Mafê Probst

Não quero motivo para esquecê-las

Lembro-me de Clementine toda vez que vejo uma menina de cabelo azul na rua. Não é sempre, claro, mas vez ou outra aparece uma dessas meninas despreocupadas com a vida e, instantaneamente, vem a imagem de Clementine, com seus cabelos azuis, roubando um pedaço de frango numa praia cheia de neve. Se você não assistiu Eternal Sunshine of the Spotless Mind, provavelmente não está entendendo uma vírgula do que estou falando. Se você assistiu, deve ter aquele risinho tímido de canto de boca, mexendo de leve com a cabeça em sinal de afirmação.

A gente lembra de Clementine quando vê uma menina de cabelo azul (ou laranja) na rua. E vê que cada uma delas são um tanto Clementine, não só pela coloração das madeixas: quem enfrenta os estereótipos para ser Clementine, tem um tanto de uma loucura livre — e invejo um pouco isso. Ao contrário do filme, as cabeças azuladas, alaranjadas, púrpuras, tem um tanto a mais de lembrança do que as cabeças-padrão. Gente que não tem vergonha do mundo acho que vive mais. E quem vive mais, tem mais lembranças para colecionar. E quem tem mais lembranças vivas aposto que não tem motivos para esquecê-las.

Tento me agarrar a esse estereótipo de Clementine que inventei, forçando-me a esquecer da frase que a própria diz no fim do filme: Muitos caras acham que eu sou um conceito e que eu os completo, ou que eu vou mudar vida à eles. Mas eu sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito, porque, na minha concepção, meninas de cabelos azuis são despreocupadas com a vida. Queria eu ter cabelo azul e uma livre loucura qualquer, mas não me enquadro nesse modernismo de vidaloka. Lembrar de Clementine e Joel me remete uma saudade de partes da vida e sinto vontade de rever o filme pela octogésima quinta vez, só para ficar dessa vez e te encontrar em Montauk. O que me lembra que, antes mesmo de “A Culpa é das Estrelas”, o “ok” já era um bocado flerte.

Talvez eu só esteja pensando nisso tudo por causa da menina de cabelo azul que vi hoje. Ou talvez seja culpa da memória que quer apagar histórias que me recuso a esquecer e fico revivendo na esperança que tudo fique nítido outra vez. Ou, talvez, seja as duas coisas.

É. Talvez.

Mafê Probst

Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

Share
Published by
Mafê Probst

Recent Posts

Só os mais atentos conseguem desvendar o 2º rosto dessa ilusão de ótica

Uma nova ilusão de ótica tem desafiado os internautas, com uma imagem que esconde um…

16 horas ago

A comédia romântica da Netflix que promete conquistar seu coração e te levar a lugares paradisíacos

A sequência do aclamado musical “Mamma Mia!” fez sucesso entre os fãs do musical e…

17 horas ago

Hemocentro de cães e gatos convive também com a falta de sangue para salvar os animais

Hemocentro de cães e gatos convive também com a falta de sangue para salvar os…

1 dia ago

Você precisa sempre deixar a casa arrumada? Saiba o que diz a psicologia sobre esse hábito

Ter uma casa impecavelmente organizada pode parecer apenas uma preferência, mas para a psicologia, esse…

2 dias ago

Esta comédia romântica da Netflix tem um charme irresistível que vai derreter seu coração

Prepare-se para uma experiência cinematográfica que mistura romance, nostalgia e os encantos de uma Nova…

2 dias ago

Esportes infantis: equipamentos e acessórios indispensáveis para seu filho brilhar

Saiba o que não pode faltar para que seu filho pratique esportes com conforto

2 dias ago