Imagem de capa: popovartem.com, Shutterstock
Andava distraidamente naquele dia como andava em todos os demais dias. Sem necessidade de pensar muito no que fazia. Afinal, eu era apenas uma pessoa comum, em um lugar comum, fazendo uma atividade que à mim era comum. Em dado momento me aproximei de uma esquina. Aquela esquina. Parei. Precisava olhar para os lados antes de atravessá-la. Foi quando olhei para a esquina de cima. O sinal de lá acabara de fechar. E você, era o primeiro da fila a esperar com seu veículo. Percebi que era você porque no momento em que olhei, você se assustou e virou o rosto, na vã tentativa de me mostrar que não me vira. Sua tentativa de disfarce acabou por te denunciar.
O sinal fechar no momento em que você seguia com seu veículo. Eu atravessar a rua no momento em que seu sinal fechara. Nossos olhos se cruzarem no momento em que eu, distraída, me preparava para passar por aquela esquina. O relógio marcando o mesmo tempo. A geografia marcando o mesmo lugar. Fiquei a pensar em quantos acasos foram necessários para que aquele acaso ocorresse. Talvez muitos. Ou nenhum. Talvez aquilo não significasse muito, afinal.
Por um momento, após te olhar por uma fração de segundos, estive titubeante sobre qual atitude tomar. Mas logo percebi que seguir em frente não era só a melhor como era também a única alternativa plausível. E então atravessei a rua sem olhar pra trás, deixando ali um passado recente que se tornava cada vez mais distante.
Naquela esquina, nossas vidas, agora tão indiferentes uma à outra, se cruzaram mais uma vez. Mas elas não se tocaram e algo me disse que nunca mais se tocariam.
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