Imagem de capa: zakaz86, Shutterstock
De manhã, à tardinha, de noite, faça chuva, faça sol, olhar para o alto simplesmente, olhar assim, por nada, é um dos jeitos mais bonitos de rezar.
Não é preciso decorar palavra, não carece nenhum ritual, vestimenta adequada, instrumento solene. Basta respirar fundo e mirar o céu lá em cima.
Olhando para o alto, a gente fica pequenininho, humilde como deve ser. Quem avista o céu esquece o que deve esquecer e lembra o que é bom lembrar. De quando em vez, pôr os olhos no céu nos devolve os pés no chão.
A moça abre os braços, fixa um espaço entre as nuvens e o vento lhe invade as narinas, renova-lhe os pulmões, levanta sua saia, passa voando baixo por sua pele num carinho imenso e lhe traz de volta o perfume da pessoa amada que anda longe.
Namorando o azul da tardinha, o menino imaginoso faz perguntas, cria teses, visita mundos, sonha com o infinito pra lá do sol, inventa o tratado geográfico das nuvens. Aprende a ser feliz mesmo quando está sozinho, esperançoso de que o pai volte logo do trabalho enquanto vai gerando em si mesmo, cá de fora, o caçula que vai dentro da barriga da mãe. Seu irmãozinho que, para todos os efeitos, também virá do céu, no bico seguro de uma cegonha.
E os velhos? Ahh… os velhos quando olham para o céu se transformam em poesia. São poemas de pernas e braços, de tempo e vento e luz e saudade.
No jeito manso dos velhos, olhando para o céu eu também sinto saudade. Lembro de quando éramos só nós. Você e eu e os nossos, refugiados de todo absurdo do mundo, voltando para casa depois de uma viagem de carnaval. Nós e nosso banzo de casa, nossos sentimentos domésticos, nossa pia de boca aberta para a louça suja, nossa vida limpa, nossas lâmpadas elétricas fazendo a festa dos bichinhos de asas que voam em círculos como loucos funcionários públicos da noite, nossa poeira sobre os móveis, nosso tapete enrugado sob o sofá, nossos planos de ter uma planta, nossos sonhos de amor eterno, nosso dia depois do outro.
Assim, quietinhos aqui embaixo, espiando a beleza que vai lá em cima, dá na gente a impressão de que Deus nos cuida de lá. Ele há de nos notar divertido e emocionado, apreciando seus filhos que O procuram daqui em usufruto da vista, da vida e do chão que nos sustenta e nos permite, com a humildade que nos cabe, de vez em quando parar os pés e erguer as mãos para o alto em franca, simples e honesta gratidão.
Ave Maria! Olhar o céu, esse lugar imenso onde mora o Pai Nosso e todos os anjos e os santos, é a oração mais bonita que existe!
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Ah! Sua reflexão é maravilhosa. Eu compreendo bem e concordo com você. Ainda ontem quando atravessei a ponte Rio Niterói na volta para casa, não conseguia tirar os olhos do céu. As nuvens formavam desenhos diversos e o colorido em vários tons de azul, fiquei mais uma vez tentando imaginar o amor infinito de Deus por nós, seus filhos ainda em processo educativo e me senti profundamente amada e acolhida, é uma sensação tão boa que faz a gente pensar que não precisa de nada mais.
Ao ler o seu texto revivi aquele momento e a certeza desse cuidado preenche o meu ser de felicidade e muita paz...
Obrigada André!