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Há pessoas que têm a incompreensível capacidade de morrer aos nossos olhos, mas continuar vivendo dentro de nós. E, não apenas vivem. Acomodam-se confortavelmente nas aconchegantes curvas das nossas lembranças, relaxando preguiçosamente sobre os escombros que deixaram para trás. E ficarão morando aí, indefinidamente. Até que tenhamos a coragem necessária para expedir uma inegociável e definitiva ordem de despejo.
Infelizmente não existe nenhuma lei universal que determine que todo amor deve nascer e morrer ao mesmo tempo. Caso isso fosse algo factível, não haveria dor de amor. E, a bem da verdade, não seria amor, posto que esse sentimento tão complexo, misterioso e sobre o qual sabemos tão pouco, alimenta-se das ondulações de nossos quereres, necessidades e desejos.
É difícil assumir isso, mas ainda não aprendemos o que é amor. Nenhum de nós aprendeu. O que conhecemos desse insondável senhor é a nossa pequena parte envolvida. Sabemos dos comichões na alma, provocados pela existência de um outro alguém em nosso campo de visão, ilusão ou toque. Sabemos da urgência provocada pelo desejo de querer estar perto, junto, dentro. Sabemos da felicidade que a reciprocidade de um amor confesso faz brotar no peito e espalhar-se pelo resto do corpo, em cada um dos mais íntimos cantinhos. Sabemos do que nos parece necessário para nos manter à salvo da solidão, de estar apenas em nossa própria companhia. Sabemos sobre depender, condicionar, relacionar nossa paz interior à certeza de sermos correspondidos.
Esse estado de torpor, letargia e alienação a todo o resto, bem poderia durar para sempre. Bem poderia vir com garantias de validade eterna. Bem poderia nos manter em segurança para o resto da vida. Mas, é preciso saber: amor não é fonte de alegria inesgotável, não tem selo de garantia, nem é feito para nos guardar do perigo.
Amor é um arriscar-se para fora de nós mesmos e saltar para um vale profundo, belíssimo e intocado, sem corda de segurança. Amor é para quem não tem juízo, medo de se descobrir outra pessoa ou apego excessivo a situações de conforto. Amor é bicho selvagem, não se consegue domesticar. E, não, não é de paixão que eu estou falando. É de amor mesmo! Essa invenção maravilhosa das mentes humanas que só se manifesta se houver um compromisso legítimo de alma, corpo e coração.
Não há como considerar tempo de vida os dias que optamos ou aceitamos viver sem amor. Na ausência dele, murchamos, azedamos, perecemos. E no fim dele, queremos encolher, encolher e encolher. Até nos tornarmos do tamanho exato para grudar na pele daquele que nos recusa, descarta, repele. O fim do amor é dor de carne viva. Só vai parar de doer aos poucos. Com o passar do tempo. Com a chegada de outro amor. Então, que tenhamos a coragem de entender que o fim do sofrimento não está nas mãos do outro. O outro foi embora. As mãos que temos são as nossas próprias. Parar de sofrer é, talvez, uma das decisões mais corajosas, fortes e bonitas que podemos tomar. Uma dessas avalanches de lágrimas há de ser a última. Cuidemos para não nos acostumarmos com a dor, a ponto de acharmos que doer e amar é a mesma coisa. Não é! Não é mesmo! De jeito nenhum!
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