Imagem de capa: AnnaTamila, Shutterstock
As pessoas de alma humilde e coração valente cativam. Atraem quem não se rende, inspiram a quem sabe o que quer muito além de quantos obstáculos possam aparecer no caminho. Gostamos acima de tudo destas personalidades que não conhecem rendição, e que em um dado momento o fizeram: aprenderam a se amar a si mesmas.
Se é valioso dispor de amigos e familiares com este tipo de perfil e de atitude, é ainda mais importante nos transformarmos nós mesmos em uma dessas pessoas, dessas com aroma de gosto, posso e eu mereço. Mas, se há algo que esta sociedade em que vivemos nos mostra com frequência é que quem se atreve a dizer esta mesma frase em voz alta pecará por um certo narcisismo.
“Se você não tem amor próprio… a que pode aspirar?”
-Walter Riso-
Gostar de si mesmo é provavelmente a raiz mais valiosa do nosso bem-estar psicológico. Esta dimensão é, nem mais nem menos, a que garante a nossa sobrevivência, tanto física quanto emocional. É este carinho também o que nos permite suportar com maior ou menor grau os vai e vens da nossa vida e desta complexa sociedade que tem tantas contradições quanto nós mesmos.
Contudo, às vezes temos a clara sensação de que isto de “gostar” de si mesmo, de dizer em voz alta que somos merecedores e capazes de qualquer coisa, é pouco mais que um gesto exacerbado de mau gosto. Aos olhos de muitos corremos o risco de parecer pedantes, egoístas e obviamente, narcisistas.
Vejamos: ser altruísta, nobre e humilde é uma coisa boa e inclusive necessária, mas para dispor de uma boa saúde psicológica é necessário investir nessas outras dimensões às vezes descuidadas: o respeito por si próprio, a autoconfiança, o amor próprio, a dignidade pessoal…
O narcisismo sadio do qual às vezes descuidamos
A palavra “narcisismo” nos provoca uma certa rejeição só de ouvi-la. Mas… e se disséssemos que existe uma vertente sadia que todos de alguma forma precisamos? Por mais curioso que possa parecer, cada um de nós chega ao mundo com a necessidade de gostar de si mesmo “instalada de fábrica”, é como um programa genético que mais tarde e por diversas razões, acabamos levando ao cesto de reciclagem ou amordaçando para que não nos envergonhe.
Para entendê-lo melhor, devemos pensar nos bebês e nas crianças de 3 ou 4 anos de idade. No seu comportamento existe uma rede de narcisismo essencial que procura exclusivamente que suas necessidades básicas, sejam físicas ou emocionais, sejam satisfeitas. Não fazem isso por egoísmo, fazem isso primeiro para sobreviver e depois como parte do seu desenvolvimento psicológico e social.
Mais tarde este reflexo, este instinto, pode adotar três caminhos diferentes:
– O primeiro, que a criança pense, pela interação vivenciada com seu entorno, que é indigno de receber amor. Suas necessidades emocionais não são satisfeitas e pouco a pouco cai em uma espiral de autodegradação onde se destrói completamente a sua autoestima. Se entende que os outros não a amam, também não se amará a si mesma.
– A segunda vertente é igualmente negativa: o narcisismo exacerbado, onde a criança desenvolve uma necessidade extrema de procurar a atenção e o elogio do adulto. Precisa desse estímulo externo, persistente e continuo para se sentir reconhecido e conseguir poder. Pouco a pouco, à medida que cresce, essa prática continuará sendo a sua principal necessidade: procurará ser sempre o centro da atenção e a sua única preocupação será ele mesmo.
– Por fim, a versão mais saudável, é a criança capaz de preservar esse narcisismo saudável onde compreende que gostar de si mesmo é fundamental para sobreviver. Assim, pouco a pouco, em vez de exigir a atenção constante e o estímulo do seu entorno para se sentir reconhecido, consegue desenvolver uma forte autoestima com a qual se sentir capaz, digno, corajoso e merecedor de alcançar aquilo que desejar.
As pessoas que gostam de si mesmas conseguem o que desejam
Estas pessoas não são egoístas, nem narcisistas, e muito menos pedantes. Geralmente são discretas. Não costumam falar os seus planos em voz alta, nem levam cartazes proclamando suas virtudes ou suas capacidades como outros fariam, aqueles que praticam de verdade o narcisismo mais afiado, esse que se nutre de aparências, do “digo muito mas pouco faço” e do “se eu quiser alguma coisa usarei você para consegui-lo”.
“Existe uma coisa pior que a morte e o sofrimento: a falta de amor próprio.”
-Sándor Márai-
As pessoas com uma boa autoestima e que amam a si mesmas de forma corajosa e saudável avançam por seus caminhos em silêncio e sem chamar a atenção, mas têm sempre o olhar no horizonte para alcançar os seus propósitos, sem se importar com o que os outros disserem, o que os outros pensarem ou o que os outros fizerem.
Por outro lado, uma coisa curiosa que não devemos esquecer é que segundo explica a neurociência, essa área do cérebro onde nascem e são programadas nossas metas existenciais é o córtex orbito frontal. Essa estrutura, por sua vez, é muito vinculada ao plano emocional, mas principalmente a esse tipo de personalidade firme e forte que entende de hábitos, de persistência e de esforço pessoal.
Tudo isso nos mostra, mais uma vez, que somente as pessoas corajosas e aquelas que se caracterizam por uma boa dose de amor próprio e forte autoestima tocam o céu com a ponta dos dedos… E não, em nenhum momento se importam com o que os outros dizem, porque a energia para o triunfo reside sempre no interior de si mesmo, nesse canto privado do qual precisamos cuidar diariamente.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa
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