Imagem de capa: Kichigin, Shutterstock
Acho que não precisamos mais de filmes de terror. O telejornal basta.
É só ligar a televisão para ser confrontado com guerras, catástrofes, atentados terroristas, marchas neonazistas, políticos corruptos e populistas e tudo quanto é coisa ruim.
Você liga a TV para se informar e escuta e vê 15 minutos ou meia-hora de carga pesada. É uma boa dose de medo direto na veia.
Depois do telejornal, eles ainda mostram algum programa especial sobre um tema macabro atual (um atentado terrorista, por exemplo). Lógico, já que se quer espremer até a última gota do que não presta.
Às vezes, ainda ficam transmitindo ao vivo, diretamente do local, não raramente só para dizer que ainda nada se sabe – o lado tragicômico das mídias!
Você fica ali, paralisado, chocado, mas o choque dura pouco, pois, antes de digerir o que viu, você é distraído e enrolado com um pouco de trivialidade numa reportagem sobre o aniversário da Rainha da Inglaterra, em futebol e na previsão do tempo.
Você então respira fundo, agradece ao Universo por ainda estar vivo e em segurança e muda de canal para ver a novela.
Na novela, a coisa prossegue: mentiras, fofocas, intrigas e traições…
Quando você pensa que vai poder descansar um pouco a mente, recebendo uma dose de propagandas coloridas, aí eles mostram um filme publicitário de uma campanha contra a fome, com aquelas crianças africanas subnutridas, magras e barrigudas e com um olhar que parte qualquer coração, já que sabemos, bem lá no fundo de nós, que aquela imagem não é uma montagem, que ela é verdadeira e que isso, crianças passando fome, realmente existe.
No jornal do dia seguinte, a mesma coisa: violência, assassinatos, acidentes e fim do mundo.
Notícia ruim se vende melhor, sem dúvida. E, quem vende, vende para um público, que consome tudo isso. Parece que muita gente gosta. Confesso que não sei direito se essa tendência de querer mostrar o sombrio existe porque muita gente gosta ou se muita gente gosta porque ela existe. Talvez os dois. Não sei.
Fato é que somos bombardeados com notícias ruins. Há uma forte tendência nas mídias de focar no negativo, na morte, em conflitos e destruições fenomenais, quanto mais apocalítico o cenário, melhor. As mídias se ocupam pouco com a vida, com o que constrói e une.
É assim na internet, é assim na TV, é assim nos filmes de Hollywood e Netflix: tem muito sangue, tem muitos tiros, muita gente morrendo, coisas explodindo, tiroteios e perseguições, guerras terrestres e intergalácticas, escândalos, falcatruas e muita destruição.
É claro que por trás de muitas notícias ruins estão acontecimentos ruins reais, essas coisas realmente andam acontecendo e precisamos falar sobre elas. Mas precisamos falar também do que anda acontecendo de bom.
Sim, o mundo anda conturbado, há muita coisa negativa, porém, e as positivas? Elas também acontecem! As coisas boas também merecem nossa atenção, até bem mais que as ruins.
Se a coisa anda feia, não seria melhor focar na vida ao invés da morte, na esperança ao invés do medo e no que constrói ao invés do que destrói?
Ser realista é ver as coisas como são. E eu vejo que há coisas feias, mas também muita coisa bonita. Vejo que há sofrimento, mas também muitos motivos de alegria. Vejo que há exemplos que desanimam e nos puxam para baixo, mas também muitos outros exemplos que incentivam e nos impulsionam para a frente. Só precisamos falar disso também. É certo falar da escuridão, mas precisamos falar também da luz.
Tem muita gente egocêntrica e mesquinha neste mundo, com certeza, mas tem muita gente boa também: voluntários que ajudam a apagar incêndio na mata em Portugal ou a cuidar de refugiados na Alemanha, pessoas que pegam animais doentes na rua e os levam para casa para cuidar, gastando tempo e dinheiro com eles, gente que visita crianças solitárias em orfanatos ou idosos igualmente solitários em asilos, gente que planta ao invés de desmatar, gente do bem que faz o bem.
Quando fechamos os olhos para o belo e só vemos o horroroso, quando ressaltamos a perversidade e ignoramos a bondade, enfim, quando focamos no negativo e menosprezamos o positivo, terminamos só piorando tudo, pois é assim que o lado escuro da vida fica mais forte, ganha terreno e se espalha. Quanto mais nos envolvemos com o que não presta, menos presta nosso envolvimento.
Sabemos que „violência gera violência“ e que „gentileza gera gentileza“. Pois bem, é por aí: concentre-se no que é negativo e sua vida se tornará mais negativa, idolatre o medo e você perderá a coragem, deixe-se prender pela escuridão e você não conseguirá mais ver a luz.
A base de uma vida saudável é sempre o equilíbrio. Portanto, precisamos equilibrar o negativo e o positivo. É claro que precisamos falar das coisas ruins que andam acontecendo, mas um equilíbrio não é possível se só falamos delas.
A solução do negativo está no positivo. O que resolve a escuridão não é mais escuridão, mas sim a luz!
Espero muito que um dia eu possa ligar a televisão para ver o telejornal e saber também das coisas boas que andam acontecendo por aí, que eu possa me conectar com a internet e não ser mais confrontado com tantas desgraças, catástrofes, protestos, teorias conspirativas e outras coisas tenebrosas e espero ver mais coisas boas, iluminadas e inspiradoras.
Sim, espero. Pois a vida não é somente um filme de terror. Ela é também uma história de amor.
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