Ju Farias

Todo o tempo do mundo

Imagem de capa: Mettus, Shutterstock

Esperar ela chegar é como estar na montanha russa parada – pouquíssimo tempo antes do lopping. Entre a porta e a mesa onde estou, olha só, existe um buraco imenso. É o mesmo buraco que ronda meu estômago, que se estremece entre o segundo que passou e o próximo minuto.

Continuo parada no primeiro carrinho da montanha russa. Aquele que sente a descida primeiro que os outros. Sempre escolho o primeiro carrinho. Pedi uma cerveja, faz frio aqui dentro e o cheiro de mofo entope meu nariz.

Bar antigo, tudo de madeira, sabe? Na parede bem na minha frente, além dos furos e rasgos do tempo, tem uma frase que diz assim: “Aqui só senta quem souber sonhar”. Ora, meu querido, estamos mesmo no lugar certo.

O relógio passa devagar. 21h37 e parece que estou aqui desde a vida passada. Bebo mais uns goles que é para o estômago parar de dançar. Ainda nem começou a música, ainda nem anoiteceu direito, ainda mal consigo olhar para a porta que ela vai entrar.

Ora, logo tu que nunca se deixou levar? Agora se vê na beira da estrada que leva a um belo paraíso. E me questiono se vou, se fico, se corro ou se me demoro na loucura de te esperar.

Bobagem, mesmo antes de beber eu já estava de porre. Há meses me embriago do sorriso dela. Ei, silêncio! A porta se abriu por inteiro e o estômago deu a volta ao mundo em menos de 60 segundos.

É ela, é ela! Chegou sorrindo pra mim, leve, tão leve feito a brisa dessa noite bonita. Os passos são lentos, tão lentos que parecem nem existir. O mundo ficou mudo, dei pause na vida só para vê-la chegar mais perto.

Um abraço apertado, demorado, colado. Ninguém vai ter coragem de me arrancar daqui, ora bolas, quem seria maluco para me tirar desse abraço macio? Senta, amor, senta aqui do meu lado.

Agora me conta o que aconteceu nesses anos todos em que você sumiu. Pode falar com calma, pois tenho tempo. Tenho a noite inteira para ouvir você. Tenho todo o tempo do mundo para sentir você.

E tenho todo o tempo que me resta para amar você.

Ju Farias

Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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