Imagem de capa: iiiphevgeniy/shutterstock
Há pouco mais de 10 dias recebi, no Messenger, uma mensagem totalmente sem jeito de um garoto que eu paquerava no Facebook. Homens barbudos quase sempre me atraíram e ele me lembrava de meu irmão (jeito meio molecão de ser). Pele branquinha, olhos levemente caidinhos nas laterais me chamando a atenção para a barba amorenada e com um toque ruivo no queixo. E um sorriso que, nossa! Parecia alto, e de mãos grandes, sabe aquelas bem desenhadas na lateral do dedo polegar e do dedo mindinho, com as veias um tanto aparentes no dorso? Pois é, essas mesmas. Não sei, pode parecer esquisito, mas mãos assim me passam confiança. Começamos a conversar, e ele me pediu o WhatsApp (Glória! – Porque hoje é assim, não tem porque romantizar). Falamos sobre várias coisas, até chegar ao ponto crucial de uma conversa com minha adorável pessoa (só pra descontrair), minha frustração com os homens e meus relacionamentos mal sucedidos ao longo dos últimos dez anos. Mas, incrivelmente, dessa vez não desovei meus casos como num golfo matinal de gravidez. Ao contrário disse que a história era longa e precisaria de uma boa conversa acompanhada de um chopp. BINGO! Além, de garantir que não era um livro aberto. Uau! Nem eu acredito que consegui conduzir inteligentemente uma conversa pelo aplicativo, sem parecer desesperada e dramática, como fui taxada ao mergulhar de cabeça no último inferno astral. Ponto pra mim!
Ele estava bastante interessado em me conhecer, mas foi sutil e inteligente ao conduzir a nossa conversa, também. Ah se todos os homens soubessem que pedir foto, e mandar na lata um “queria te conhecer pessoalmente” sem antes saber se é uma mulher ou um ET por detrás de uma rede social, os rouba qualquer chance, eles seriam tão sensíveis e cuidadosos quanto esse garoto foi comigo. Marcamos um encontro. E esse foi o primeiro depois de só ter olhos para um único, ser. Me arrumei tanto que, depois de meses, me olhei no espelho com orgulho da mulher que refletia. E estava nervosa como se nunca tivesse feito isso na vida. Mas, manter a postura serena para disfarçar o nervosismo me aguçava ainda mais o desconforto barrigal (pra não falar intestinal). Ops! Ele chegou de carro, e atrasado – nisso acho que nunca vou ter sorte, eu sempre termino antes de me arrumar. Quando entrei pela porta, mal consegui olhar pra ele, e ele, me recebeu com aquela voz rouca e máscula de um homem que faz jus a sua barba. Meu Deus! Fomos pra um bar, conversamos, rimos, e eu o surpreendi com meus seis namoros frustrados, e um caso com boi na linha, entre dois chopp’s. Eu discursei mais que o professor de administração financeira e orçamentária dele, da faculdade.
Mas, ele pacientemente me ouviu. E fez questão de contar nos dedos quantas histórias naufragadas ele ouviu naquela mesa. Ele também me contou sobre suas aventuras ébrias e seu único relacionamento malsucedido. Me envergonhei. Mas ainda assim, tenho 2 anos a mais de crédito nas experiências, ele tem 22. Deus me ajude, pensei indo pro banheiro.
Quando saímos do bar, ele procurou um cantinho taciturno para nós. Parou o carro, e a conversa se estendeu até eu dizer que estava com sono e ele se propor a me acordar. Adivinhem! Com um beijo! E eu não havia romantizado isso até escrever esse texto. Disney? É você minha filha? Acordei. Que beijo. Lembram-se das mãos? Branquinhas, macias, grandes, desenhadas, com veias saltadas e um relógio pra acompanhar (no braço ESQUERDO)! Uma barba dos deuses, macia. Um sorriso e uma voz, enternecedores. No dia seguinte nos vimos novamente, mesmo estando meio ausente durante o dia, o que me colocou em certo estado de alerta. Depois do segundo encontro, ele continuou me mandando bom dia, e conversando comigo até o boa noite. Mas hoje, depois de suspirar horrores por ele, eu com muito medo expus minha necessidade de não me envolver. Ele gentilmente concordou e aceitou, propondo uma nova condição.
Você deve estar se perguntando por que eu quis te contar tudo isso. Você não conhece minha história, um currículo de 10 anos em relacionamentos frustrados, de onde não sai perdendo, mas, pelo contrário, acumulei muitos aprendizados, mas certamente você já teve um momento de descrença em seu âmbito amoroso (ou está vivendo isso agora). Depois da última decepção eu simplesmente decidi que as coisas seriam diferentes dali em diante. A situação não mudou. Eu conheci alguém. Porque, por mais que achemos que aquele “amor da vida” seja insubstituível, acredite, ele pode ser único, não insubstituível. Você pode pensar que nunca mais vai sentir o coração bater na boca e as mãos suarem frio, mas você vai. Mesmo que não aceite isso, enquanto estiver de luto. Mas a situação será sempre a mesma, enquanto você não decidir que será diferente. Eu não me fiz de vítima, nem justifiquei meus medos com meus passos em falso. Apenas contei minha história. Me fiz conhecer. Ao invés de colocar em pauta meus descontentamentos passados, deixei que eu fosse o centro. E mesmo estando perdidamente encantada com tudo que conheci, e querer dizer “pelo amor de Deus não vai embora, vamos tentar transformar isso em algo”, eu o atentei a minha necessidade do momento, dando a ele o livre arbítrio de ir se não quiser esperar, e, principalmente, de voltar e ficar se assim quiser.
A gente diz que não quer se envolver, quando na verdade a gente não para de se imaginar rodeada daquele branco dos sonhos, não porque é da geração desapego, mas porque entendeu que tudo é construção. Porque cansou de ser descartável e desvalorizada. E entende que, mesmo precisando olhar um pouco pra si, se aquele alguém realmente quiser estar com você, ele vai te ajudar a se olhar com os olhos dele. Sem pressa. Sem humilhação. Sem cobrança. Sem obrigação. Apenas pelo prazer de estar com você.
Depois de passar pela, sei la, vigésima desesperança, eu gostaria muito que essa fosse a minha chance de fazer diferente. Mas, se não for, haverá outra. Sempre há. Desde que haja também, reciprocidade no querer.
“Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras pessoas. E outras coisas…” (Desconheço autoria).
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