Luverlandio Silva

A felicidade está dentro da gente

“Quando eu comprar o meu carro dos sonhos, serei feliz.” é um discurso antigo e, na maioria das vezes, são os homens que adoram dizer isso — é um “status” no qual a sociedade os empodera, bem superficial, diga-se de passagem. As mulheres também, mas em minoria — para elas é mais uma necessidade ou a liberdade de não depender de ninguém — almejam um carro novo, moderninho. Carro novo é gostoso de dirigir, não é verdade? Sei disso… Tem aquele cheirinho de novo. De nosso. Porém, de longe é sinônimo de felicidade. Ajuda muito, claro. Todo mundo tem o direito de ir e vir; contudo, apenas ir e vir para, ou de algum lugar, não significa necessariamente ser feliz.

A nossa casa não precisa ser enorme para caber felicidade sem tamanhos. Uma felicidade imensurável; que preencha do porão ao sótão de gargalhadas. A nossa felicidade de cada dia, se nutri de pequenas alegrias.
A felicidade de tão pequena, cabe na palma das duas mãos — abertas, livres, sem amarras. Casa enorme não tem nada a ver com a quantidade de cômodos que acomodam os nossos passos. Tem a ver com lar aconchegante, que cabe todos os nossos sonhos e descansos. Casa enorme pode ter apenas um cômodo e, nele, caber todos olhares carinhosos, para depois, e, só depois, se perderem nas telas dos smartphones. Casa enorme é lar feliz; casa enorme é lar, da quitinete da periferia à cobertura duplex da Vila Nova Conceição – SP.

A grama do vizinho nem sempre é mais verde do que a do nosso lar; existem cem tons de verde catalogadas e, quase todas (grama, maçã, selva, azeitona, limão, sálvia, mental, esmeralda, jade) representam uma tonalidade natural como o “sentir-se feliz pelo que é…”, não pelo que desejamos possuir.

Com pouco podemos viver muito bem, sabe… Tem gente que têm dois, três empregos para dar para a família, ou para si, bens materiais dos mais diversos. Que nem sempre precisam. Trabalham sessenta horas por semana; dedicam-se menos de dez com suas famílias, com seus amores, com seus ócios. Não sabem porque a felicidade corre em passos largos deles. Sempre tão distante, tão irreal. E a felicidade que tanto buscam, é tão baratinha. Uma pechincha: de graça.

E não importa a variedade de tecidos e cores que têm no guarda-roupa, se cada evento pedir uma nova estampa, um novo caimento, a felicidade não será nossa… mas, terceirizada no consumo que a tendência pede. Para que? Por quê? Será que a felicidade pode ser comprada no shopping ou naquela liquidação de virada de estação? Sei que é prazeroso tudo isso, só que depender disso para sentir-se bem, é triste. Felicidade é aceitação.

Felicidade é encarar o dia a dia de maneira leve, só precisa de um sorriso para desencadear uma gargalhada de doer a barriga.

A felicidade está no cumprimento feliz quando encontramos um amigo, naquele abraço cheio de saudade e cumplicidade. É comida caseira feita com amor de mãe que nos espera ansiosa, que espera a gente chegar do trabalho ou, visitá-la no final de semana — quando não moramos mais em seu lar, ainda zelando pelo nosso quarto. É enfiar os pés gelados nas costas do nosso amor, para vê-la se contorcer de friozinho, e risos. É seu amor lhe cobrindo de beijos e mais beijos; na chegada em casa, na despedida, na cozinha, na sala, na escada, no quarto ou, no parque em um domingo cedinho de piquenique e caminhada. Felicidade é absorver vitamina D diretamente do sol. É ver um pôr do sol no entardecer sozinho ou, acompanhado. É sua gata — ou algum outro pet — pedir carinho, pedir colo, pedir brincadeiras no meio da rotina. É gargalhada de bebê por qualquer esforço nosso de fazê-lo rir, ou diante da papinha-avião pedindo permissão para pousar em sua boca. É chuva fina que alivia a nossa respiração na selva de pedras. É pastel e caldo de cana de feira. É terminar nosso livro preferido, de todos os outros preferidos. É seriado novo que nos prende a atenção. É brincar na rua sem medo de ficar até tarde. É sorriso de mulher amada. É sorriso de homem amado.

Não é que a felicidade é difícil de encontrar. É só não busca-la em coisas materiais.

Não desista de ser feliz porque não tem aquilo que considera ser bom, porque alguém disse que é bom. Desista de tentar encontrar a felicidade fora de você, olhe para dentro e, perceba, que ela é indivisível na gente. Está sempre bem próximo da gente e, disfarçada de sorrisos, de toques, de sensações. Está sempre disfarçada de abraço apertado. De realização pessoal e não material. Felicidade que dura, que vale a pena é dada de graça e, de juros, só as gargalhadas que poderiam ser dadas agora, e deixamos para quando conseguirmos alguma coisa… que, nem precisamos para viver. E viver feliz com o que possuímos.

Imagem de capa: Mooshny, Shutterstock

Luverlandio Silva

Nasceu no Piauí e cresceu em São Paulo, mora atualmente em Santo André – SP. Apaixonado pela área de exatas, mas tem o coração nas artes e escrita; trabalha e defende o meio ambiente e, as causas naturais: sentimentos; afetos; amor.

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