Imagem de capa: PATCHAREE SISUWONG, Shutterstock
A alma humana é alimentada por pequenas fagulhas de desejo. São essas fagulhas que fazem nascer e atiçam as chamas que nos impelem a descobrir caminhos; nos deixam encantados diante do desconhecido; nos fortalecem para enfrentar as dificuldades e receber com humildade nossas conquistas.
O mundo visualiza em nós a chama da alma, através do brilho que exibimos nos olhos a cada vez que ficamos despertos e interessados em alguma coisa que nos tira do conforto dos caminhos já trilhados; das tarefas concluídas; das vitórias saboreadas; das sensações já conhecidas. Os olhos brilham graças aos desafios.
Os desafios são o vento soprando diretamente nas chamas. Ainda que o que haja em nós seja nada mais do que uma pequena brasa incandescente, o sopro do desafio tem esse poder mágico e real de reacender em nós o gosto pelas coisas novas; pelo que ainda não temos, sabemos ou conhecemos.
É o desconhecido que nos chama para atravessar o limite que nossas certezas traçam para nos conter. Contidos em nossas confortáveis pseudoverdades, acabamos por acreditar que aquilo que é diferente nos coloca em risco. No entanto, é justamente o diferente que nos concede a liberdade da mudança, de trocar de lugar, de ideia, de vontade.
O diferente é o nosso outro lado, aquela nossa parte que conhecemos tão pouco a ponto de precisarmos ser apresentados a ela. O outro lado que habita em nós é feito de porções de sentimentos, pensamentos ou sonhos, que vamos guardando bem arrumadinhos em gavetas fechadas a chave, qual um diário de histórias secretas.
A chave para nossa vida secreta é exatamente a coragem de buscar conhecê-la. Pode ser, até, que ela esteja aí, nesse cantinho tão bem guardado, junto a todas as aventuras que não vivemos; das palavras atrevidas que calamos; dos desejos que não realizamos. A chave, a aventura, a palavra e o desejo são o combustível de que precisamos para que nossa alma mantenha alguma fagulha de vida.
E, no caso dessa fagulha estar em risco de virar uma pedrinha endurecida pelo fogo que deixou de arder há tanto tempo, cabe a nós buscar dentro do peito alguma força que nos ajude a pensar num jeito de idealizar uma nova fonte de calor, inquietação ou ousadia. Porque não há vida que permaneça fria diante de um coração determinado a redescobrir a luz.
Assim, é indispensável que nunca nos conformemos com uma vida sem calor; com dias sem brilho; com rotinas que congelam o desejo de viver. Quem está vivo, precisa honrar a sua história sobre o chão desse planeta. Quem está vivo, precisa contagiar de vida o seu semelhante e o seu diferente. Precisa desencavar de dentro do próprio peito aquela chama original que desconhece o medo e acredita que não há olho que brilhe se não houver uma alma em chamas.
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