Ana Macarini

A fofoca é uma arma com alto poder de destruição

Imagem de capa: Syda Productions, Shutterstock

Só quem já foi vítima de uma fofoca sabe avaliar com precisão os efeitos devastadores desse fenômeno. Estar no centro do furacão de uma rede de rumores, tenham eles algum mínimo fundamento ou não, é dessas experiências de fazer qualquer um sonhar com uma vida pacífica numa ilha desabitada.

As fofocas nascem sempre a partir da iniciativa de uma pessoa – com algum grau provável de falta do que fazer -, que “planta” comentários envolvendo aspectos pessoais da vida alheia, com alguns propósitos – todos eles ilícitos.

E o fofoqueiro não distribui suas “informações” assim para qualquer um, não! Ele escolhe muito bem aqueles ou aquelas pessoas com características comportamentais inclinadas à curiosidade e propensas a falar mais do que o necessário – e sem filtro.

Feita a escolha da plateia, o falastrão faz um pequeno comentário – assim como quem não quer nada, e observa atentamente a reação dos ouvintes. Se a isca for mordida – e quase sempre é -, aí vem a exibição na arte de multiplicar falsas verdades por meio de modulações de voz e riqueza gestual dignas do que há de pior nas melhores novelas mexicanas.

Não raras vezes os fofoqueiros começam sua atuação lançando falas falsamente empáticas, tais como: “Você viu o que aconteceu com o fulano de tal? Coitado!”; ou ainda “Menino! Que horror esse lance na família do fulano, hein?”.

E sabe o que é pior? O pior é que em 99% dos casos sempre haverá na plateia do fofoqueiro gente da mesma espécie, ávida por embarcar numa história mirabolante acerca da vida dos outros, por pura necessidade de um poder ridículo e ilusório, a partir do qual passa a se distrair de sua vidinha medíocre e miserável.

E, não, não é preconceito! Porque se a criatura tiver um pingo de bom senso, ou alguma inteligência, ela vai parar um instante que seja para entender que a sua participação nesse tipo de conspiração barata é absolutamente opcional.

Nenhum de nós é santo, ou impoluto o suficiente para bater no peito e afirmar que nunca sentiu um comichãozinho que seja ao ouvir uma curiosidade cabeluda sobre a intimidade de alguém.

E, de fato, essa exposição de reality show nas redes sociais contribui bastante para alimentar a imaginação dessa gente fofoqueira que não tem mais com o que se ocupar. No entanto, há comentários que podem, com absoluta certeza, criar conflitos irreversíveis. Sem falar na possibilidade de denegrir a imagem de alguém, a ponto de danificar suas chances de convivência social. Tem gente que perde emprego por causa de fofoca! Tem relações que acabam por causa de fofoca! Tem gente que pensa em se matar por causa de fofoca!

Essa espécie de pessoa com língua ferina, sempre vai existir! Agora… O sucesso delas vai depender completamente de haver aqueles que se prestam a passar adiante seu comentário nada inocente. É muito fácil cair nessa armadilha. Mas é sempre bom lembrar que o mundo gira e que será um enorme alívio descobrir que numa rodinha de fofoca, você escolheu ficar do lado dos mais sábios, daqueles que pensam e usam a cabeça para algo que seja mais produtivo do que tripudiar sobre a vida alheia.

Com um pouquinho mais de coragem, a gente bem que é capaz de questionar e fazer o “língua solta” perder o rebolado, e pensar duas vezes antes de despejar suas maldadezinhas em nossos ouvidos. Quem sabe, de tanto ser ignorado, esse traste não toma juízo, não é mesmo?!

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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