Lembro-me de Clementine toda vez que vejo uma menina de cabelo azul na rua. Não é sempre, claro, mas vez ou outra aparece uma dessas meninas despreocupadas com a vida e, instantaneamente, vem a imagem de Clementine, com seus cabelos azuis, roubando um pedaço de frango numa praia cheia de neve. Se você não assistiu Eternal Sunshine of the Spotless Mind, provavelmente não está entendendo uma vírgula do que estou falando. Se você assistiu, deve ter aquele risinho tímido de canto de boca, mexendo de leve com a cabeça em sinal de afirmação.
A gente lembra de Clementine quando vê uma menina de cabelo azul (ou laranja) na rua. E vê que cada uma delas são um tanto Clementine, não só pela coloração das madeixas: quem enfrenta os estereótipos para ser Clementine, tem um tanto de uma loucura livre — e invejo um pouco isso. Ao contrário do filme, as cabeças azuladas, alaranjadas, púrpuras, tem um tanto a mais de lembrança do que as cabeças-padrão. Gente que não tem vergonha do mundo acho que vive mais. E quem vive mais, tem mais lembranças para colecionar. E quem tem mais lembranças vivas aposto que não tem motivos para esquecê-las.
Tento me agarrar a esse estereótipo de Clementine que inventei, forçando-me a esquecer da frase que a própria diz no fim do filme: Muitos caras acham que eu sou um conceito e que eu os completo, ou que eu vou mudar vida à eles. Mas eu sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito, porque, na minha concepção, meninas de cabelos azuis são despreocupadas com a vida. Queria eu ter cabelo azul e uma livre loucura qualquer, mas não me enquadro nesse modernismo de vidaloka. Lembrar de Clementine e Joel me remete uma saudade de partes da vida e sinto vontade de rever o filme pela octogésima quinta vez, só para ficar dessa vez e te encontrar em Montauk. O que me lembra que, antes mesmo de “A Culpa é das Estrelas”, o “ok” já era um bocado flerte.
Talvez eu só esteja pensando nisso tudo por causa da menina de cabelo azul que vi hoje. Ou talvez seja culpa da memória que quer apagar histórias que me recuso a esquecer e fico revivendo na esperança que tudo fique nítido outra vez. Ou, talvez, seja as duas coisas.
É. Talvez.
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