Imagem de capa: areebarbar, Shutterstock
Quantas vezes você já tentou conter ou esconder a tristeza? Desde que somos pequenos recebemos mensagens por parte da sociedade dizendo que não podemos nos permitir estar tristes, que temos que ser corajosos, que temos que ser fortes em todo momento, que não podemos falhar, que não aprendemos nada com a tristeza… e que a alegria é a única emoção desejável e que nos faz bem. Uma alegria, claro, também contida: nada de euforia.
Claro que a tristeza é uma emoção de valência negativa, mas… e se a convertermos em uma emoção que nos proporcione algo positivo, e se formos capazes de aceitá-la como emoção e aprender com ela? E se em vez de encarcerá-la, dermos um pouco de espaço a ela?
A tristeza: uma emoção básica
Perder um familiar, terminar um relacionamento, perder o emprego, descobrir uma doença, quando não cumprimos as expectativas que criamos para nós mesmos… essas são algumas das situações que costumam nos fazer sentir tristeza. É verdade que muitas vezes não é uma tristeza instantânea, já que nos primeiros momentos, o que surge é raiva dessas forças que deram origem à perda.
Uma diferença muito importante é a que existe entre a tristeza e a depressão. Essa última não é uma emoção, é uma doença que vai mais além de um momento pontual e, para ser diagnosticada, é preciso um estado de tristeza contínua e mais intensa associada a outros sintomas. Apesar dessa diferença, que é muito importante, a tristeza é vista de uma forma parecida a como se entende a depressão, de forma que o que muitas pessoas fazem é tentar acabar com ela.
Se, além de estar muito triste durante um tempo, a pessoa experimenta transtornos do sono, incapacidade para sentir prazer com atividades que antes eram prazerosas, ausência de vontade para praticar suas atividades diárias, falta de concentração, sentimentos de culpa… não tenha dúvida: é hora de buscar ajuda profissional.
No entanto, a tristeza por si só, como emoção, é uma oportunidade única para nos conhecermos. Uma emoção que alguns estudos relacionam com uma maior ativação do nosso corpo para que possamos responder depois de uma perda. Além disso, é uma emoção que, por si mesma, exige o apoio e a ajuda das pessoas queridas, e não de um tratamento clínico.
“Às vezes as coisas correm mal e não é culpa de ninguém. Mas todos querem um porquê. Um motivo. Algo que possam embrulhar, colocar um laço e enterrar no jardim. Enterrar tão fundo que parece que nunca aconteceu”.
-O Mundo de Leland-
As lágrimas
Com a quantidade de lágrimas que nós seres humanos derramamos, ainda não conseguimos conhecer nada sobre o mistério contido nelas, mesmo que todos os estudos apontem que, como seres sociais que somos, elas cumprem uma função de liberação e de comunicação com os outros para buscar consolo.
Por trás delas, o habitual é que exista uma rede complexa de emoções, mais do que apenas uma. As circunstâncias nas quais podemos chorar também são muitas: podemos chorar de felicidade, por empatia com as pessoas que nos rodeiam, de raiva e até mesmo vendo um filme que nos emociona. Cada lágrima conta uma história que é importante para nós.
Por isso, contê-las ou enxergá-las como inimigas não nos torna pessoas mais fortes ou melhores, estamos simplesmente nos comportando com base no que os outros podem opinar sobre elas. E nesse ponto devemos nos perguntar: por acaso essa pessoa nunca chorou? Se nunca chorou, alguma coisa está errada.
Chorar nos acalma, reduz nossos níveis de ansiedade, faz com que respiremos melhor, que sejamos fiéis ao que sentimos, que nos conectemos com os outros e, além de tudo isso, faz com que eliminemos bactérias protegendo o nosso organismo. Então que mal há nas lágrimas?
Não chore, seja forte
Se choramos com facilidade, quantas vezes na nossa vida ouvimos alguém censurar a nossa necessidade de colocar as emoções para fora? Que temos que ser fortes diante de todos, que chorar é para pessoas fracas, que é ridículo ou, pior, que somos infantis por fazer isso. Além disso, de tanto escutar essa resposta, nós mesmos chegamos a interiorizá-las. Assim, nos transformamos nos primeiros a censurar as nossas lágrimas.
Podemos compreender em algumas ocasiões por que nos dizem isso. Talvez não digam com má intenção, no final das contas são frases que escutamos e aprendemos desde que somos crianças e que se incorporam no nosso repertório. Nós as construímos e compartilhamos de forma automática, sem reparar nelas.
No entanto, como dissemos anteriormente, seu efeito não é inócuo. A aceitação e a socialização dessa mensagem é o terreno fértil para que cale as novas gerações que herdam o produto dos nossos passos. Assim, as crianças não costumam tardar a incorporar essa censura que os adultos lhe propõem, como se fazer isso fosse um passo necessário para a adolescência e a fase adulta.
Temos uma responsabilidade com elas e com nós mesmos: a de entender o papel das emoções, sejam de que valência forem. Trata-se de aceitá-las e de deixar que elas tomem ar para que possam desempenhar seu papel reparador ou seu papel motivador. Por outro lado, teoricamente pode ser bastante didático separar a nossa parte emocional da nossa parte mais lógica; no entanto, a nível funcional não podemos esquecer que os processos costumam se misturar, fazendo com que o todo tenha um resultado muito distinto ao que poderíamos imaginar com a soma das partes.
Definitivamente, a tristeza é mais uma das nossas emoções, e bem usada e bem pensada, é uma das nossas grandes aliadas. Por isso, não a transforme em uma inimiga iniciando uma batalha contra ela, porque nesses casos, o único resultado possível é um sofrimento ainda mais intenso ou desencorajador.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa
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