Imagem de capa: Archv, Shutterstock
Coisas ruins também acontecem com pessoas boas. Porque o destino é arbitrário, o mundo é cego, e o egoísmo às vezes é muito afiado. Contudo, as pessoas nobres jamais renunciam às suas raízes apesar das decepções, porque quem pensa com o coração não entende de desprezo nem de razões frias.
Todos conhecemos pessoas com esse perfil. Não só isso, cada vez que vemos um gesto de nobreza, de altruísmo desinteressado ou uma atitude heróica, a maioria de nós se sente inspirado ou mesmo reconciliado com o próprio mundo. Uma coisa muito parecida aconteceu há pouco tempo, no dramático atentado no coração de Londres no último 22 de março.
“Uma grama de bondade vale mais do que uma tonelada de intelecto.”
-Alejandro Jodorowsky-
Tobias Ellwood, vice-secretário parlamentar do Ministério de Relações Exteriores, não teve dúvida em deixar o Parlamento de Westminster apesar das recomendações. Queria prestar ajuda. Durante vários minutos fez o possível para salvar a vida de um policial ferido, pressionando a ferida e fazendo a respiração boca a boca até a chegada de um helicóptero. Não foi possível. Os seus gestos de impotência e desespero por não conseguir salvá-lo deram a volta ao mundo.
Todos empatizamos com a sua dor. No dia seguinte, todo o espectro político elogiou a sua capacidade de reação diante do resto, e a determinação que muito além do medo, o alarde ou a indecisão, fez com que agisse com a determinação de quem apenas anseia ajudar, de quem prioriza os outros acima de tudo.
Pessoas boas: é melhor se sentir bem ou fazer o bem?
A pergunta pode parecer um tanto estranha: o que é melhor? Investir no próprio bem-estar ou priorizar o bem-estar alheio? É muito provável que muitos dos leitores digam a si mesmos que a resposta é fácil, já que uma coisa tão simples como fazer o bem já reverte no próprio equilíbrio e satisfação pessoal. Contudo, esta conclusão não é tão evidente para os especialistas. De fato, esta mesma ideia intrigou durante vários anos os especialistas em comportamento humano.
O que nos mostram as pesquisas
Os pesquisadores da UCLA (Universidade da Califórnia) realizaram uma interessante pesquisa onde puderam concluir que existem dois tipos de propósitos vitais no ser humano, e que cada um deles tem implicações biológicas.
Estes são os dados.
– Há pessoas que se caracterizam por aspirar por um bem-estar hedonista. Isto é, um tipo de felicidade que tem a sua origem exclusivamente na satisfação própria, na busca existencial do próprio bem-estar.
– Por outro lado, também se definiu o que se conhece como “bem-estar eudaimônico“. Trata-se de outro tipo de propósito muito mais profundo e elevado, no qual a pessoa procura se desenvolver e crescer para dar o melhor de si aos outros.
Conclusões
A pesquisa concluiu que as pessoas com uma clara pré-disposição eudaimônica (tem os outros em um dos lugares mais elevados da sua escala de prioridades), tinham um sistema imunológico mais forte. Comprovou-se que desenvolviam menos inflamações e que tinham maior número de anticorpos, sinônimo de um sistema imunológico mais forte.
De forma semelhante, a nível psicológico foi possível comprovar que eram perfis de fortes convicções. Não importava quantas vezes a vida os tivesse derrubado, as decepções vividas ou as perdas sofridas. Continuavam pensando com o coração, continuavam priorizando os outros e confiando na própria nobreza do ser humano.
Por outro lado, os indivíduos hedonistas demonstraram ter um menor número de anticorpos, um sistema imunológico mais fraco e uma personalidade mais errática, volúvel e variável.
Apesar de tudo, pensar e agir com o coração vale a pena
É provável que muitos de nós tenhamos passado por uma fase em que a nossa própria aspiração existencial tenha sido puramente hedônica. Longe de vê-la como o claro reflexo de um ato de egoísmo, é preciso entendê-la como uma etapa a mais do nosso próprio crescimento pessoal. Às vezes, somos simples exploradores. Queremos experimentar, nos deixar abraçar pela vida, aspirá-la, nos regozijar e consumi-la em grandes bocados.
“O único símbolo de superioridade que conheço é a bondade.”
-Beethoven-
Contudo, pouco a pouco vamos ascendendo na pirâmide de nossas necessidades até compreender que somos um todo interligado, uma maravilhosa e complexa trama inter-relacionada onde nossos atos repercutem nos outros. Fazer o bem, agir com o coração, é acrescentar harmonia ao caos, é ser um farol em meio à escuridão ou à confusão, como fez o parlamentar Ellwood tentando salvar a vida de Keith Palmer, o policial apunhalado pelo terrorista.
Acredite ou não, o fato de sermos pessoas boas não exige que sejamos heróis, não demanda nos envolvermos na realização de ações arriscadas pelos outros, nem pede que agrademos à humanidade toda do planeta. As pessoas boas fazem acontecer todo dia, são discretas, mas luminosas, silenciosas mas alegres, humildes mas imensas, como seu próprio coração.
Devemos semear com bondade e respeito nossos atos cotidianos, colocando nosso olhar nas menores coisas. Assim, quando chegar a oportunidade de realizar grandes mudanças, o movimento que já criamos irá nos ajudar. É neste horizonte de trabalho cotidiano que o bem-estar está acima do simples hedonismo e onde poderemos ser uma fonte de inspiração que contagia o mundo.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa
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