, saber a quem pertence as memórias recentes. É escutar uma música e saber que ela fez ou faz parte da história do outro — melhor ainda, de vocês. É saber que para a mãe andar, precisamos ser as pernas dela pelos corredores da casa. É fazer poupança extra para comprar o vídeo game que o irmão tanto deseja, sem poder adquiri-lo no momento, é fazer surpresa para o gosto que não é próprio, mas alegra tanto quanto. É reconhecer que o seu amigo, precisa de um ombro para se apoiar de vez em quando. É ter alguém para escutar nossas reclamações do trabalho, da família implicante que possuímos…
Intimidade é saber que é mais gostoso uma noite regada a risos, comidinhas gostosas e dormir agarradinhos com quem está sempre do nosso lado, a sexo descompromissado, com um estranho sentimental. Intimidade é carinho, gentileza, paciência; e puxão de orelha quando se fizer necessário, também.
Imagem de capa: nenetus, Shutterstock
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