Ela havia dito a si mesma que iria seguir em frente dessa vez, que não iria mais ficar se lembrando dele a cada hora do seu dia, que não iria reler as mensagens antigas, que não ficaria ouvindo repetidamente aquela música que ele lhe indicou e nem iria ler mais o livro que ele tanto falava como sendo o melhor do mundo. Estava já começando a levantar a cabeça, seus olhos não estavam mais encarando o chão e sim vendo como o azul do céu é tão lindo mesmo nos dias frios, e estava sentindo uma leveza na alma como se todo aquele peso que ele deixou em seus ombros tivesse desaparecido.
Estava sorrindo e chegava a gargalhar até a barriga doer e tudo porque se lembrar dele não era mais capaz de lhe arrancar a felicidade. Seus olhos brilhavam e não havia uma lágrima sequer em nenhum deles, não havia mais traço da tristeza, nem ansiedade queimando no peito e embrulhando seu estômago ao ficar se perguntando onde ele estava, o que estava fazendo e se ainda se lembrava dela. Será que sentia sua falta? Talvez não. Pois se tivesse sentido teria falado algo, nem que fosse para perguntar se tinha esquecido na casa dela aquela camisa vermelha porque a procurou tanto e não achou em lugar nenhum.
Pensar nele agora era raro e nem doía tanto assim, porque seu coração estava começando a entender que ele não merecia ser a saudade mais bonita e dolorosa da vida dela. Logo essa menina que não se entrega nas mãos de ninguém, logo ela que protege o corpo e o coração, logo ela que tem sonhos de construir uma família e ser feliz ao lado da mesma pessoa o resto de seus dias. E ele lhe fez promessas, disse que a levaria para andar pelo mundo só com uma mochila nas costas e dinheiro suficiente no bolso, que a ensinaria a tocar violão, que cantaria para ela todas as noites que ela sentisse falta da casa dos pais e que compraria sorvete sempre que a cólica fosse grande demais para passar só com remédio.
Ele lhe deu possibilidades, eternidades, sonhos, planos, mas o que ele fez? Pegou o que tinha e foi embora. Assim, sem mais e nem menos. Na verdade, a palavra certa seria que ele sumiu, mas ir embora dá na mesma nesse caso porque ele nunca mais voltou. Ou melhor dizendo, não voltou até o dia que ela finalmente havia o superado e dito que estava bem sem ele, e que qualquer apego tinha sido desfeito. Mas aí ele voltou com um sorriso bobo nos lábios que se abriram ao dizer: “Estava com saudades!”. Saudades de quem? Dela? Logo dela que ele se esqueceu de dar feliz natal e ano novo, e agora aparece como se não fosse nada demais.
Ela não é tão ingênua como ele pode pensar, por mais que ela tenha criado diversos discursos e diálogos na mente onde ele se explicava porque tinha sumido, e suas desculpas eram boas o suficiente para voltarem a serem o que eram antes. Mas o problema maior nisso é que ele voltou diferente. Antes ele era um moço mais calmo e sereno, gostava de falar mais de músicas, livros e coisas que faria daqui há cinco anos, porém agora ele estava forçando o bom humor, tentando ser engraçado, um cara legal que fala de coisas legais, que tem amigos loucos e adora rir com eles na madrugada.
Ele mudou, e bom saber que ela também. Mudou ao ponto de ver esse novo “ele” e querer sair correndo. Ela gostava do jeito doce dele, não desse jeito “machão”, gostava da forma que ele falava sobre suas paixões e não quando conta piadas sem graças sobre si mesmo. Ele foi e deixou lá a parte de si por quem ela havia se apaixonado. E tanto que ela chorou pedindo a Deus para que Ele voltasse logo, porque não aguentava essa dúvida sem saber o que tinha acontecido. Agora sabia que o mundo o mudou ou o revelou, e não tinha mais como ter sentimentos com alguém assim.
Seu coração estava agoniado, triste e com medo de se decepcionar mais ainda, queria cortar logo de vez qualquer laço porque não teria como haver um nós com ele. Seria triste mais uma despedida, porém dessa vez ela teria sua chance de dizer adeus e desejar que ele se cuidasse porque não deseja que ele seja infeliz nessa vida, por mais que ele tenha a feito sofrer ela só quer que ele seja feliz e tenha muito amor para dar e receber. Porque ela é assim, nunca se tornou aquilo que a feriu, mas ela é amor e só quer que os outros também sejam.
Imagem de capa: PopTika, Shutterstock
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