Imagem de capa: ArtOfPhotos, Shutterstock
Aos fundos do Parque Quinta Normal em Santiago, há uma antiga estufa do século passado esquecida, fechada para visitação. Só é possível conhecê-la se esgueirando por baixo de uma cerca e pulando um pequeno muro. Sim, bem coisa de moleque aventureiro mesmo. Mas aquele lugar não fazia sentido pra mim visto de fora. Entrar lá, foi descobrir meu jardim secreto de uma infância que eu nunca vivi.
Ali, observando aquela abóbada de ferragens curvas, fiquei um tempo pensando nisso. Na quantidade absurda de lugares que a gente deixa de entrar, nas oportunidades que a gente perde por educação, por medo ou por bom-mocismo. No nosso distanciamento asséptico dos sentimentos, logo deles, tão urgentes em tempos tão estranhos. Não é só com você. Tá todo mundo nessa. Do lado de fora das relações.
Sei lá quando a gente começou com isso. Foi o medo de se machucar, terror do desconhecido ou apenas uma tentativa responsável de sermos emocionalmente mais inteligentes? Fato é que a gente tem observado as relações de fora, avaliando se é prudente, correto ou maduro entrar. E elas vão passando por nós, como um trem que não espera ninguém. É tomá-lo, como um caubói que abandona o cavalo, ou vê-lo partir.
Eu até acredito em sinais, em pistas, mas, certezas? Desconfie. Não estou fazendo apologia ao impulso puramente, nem advogando pela estupidez, só digo que, talvez, a gente esteja exagerando no tempo que passa do lado de fora, em nosso medo de entrar nas relações. Que temor é esse? Se tudo der errado, a saída você já é conhecida.
Já para dentro! Como diria a mãe da gente. Ficar de fora é perigoso. Entrar é perigoso. Viver é perigoso. Pra caramba. Não há caminho seguro. Vibraria o moleque que ainda mora dentro da gente. O sentir é menos exato, mas bem mais real do que o saber. Aquele que observa, pode chegar a entender, mas só quem entra pode viver os presentes que a vida graciosamente escondeu pra gente encontrar.
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