Imagem de capa: Katherine00, Shutterstock
Eu não nasci herdeira de nada. Você, muito provavelmente também não. Bem… até pode ser que você tenha aí a promessa de alguns imóveis, talvez um seguro de vida, alguns bens, uma empresa de família… Isso eu já não sei. Mas, falo por mim.
Eu realmente não nasci herdeira de nada. Meus avós deram um duro danado para criar seus filhos. Meus pais deram um duro danado para criar suas filhas e, tanto eu como meus pais e avós, fomos criados para crer que o que se deixa de mais valioso aos descendentes não é nada que se possa segurar nas mãos.
Bens materiais são coisinhas voláteis; hoje você pode possuí-los e amanhã eles criam asas ou se dissolvem mesmo, bem na sua frente. Dinheiro então! Dinheiro é a coisa nesse mundo que menos aceita desaforo. Duro de ganhar, fácil de gastar, dinheiro é a linguagem universal da espécie humana. Basta observar o quanto as pessoas ficam mais educadinhas quando suas escapadas são punidas com multas em espécie.
Seguindo essa linha de raciocínio, sou levada a pensar no quanto a história de cada um de nós é escrita baseada nos incontáveis desafios a que somos submetidos. A vida é uma espécie de maratona a longo prazo, com inúmeros obstáculos no processo.
O fato é que não importa a nossa classe social, poder financeiro ou a nossa condição cultural; nada disso importa quando o que está em jogo é colocar na balança perdas, danos e vitórias, e tirar dessa equação um saldo, seja ele, positivo ou negativo.
Segundo um dito popular, que pretende analisar a situação mundial da atualidade “Não está fácil para ninguém!”. O fato é que isso não é nada verdadeiro.
Algumas pessoas têm a vida bastante facilitada, na realidade. Algumas, para ser bem sincera, vivem literalmente com seus burrinhos à sombra, enquanto desfrutam das melhores coisas do mundo, com pouquíssimo ou nenhum esforço.
No entanto, voltando à reflexão sobre a inutilidade de juntar coisas, se no momento a situação material anda fácil para alguns e dificílima para outros muitos, nada está garantido para nenhum de nós.
Em última análise, acabo por concluir que a história é mesmo escrita pelos sobreviventes. E sobreviventes somos todos aqueles que não se contentam com vidas medíocres e estereotipadas, pela redutora necessidade de “aparecer bem na foto”.
Sobreviventes somos nós que estamos começando a entender que viver é algo muito maior do que aparentar ser, ter ou dominar. Sobreviventes somos nós, que ousamos sonhar com as possibilidades sem fim de mudar de ideia, de lugar, de vontade.
Entretanto, é preciso tomar um imenso cuidado com o risco de se conformar com a vitória aparente de ter sobrevivido. É preciso fazer desse feito histórico uma saborosa motivação, algo que nos torne aptos para abraçar o que de mais incrível a vida possa oferecer, com braços completos e colos infinitos. É preciso olhar para a frente com a alma de quem escolhe vida em abundância. Honrar a capacidade de ter sobrevivido com o peito repleto de desejos por uma vida que seja inteira.
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