Imagem de capa: Rynio Productions, Shutterstock
Dia desses, uma alma raivosa, irascível, portando todos os indícios de que carrega em seu lá dentro um feijão no lugar do cérebro, me acusou de “superficial”, “racista” e “homofóbico”. A todas essas conclusões, o inquilino da verdade impoluta chegou a partir da interpretação de uma crônica que escrevi com o título “Deixe o outro ser o outro. Se lhe faz mal, afaste-se”.
O que para mim era uma simples reflexão sobre a liberdade de escolha em nossas relações pessoais, uma conversa à toa a respeito do nosso direito de deixar quem quer que seja falando sozinho quando nos sentirmos agredidos, virou aos olhos da tal pessoa uma apologia a tudo o que de mal existe no mundo, uma vez que, a partir do meu raciocínio “permissivo”, eu estaria dando ao outro o direito a qualquer tipo de escrotidão e canalhice. Inclusive o racismo e a homofobia.
Naturalmente, não foi o que eu disse. Minha juíza da verdade misturou alhos e bugalhos, mudou contextos e disse o que bem quis só para cumprir com a única tarefa de agredir alguém que, aparentemente, pensa diferente dela. Pura desonestidade intelectual.
Eu podia dormir sem essa. Mas o fato é que a tal pessoa de “gênio forte” tem o inalienável direito a se expressar como quiser. Pena é que tanta gente confunda “liberdade de expressão” com “libertinagem e agressão”. Mas essa é outra história, e para esses casos existe a lei. Tem coisas que não se podem negociar. Por exemplo, tudo aquilo que o bom senso e a inteligência identificarem como crimes.
No entanto, tirando esses casos, a verdade é que “a verdade” não está à venda. Não se pode ser dono dela. Porque simplesmente ela não existe! Cada um tem a sua. Cada qual vive como quer, faz o que quer. E para os que desrespeitarem as regras básicas da vida civilizada, que se cumpram as leis. O resto é só questão de opinião. É tão, mas tão simples!
Minha juíza do bem e do mal vai dizer que eu não tenho “escuta”, que não sei ouvir e essas coisas. Ela só terá esquecido um detalhe: “ter escuta” não quer dizer “concordar” com tudo o que ouvimos. Cada um de nós pode muito bem “saber ouvir” e compreender claramente o que diz o outro. Mas daí a aceitar sem ressalvas o que ouvimos é outra história. Há uma diferença enorme entre “não aceitar opiniões alheias” e discordar do que elas contêm.
Pois não faltam por aí almas irascíveis trocando alhos por bugalhos e afirmando aos berros, o sangue estourando nos olhos, que não suportamos “críticas” e “não sabemos ouvir”. Só porque não concordamos com elas.
São os famosos proprietários da verdade. Merecedores legítimos de uma frase dita sem rodeios: “não, a sua opinião não é a única que vale.” Quem sabe se a repetirmos feito um mantra e na hora certa às almas que a mereçam, ajudemos a cozinhar o feijão que elas carregam no lugar do cérebro. Quem sabe.
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