Imagem de capa: guruXOX, Shutterstock

Eu entendo que muita gente não entenda. Quem nunca amou à distância não pode mesmo saber como é se sentir intimamente ligada a alguém que está há quilômetros, horas de voo, dias de estrada, meses de espera da gente. Essa conta não fecha, não é mesmo? Um mais um tem que ser sempre dois, embora nem sempre seja.

Idealmente o que todo mundo quer é o outro ao pronto alcance da mão para aquecê-la, um colo facilmente acessível para onde se possa correr nos dias mais difíceis, beijos estalados como vírgulas e outros demorados encerrando as frases.

Mas nem sempre dá, nem sempre é possível se apaixonar pelo garoto que mora na esquina ou a moça que trabalha no terceiro andar. Às vezes toda a nossa bagagem emocional é extraviada para um país distante. E lá vamos nós, atrás do que é nosso, tentando reunir outra vez tudo o que faz sentido pra nós, numa jornada anti-solitária.

Eu entendo que muita gente confunda meu amar à distância com um amor distante. Meu amor nunca esteve longe. Por todo esse tempo, ele sempre permaneceu em mim. E se faz tão presente quanto é possível nas mensagens, vídeos, bilhetes, surpresas, tickets de correios e passagens aéreas. Parece que o amor constrói mesmo suas pontes. E ele é capaz de obras inimagináveis a partir das miudezas que vai juntando.

Eu entendo que muita gente seja descrente. Que coloquem em xeque nossas horas conversando pelo telefone, sobre assuntos que vão da música oitentista até a saudade quase tátil que sentimos nos dias mais frios. Que pensem que eu poderia estar melhor acompanhada do que deitada com meu tablet no travesseiro ao lado para poder imaginá-lo aqui. Mas eu não posso convencê-los de nada (e nem quero!). Eu só posso dizer que sim, nós existimos, e é maravilhosamente bom agora que posso dizer isso: nós.

Às vezes o garoto por quem temos esperado metade de uma vida mora mesmo ali na esquina, só que de Hong Kong. E algo dentro de nós nos diz que é melhor ter uma pista que vem de longe do que nenhuma possibilidade aparente da existência de alguém tão adorável. Eu jamais abriria mão do que sinto agora.

Se o amor é, como dizem, uma grande viagem, nós só pegamos o caminho mais longo. Se esse não é seu caminho, apenas não o trilhe, ora. Pra mim toda a distância vira poeira quando ele abre a porta e diz me abraçando demorado – Eu estou aqui – e tudo em mim faz sentido.

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

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Diego Engenho Novo

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