Imagem de capa: ANURAK PONGPATIMET, Shuttertock
Quero uma vida carinhosa. Macia comigo. Quero que a vida seja mais acolhida do que menosprezo, mais preocupação do que indiferença, mais compaixão do que neutralidade.
Quero que a vida seja o que deve ser, mas que seja cuidadosa. Que minhas quedas encontrem mãos estendidas, que meus desamores sejam delicados, que as despedidas sejam doces.
Quero uma vida mãe atenta e permissiva, não autoritária. Uma vida professora, que educa movida pela paixão e não pela obrigação. Que sabe que brincar é tão importante quanto entender. Que sabe que um sorriso e um gesto positivo valem mais do que uma repreensão.
Que a vida seja uma educadora que respeita os diferentes ritmos. Que ela me ensine pela curiosidade e não pelo medo. Pois minha raça é frágil, lenta e distraída.
Que a vida aceite com ternura o meu déficit de atenção perante as coisas do mundo, que perdoe a minha distração frente aqueles ensinamentos chatos e importantes. Que ela aceite essa minha estranha vocação para ser livre.
Quero uma vida que me ensina pelo exemplo, pela inspiração, que me faz querer estar ainda mais viva, que me sirva de espelho.
Quero uma vida que olha nos meus olhos firme e desarmada. Eu prometo tentar entende-la sempre, mesmo quando ela vier trazendo más notícias. Prometo ser forte e leve e não me desapontar com ela.
Mas, por favor, que ela venha com tato e cautela me contar seus pungentes segredos.
Quero que a vida saiba que eu sou força e coragem e por isso não dissimule comigo. Quero que ela saiba que eu também sou solidão e fragilidade, e por isso me conduza com zelo e dedicação.
Que a vida siga seu percurso como deve ser, sem defesas, mas também sem ataques.
Eu trato a vida como quem cuida de cachorrinho novo, cheia de alegria no olhar por deixa-la livre para seguir e protegida para ficar.
Que a vida me trate da mesma forma.
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