Imagem de capa: dachazworks, Shutterstock
Foi dia desses. Alguém me vociferou babando, os dentes arreganhados, a pelagem eriçada, o sangue explodindo nos olhos: “quem não quiser se prender a alguém, que fique solteiro”. Era uma dessas pessoas muito certas de que já viram de tudo e que o resto do mundo deve aceitar as suas regras e ponto final. Incapaz de ouvir, recusou-se a poderar o quanto as expressões “prender” e “amar” são antagônicas e inconciliáveis.
Nosso diálogo foi impossível. Virou conversa de surdos que desconhecem as línguas de sinais e nasceram em países diferentes. Fazer o quê? Eu disse que ninguém devia se acorrentar ao ser amado e jogar a chave fora para preservar a relação amorosa. A pessoa concluiu que eu pertenço à categoria dos desprovidos de vergonha na cara, um defensor descarado do “amor livre”.
Pobre alma. Ignora que amor livre é mera redundância, que todo amor é sinônimo de liberdade e que os que tentam prender o outro em sua companhia padecem de um caso de dependência e perversão que nada tem a ver com o sentimento amoroso.
Deixei pra lá. Fosse meu interlocutor uma alma mais fácil, considerava que quem precisa prender alguém a seu lado tem um prisioneiro. Não um amor. Quem ama fica com alguém porque quer, jamais porque foi obrigado a tal.
Meu antagonista que fique com suas certezas. E que Deus proteja os desavisados que ele tentar encarcerar pela vida.
Eu sigo daqui, às voltas com a minha impressão de que amando a gente aprende a cuidar bem do outro como bem cuidamos de nós mesmos. Não a prendê-lo em lugar seguro, ao alcance de nossas vistas e nossas garras. Longe do mundo que a todos cabe e onde todos somos livres para tudo. Até para escolher com quem queremos caminhar por aí.
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