Alan Lima

O indispensável amor próprio não é tudo. Eu preciso ser amado também.

Você precisa gostar de si mesmo. Isso não tem a ver com se achar perfeito, exuberante, sensacional. Mas se você acha que é perfeito, exuberante, sensacional, tudo bem também. Desde que isso não te crie um excessivo ar de superioridade, está liberado, como diria minha mãe ou o Neymar, ser TOP.

Acontece que este tal de amor próprio não nasce do nada, de uma força de vontade mágica e restritamente interna. Não sei se você conhece uma pessoa que é sempre violentada em suas relações e ainda sim se ama absurdamente. Eu não conheço. As pessoas que vejo com boa autoestima estão cercadas de bom afeto.

Apesar de existir um discurso que nos individualiza constantemente, acredito que somos seres sociáveis. Aprendemos a ser bípedes porque estamos inseridos em culturas que as pessoas andam usando as duas pernas. Nos vestimos, seguimos determinadas leis, temos certos gostos culinários. Tudo isto fruto de nossa interação como o mundo.

Mas ai eu recebi uma corrente no WhatsApp dizendo que amor próprio é tudo.

Tudo mesmo.

Toda vez que eu ouço alguém

falando que algo é tudo, me baixa um espírito questionador. Experimentei pesquisar “Amor próprio é tudo” no Google e vi que muita gente concorda. Alias, descobri infinitas campanhas publicitárias, textos de autoajuda, alertando para as pessoas:

TENHAM AMOR PRÓPRIO. SE AMEM.

Costumamos optar pelo discurso mais fácil mesmo que ele não funcione na pratica. Se há tanto aconselhamento sobre ter amor próprio, por que não temos? Por que basta uma corrida de olho na timeline das redes sociais pra descobrir uma serie de pessoas reclamando de baixa autoestima?

AINDA. SE HÁ TANTO APELO PUBLICITÁRIO PARA QUE AS PESSOAS AMEM A SI MESMAS, NÃO SERIA POR A PUBLICIDADE ENXERGAR QUE AS PESSOAS NÃO ESTEJAM SE AMANDO?

Se eu não me sentir amado por ninguém, seria no mínimo doentio da minha parte ter amor próprio exuberante. Uma fuga da realidade. Esperar que alguém tenha muito amor próprio sem ser amado por ninguém, é como esperar que uma criança fale hindu nascendo cercada de gente que fala o português do Ceara. O amor, assim como o idioma materno, é um fenômeno social.

Autoestima. Amor próprio. Tudo isso pode ser construído. Talvez um caminho seja aprender a estabelecer boas relações com as pessoas que nos cercam. Também reconhecer nelas qualidades e sermos assertivos em seus defeitos. Assim, elas também estarão mais aptas a retribuir com afeto de qualidade. Baixar as relações de competição e aumentar as de colaboração ajuda na construção da autoimagem de todos.

Ah.

Tem gente que não tem jeito, viu? Fica esperto. Tem gente que só quer te desgraçar mesmo, seja lá qual for o motivo, não permita. Foge disso. Por favor.

Amor próprio é indispensável. Mas não é tudo. Ser esperto pra mandar uma galera ai para o raio que o parta ajuda muito também.

E outra. Como disse Francisco, para alguns São Francisco de Assis, é dando amor que se recebe amor.

Observação: Caso seja dessas pessoas que amam alguém e precisem morder para demonstrar isso, peça permissão antes, se a pessoa permitir, aproveita e taca-lhe os dentes que o amor próprio, neste caso, nasce de uma mordida própria.

Imagem de capa: SimonVera, Shutterstock

Alan Lima

"Escrevo porque fui alfabetizado um dia. Nada é meu, tudo é aprendido. Sou um autor de textos de todo mundo. O meu texto é pra ser isso, é pra ser teu." Um dos editores do Conti Outra e integrante do fan club de gifs de cachorros.

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