Imagem de capa: Gloriole, Shutterstock
Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua
Você me procurou para contar um sonho que teve comigo. Para isso, queria me ver pessoalmente e me contar com detalhes. Relutei até aceitar o seu convite. Não queria mexer na ferida, que já estava há muito tempo cicatrizada. Tinha medo de, ao te ver, reviver o mesmo sentimento que tinha por ele. Temia me ver novamente apaixonada e, mais do que isso, temia que você fosse o mesmo que me machucara antes.
Felizmente, o mundo dá voltas. E nós somos os próprios capitães que guiam o destino desse trajeto. Mesmo tendo sofrido muito com esse relacionamento, o sentimento ainda persistiu por muitos e muitos dias. Foi além da distância, física e emocional. Foi além do seu descaso. No entanto, com o tempo, o sentimento se transformou em amor próprio e segurança. E aí, mesmo no reencontro, ele não foi capaz de me desestabilizar.
Pelo contrário, agora quem não quer mais sou eu. Agora, eu que não dou conta de suportar a sua bipolaridade. Não consigo me anular para cumprir as suas vontades mimadas. Não aceito desculpas esfarrapadas, nãos mal justificados, silêncios sem explicações. Você continua o mesmo que me machucou há alguns anos. Nada mudou. Contudo, a grande mudança parte do lado de cá: eu já não sou mais a mesma. Ainda bem.
Na nossa conversa, apenas você. O assunto foi você, os seus problemas, os livros que você lê, os lugares que frequenta. Quanto a mim, uma mera coadjuvante mais uma vez. Na posição de espectadora, como já era antes. No entanto, dessa vez, a espectadora decidiu se tornar protagonista. Decidiu o que poderia aceitar e o quanto poderia se anular para que a situação fosse adiante. Decidiu que aquele seria o último reencontro de nós dois. Não havia mais espaço para tanto ego, no lugar de amor.
Por fim, você acabou não contando o sonho que tanto queria. Nos despedimos com um beijo no rosto e a certeza de que, um relacionamento não vive de sonhos. Mais do que isso, não vive de ilusões. Quanto às minhas, já estão todas esgotadas. Prefiro me ater à realidade e nela, felizmente, você não está mais incluso. Já é tarde demais.
Fonte indicada: Sem Travas na Língua
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