Imagem de capa: Stas Ponomarencko, Shutterstock
Ela sempre teve certeza da vida, até o olhar cruzar com dele. Ela estava bem, tranquila, vivendo sua vida como deveria. Estava tudo na mais perfeita ordem, na mais perfeita sintonia, numa rotina sem altos e baixos. Os dias se desenrolavam sem grandes emoções – frustrações, tampouco. Então eles se encontraram, num corredor de mercado.
Foi por acaso, por ironia, por destino? Não é fácil rotular, mas ele estava lá. O olhar penetrou fundo nos olhos dela e ela, quase momentaneamente, esqueceu da ordem, da sintonia, da rotina. Esqueceu-se de si, esqueceu de casa. Esqueceu das pessoas. Ali, naquele pequeno espaço, naquele corredor de supermercado, eram somente os dois, uma troca de olhares e uma vontade infinita.
A vida foi se encaixando e, logo, descobriram trabalhar para o mesmo lugar. Os olhares continuavam se cruzando, o interesse continuava aumentando. Ela, impulsiva, resolveu ir atrás do rapaz. Ele, feliz, pediu telefone e começaram a conversar. Era questão de tempo para que ele e ela selassem esse amor que tinha crescido num simples piscar e sorrir.
Um beijo e tudo estaria perdido.
E o beijo veio roubado, quando ele a deixava em seu destino. Ela sentiu-se culpada, mas entregue. Ele sentiu-se culpado, mas feliz. E ambos se descobriram apaixonados, intensos, loucos para viver esse amor, esquecendo que a vida é cheia de empecilhos que impendem o felizes-para-sempre.
Ela ficou cheia de interrogações, sem saber se fugia de casa e vivia o grande o amor, ou se mantinha tudo como estava, num relacionamento tranquilo e confortável. Ele mandava lembranças, levava camarões – sua comida favorita no mundo – e roubava sorrisos, beijos e suspiros.
Eles vivem nessa troca de olhares, tem meses. Ela se entrega e recua. Ele se joga e recua. A interrogação sempre ali, rondando. A incerteza sempre ali, assustando. E os olhares… Ah, os olhares… Sempre denunciando, se entregando, amando…
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