REFLEXÕES

Vamos ensinar que sem a bondade, a inteligência é cega e desajeitada

Imagem de capa: SUMITH NUNKHAM, Shutterstock

A bondade é transmitida através da carícia que reconforta, do gesto que educa e do exemplo que guia. Se plantarmos em nossos filhos sementes de nobreza, de afeto e de empatia, daremos ao mundo adultos mais fortes, pessoas mais dignas e valentes, capazes de construir seus próprios caminhos.

A verdade é que, por mais que a inteligência emocional esteja na moda, as pessoas continuam dando prioridade aos estudos e trabalhos orientados a potencializar o rendimento das crianças nas matérias escolares mais tradicionais. Algo em que incide, por exemplo, a lei norte-americana “No Child Left Behind” (que nenhuma criança fique para trás), que incentiva os alunos e as famílias a melhorarem seu registro acadêmico, para que não percam os apoios financeiros.

“Um grama de bondade vale mais que uma tonelada de intelecto.”
-Alejandro Jodorowsky-

Esta lei levou ao desenvolvimento de vários trabalhos focados em uma ideia muito simples: desenvolver ao máximo a capacidade das crianças de memorizar. Os próprios estudos são interessantes a partir de um ponto de vista científico, pois investigam os diferentes padrões que o cérebro utiliza para construir relacionamentos, para codificar dados e criar novas memórias.

Agora, o que está acontecendo com este decreto, aprovado na época pelo presidente George W. Bush, é que os professores se sentem pressionados e os alunos se sentem frustrados. É como se o nosso contexto político e social fosse por um lado, enquanto a neurociência, com os resultados derivados do conjunto de estudos neste contexto, gritasse que por esse caminho não.

O cérebro de uma criança precisa de uma educação mais completa e complexa do que a atual, que incide e estimula a prática de estratégias mnésicas. Uma atenção à memória que vai em detrimento do “alicerce” que assenta os conhecimentos, que desperta a curiosidade e que forma a base de uma personalidade forte, madura e feliz.

Se formos capazes de educar, de guiar e de motivar as crianças através da bondade e do reconhecimento, daremos ao mundo uma geração muito mais digna e mais preparada para os desafios que vão ter que enfrentar.

A bondade no cérebro infantil

Vamos começar por esclarecer um aspecto muito importante. Quando um bebê chega ao mundo, ele é incapaz de regular suas emoções, e em seu cérebro não existe nenhuma área onde o conceito da bondade esteja instalado de forma genética. O que existe é uma necessidade inata e natural de “se conectar” com o meio à sua volta, primeiro com seus pais para sobreviver, e mais adiante com seus iguais, para iniciar suas primeiras relações sociais.

Temos que entender que o mundo emocional das crianças segue uma sequência de desenvolvimento específica onde os adultos devem ser seus guias, seus mediadores, e até mesmo seus gestores. A reorganização neurológica de um cérebro infantil é muito complexa, assim, a idade cronológica nem sempre marca uma função, uma capacidade ou uma realização específica. Por isso, devemos ser pacientes para aprender a respeitar o desenvolvimento físico, psicomotor e emocional de cada criança.

Além disso, existe uma série de fatores que irão determinar a qualidade desse desenvolvimento integral em nossos filhos. Quando falamos de ensinar a bondade, não nos referimos apenas a ensinar valores. Falamos também de como esse universo próximo (cheio de carícias, olhares e reconhecimento) configura, sem dúvida, uma conexão capaz de conseguir um melhor desenvolvimento neuronal.

Uma criança pode estabelecer um contato com a bondade desde muito cedo. Ela a percebe através da voz de sua mãe e dos braços de seu pai. Ela nota a bondade quando aprende a falar e é ouvida, quando a guiam com exemplos, quando regulam suas emoções e lhe ensinam a valorizar os outros, a respeitá-los e a respeitar também a si mesma.

A bondade é muito mais do que um valor, é um canal de aprendizagem excepcional.

Chaves para ensinar a bondade

Falamos no início que a linha curricular de muitas escolas acaba por dar prioridade ao rendimento escolar em matérias clássicas em relação à inteligência emocional. Bem, é claro que nenhum de nós vai poder mudar o que a sociedade exige de nós, por isso vale a pena educar emocionalmente os nossos filhos para que eles estejam preparados para estas demandas. Trata-se, portanto, de guiar dentro de casa, de sermos bons gestores emocionais desde que os nossos filhos estão no berço e aos poucos dão os seus primeiros passos.

“Toda demonstração de bondade é um ato de poder.”
-Miguel de Unamuno-

A seguir vamos dar algumas chaves para você conseguir fazer isso.

Ensinar o respeito, ensinar a bondade

Algo muito real e que o livro “Como falar para que as crianças escutem e como escutar para que as crianças falem” nos explica muito bem é que todos somos excelentes pais, até sermos pais. Ou seja, antes de termos filhos, idealizamos a criação e temos uma ideia bastante clara do que faríamos e do que não faríamos. Mais tarde, quando os filhos chegam, a vida real nos dá as “boas-vindas”.

– Para ensinar o respeito e a bondade, é preciso ser paciente. A criação é uma aventura diária, nenhum dia é igual ao outro e as exigências de uma crianças podem mudar de uma hora para outra. O mais importante nestes casos é que nós mesmos sejamos sempre iguais para eles, igualmente acessíveis, igualmente afetuosos, pacientes, com as mesmas regras e os mesmos exemplos a dar.

– Outro conselho que Maria Montessori nos deixou é a necessidade de semear na criança ideias de nobreza desde cedo, mesmo que ela não as entenda. Vai chegar o dia em que essa semente vai dar frutos.

Por último, não podemos esquecer que a bondade é uma das qualidades que melhor reflete a essência humana. Ensinar a bondade é ensinar civismo, é respeitar o outro, é amar a natureza, e não menos importante, amar também a si próprio.

Vamos guiar as crianças neste caminho que dia após dia lhes ajudará, sem dúvida, a ter uma vida mais plena.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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