Imagem de capa: S_L, Shutterstock
Imaginemos uma pessoa hipotética. Essa pessoa, no caso, seria alguém especial, superior a mim e a você. Superior a todo o resto da humanidade. Ao contrário de nós, reles mortais, a tal pessoa não possui telhados de vidro. O SEU telhado é blindado; seguro, forte, inviolável. E na segurança de sua suposta superioridade, este ser elevado acredita – sem nenhuma dúvida -, que pode nos julgar a todos.
Não se trata de alguém sem pecados, posto que isso não existe. Trata-se de alguém cuja crença não admite erros em si mesma. Ou, na melhor das hipóteses, tem absoluta certeza de que seus erros são pequenos deslizes; ao passo que os erros alheios são indubitavelmente imperdoáveis.
Pecado é uma palavra originada do latim; seu significado mais antigo tinha relação com “tropeçar”. De acordo com a língua hebraica, pecar é algo como “mudar de direção”. Para os gregos antigos, pecar refletia a ideia de “errar o alvo”. Mas foram os romanos convertidos ao cristianismo que agregaram ao pecado o sentido mais carregado de culpa; foi a partir de então que pecado passou a ser algo de cunho religioso, “a violação das leis de Deus”. Foi neste ponto que o pecado passou a ser usado pelos seres humanos para infringir ao outro o sentimento de dolo por seus atos.
Ocorre que nem tudo se enquadra na categoria “pecado”. O que não deixa de ser extremamente curioso. Em verdade, OS SETE PECADOS CAPITAIS – que já foram utilizados como tema de um excelente e perturbador filme estrelado por Brad Pitt e Morgan Freeman -, são tão difíceis de se lembrar quanto o nome dos sete anões ou as sete cores do arco-íris.
Sendo assim, vai aqui uma forcinha. Figuram na lista dos sete pecados capitais: a ira, a gula, a luxúria, a preguiça, a avareza, a soberba e a inveja. Olhando assim, um de cada vez, parecem tão inofensivos, não é mesmo? Ou será que não?
O fato é que os tais SETE PECADOS CAPITAIS, são uma criação da Igreja Católica – mais precisamente do Papa Gregório I, com o intuito de determinar a origem de todos os outros vícios a que estamos sujeitos.
E o outro fato é que a tal lista não faz nenhum sentido, posto que não há um único de nós que tenha a mínima chance de passar por essa vida sem cometê-los todos, inúmeras vezes. Eu, de fato, me arriscaria a dizer que a mãe de todas as nossas mazelas é a hipocrisia; e o pai… bem, o pai pode ser qualquer um, porque com uma mãe dessas não há a menor chance de se dar à luz qualquer coisa que preste.
Façamos, pois, um favor às nossas gerações futuras: deixemos de ser hipócritas! Comecemos por admitir que errar é inerente à nossa constituição embrionária e que a nossa luta para sermos bons é diária e intransferível. Quem sabe, então, não precisemos mais de tantas listas, placas, multas ou ameaças para nos manter na linha… na linha imaginária que nasce em cada um de nós, e que constitui a fibra que há de nos ligar uns aos outros, juntos, na intenção de sermos um pouco mais decentes do que temos sido até hoje.
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