Imagem de capa: Alexandr23, Shutterstock
Admiro aquela frase de Jabor que diz: “A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida”. A expressão de cuidado começa quando o outro se preocupa. E isso não tem nada a ver com supremacia. Talvez eu tenha uma visão diferente sobre o amor, com relação à outras pessoas. Mas gosto da forma como eu o defino. Sou por natureza romântica incurável. Tenho premência de cuidado extremo e a todo momento. Não por falta de independência, há horas que somente minha companhia é o suficiente. A vida já esfola tanto, já machuca, maltrata. O que seria de nós sem nossas exigências de afeto? Bem diz Kid Abelha, jogue suas mãos para o céu, agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que, estivesse sempre com você, na rua, na chuva, na fazenda… Ou numa casinha de sapê. Deixa cuidar. Deixa invadir. Deixa fazer parte. Deixa ser parte de dois, que seja um.
Venho de um estilo de vida que difere daquilo que dizem os zodíacos, estrelas, mapas, e previsões. Livre arbítrio foi nos dado para sermos, e se somos, que sejamos aquilo que construímos peculiarmente, em uma luta individual com nossas próprias limitações e convicções, uma discussão íntima conosco mesmo do que é certo e errado. O que você é agora, pode ter alguma ponta de influência familiar ou condição, mas você tem sua particularidade. E essa, você moldou à sua maneira, diante de situações vividas ou presenciadas.
Acredito nos pequenos gestos. E acredito porque hoje a vida se tornou tão capitalista, colossal. As manifestações afáveis tornaram-se frívolas. Eu acredito nos bilhetes, que anunciam o cheiro do café fresco e o deleite das rosquinhas, deixados antes de sair para o trabalho. Acredito no beijo que delicadamente se alastra pela testa, enquanto se dorme. Eu acredito nas palavras como: “É ela!”, ditas à um estranho ou companheiro de longa viagem. Acredito na idolatria de um amor para com o outro, porque isso não o anula, isso o preenche, completa, o satura.
Percebe que o que você é, é um altar particular e que só você tem a chave, só você pode dar livre acesso à alguém. Mas se der, está sujeito à uma bagunça tumultuada que o amor causa de dentro pra fora. Não dá pra abrir só uma janela, o amor é ventania, pesada, que invade, mas também oferta o ar!
Ninguém é igual à alguém, que seja no máximo parecido. Mas até nas semelhanças há autenticidade. Podemos gostar de chocolate, mas eu preferir meio amargo, enquanto você se delicia com a doçura ao extremo. Mas se eu sei que gosta da doçura, oferto-te o que lhe agrada e me oferto o que me agrada, sem me preocupar com discórdias.
Porque o amor é cuidado, mas o amor também é autonomia. Ambos, em dose essencialmente equilibrada. Porque o muito agora é pouco, e o pouco amanhã pode ser muito, ou vice-versa. Sem sentido. Mas quem diz que o amor é lógico? Gosto disso. Ele torna o abstrato algo sedutor e estro.
Acredito naquele amigo que sabe de tuas minuciosas exigências, porque amizade é meio que uma coisa de santo, tem gente que ele bate… E quando o santo bate, ah meu caro, aquela pessoa não precisa nem ter vivido tua infância contigo e nem saber das manias da tua família em churrascos e almoços. Mas você sabe que pode contar, contar tuas neuras sem ser taxado de louco, porque a loucura dele se parece um pouco com a tua. Eu acredito no abraço dado nesse amigo em público, sem olhos de malevolência flutuando em cima. Porque toda amizade precisa de cuidado, pensa que ela é um tipo de amor. Lulu Santos considera justa toda forma de amor, eu também!
Compromisso não é viver em privacidade, se você não tem nada pra esconder do outro. Caso contrário se viveria sozinho. Ou traição seria algo permissível. Quem assume um compromisso não deve se sentir invadido de maneira incômoda pelo outro, já que a chave de acesso ao altar particular foi entregue. Pode ser que eu tenha uma linha de pensamento usurpador. Mas acredito na entrega como algo pleno. Nada precisa ser privativo onde há confiança, e transparência.
Eu acredito ainda, no encontro entre duas pessoas que se amam. Acredito na magia dos olhares que se tocam, que se beijam. Acredito no meu amor quando te vejo encher os olhos d’água ao ver um filme que emociona, porque me encanta tua sensibilidade ainda que reprimida. Acredito no meu ciume como estima. Mesmo que aos olhos seus ou dos outros, este seja grotesco. Acredito no zelo porque já perdi muito por deixar pra lá. Talvez ninguém entenda o porque de ser assim, tão precisada de afago e atenção. Mas, acredite, o amor se encontra nos menores detalhes. E o toque é a melhor atitude.
Acredito na cumplicidade sem medida, na simplicidade tão bonita do gesto. Acredito que nem todo casal que se expõe procura por praga, nem que queira mostrar que tudo anda bem. Porque só crê nisso, quem é ignorante o bastante pra não saber que todo relacionamento traz desavenças. Pensamentos diferentes às vezes se trombam, e ao se trombarem fazem cara feia. São duas origens, dois pontos distintos. Se eu quisesse alguém igual a mim para seguir em frente, pediria um clone. Assim não haveriam discórdias, não haveria medo de perder, não haveria vontade de sair correndo por que o outro não te compreende por vezes. Mas também não haveriam surpresas, nem encantamentos na descoberta de cada dia, porque não haveriam descobertas.
Se depois de tudo isso, houver um desgostar do que antes era incrível, maduro e encantador, poderá chamar incompatibilidade. Ser transparente é correr o risco. É correr o risco de não agradar, perder. Mas tudo tem 50% de chances de ser bom e 50% de chance de ser ruim. Pode ser que eu pense descontentar quando na verdade posso inflamar a chama ainda mais. Porque essa sou eu, sem truques nem caprichos, sem dissimulação ou possessão.
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