Imagem de capa: racorn, Shutterstock
Poucas sensações podem ser mais expressivas, realizadoras e libertadoras do que a de deixar ir embora os nossos complexos. A expressão do próprio ser e o pensamento de “gosto de mim do jeito que eu sou” agem como verdadeiras armas de poder, como carícias para nossa autoestima e como fortes escudos diante das críticas vazias e os comentários destrutivos.
Até pouco tempo atrás, o assunto dos complexos era um território próprio e exclusivo do jargão psicanalista. Um lugar onde termos como “complexo de Édipo”, “complexo de Bovary” ou “complexo de Electra” definiam um tipo de coringa ou gaveta da bagunça onde colocar qualquer comportamento ou traço de personalidade.
“Não deveríamos eliminar nossos complexos, e sim chegar a um acordo com eles, compreendê-los e evitar que dirijam nossa conduta.”
-Sigmund Freud-
A palavra “complexo” foi introduzida por Carl G. Jung e popularizada mais tarde pela psicanálise freudiana. Contudo, sob essa espessa floresta de terminologias e tentativas de categorizar o comportamento humano existe uma raiz central indiscutível: o sentimento de inferioridade.
Dentro dos objetivos mais básicos da psicologia, poder detectar e compreender a origem dessas respostas que a mente gera diante dos “supostos” defeitos ou crenças autopercebidas é quase como tirar os pregos que seguram a porta de um porão que há tempo está fechado. Estamos falando de um espaço privado onde se respira uma atmosfera que precisa ser ventilada, oxigenada por muitos pontos de vista e pela luz de uma boa autoestima.
Cabe dizer que não é fácil. O processo para quebrar ou reformular esses esquemas de pensamento tão destrutivos requer tempo e muita delicadeza terapêutica. No fim das contas, como disse o próprio Freud uma vez, às vezes sob um determinado complexo pode estar escondido um verdadeiro trauma.
Vejamos este assunto com mais detalhe.
A origem dos complexos: um labirinto de experiências
É curioso se aprofundar na etimologia desses termos que usamos com tanta frequência. A palavra “complexo” deriva do latim “complectere”, e significa abraçar, abarcar. Então, estamos falando de um tipo de abraço de urso, de ficar preso entre suas garras ferozes para formar um único ser, uma mesma entidade onde convivem predador e presa.
De forma semelhante, outro dado que chama bastante a atenção é que qualquer definição de manual diz que os complexos se alimentam dos nossos próprios pensamentos irracionais. Frases como “sou uma baleia graças a todos estes quilos a mais”, “sou um covarde, um avestruz que esconde a cabeça” ou “valho menos que um zero à esquerda” retroalimentam de forma implacável o sentimento de inferioridade.
No entanto, existem aspectos que é preciso esclarecer: esses pensamentos irracionais muitas vezes chegam de situações irreais, pontuais e dolorosamente específicas. A maioria de nossos complexos tem a sua origem na infância. Uma família que desvaloriza seus filhos, que os fere verbalmente através da ironia ou do desprezo, gera profundos traumas.
Mais tarde, esses traumas se consolidam na adolescência. A falta de autoestima e de estratégias úteis para se defender e encarar o assunto faz com que o jovem fique confuso diante desse mundo selvagem de algumas escolas ou institutos. Lugares onde toda carência, peculiaridade física, comportamental ou mesmo “genialidade” é muitas vezes coisificada e cruelmente apontada.
Dizer adeus ao sentimento de inferioridade
O sentimento de inferioridade é um vírus diante do qual é bom desenvolver uma boa imunidade. Caminhar pelas nossas trilhas existenciais com uma autoestima frágil e o autoconceito escondido no porão das nossas mentes provoca graves consequências. Os relacionamentos afetivos, por exemplo, podem se transformar em verdadeiros vínculos de cativeiro, onde a gente tem o poder e o outro cala e consente.
“As pessoas se diferenciam dos animais pela sua possibilidade de sentir complexos, sejam de superioridade ou de inferioridade.”
-Fernando Savater-
Ninguém é mais do que você e você não é mais do que ninguém. Este é um dos melhores lemas para ter em mente no nosso dia a dia, mas as garras desse urso que nos abraça gostam de nos lembrar o tempo todo quão insignificante somos, os defeitos que nos massacram, e que quem se reflete diante do seu espelho não merece sorrir.
Isso não está certo: é preciso confrontar estes esquemas de pensamento.
Dicas para a mudança: recuperar a minha autoestima
Não existe um caminho fácil. Para recuperar a nossa autoestima é preciso caminhar por uma trilha em zigue-zague cheia de pedregulhos, onde somente a força de vontade e a coragem permitirão alcançar um cume. Um topo no qual por fim poder gritar “gosto de mim do jeito que sou, estou bem, sou uma linda pessoa, capaz e digna de construir a minha própria felicidade”.
– Os complexos se nutrem da própria desvalorização. Às vezes esse sentimento de inferioridade foi inoculado pela família, por uma infância ou adolescência complexa. Outras vezes pode ser inata, vinculada a um tipo de personalidade.
– Saber por que pensamos como pensamos e o que fez com que desenvolvêssemos essa atribuição pessoal tão destrutiva é sempre de grande ajuda.
– De forma semelhante, precisamos ter em mente um aspecto: a pessoa que não gosta de si e se desvaloriza é desvalorizada. É preciso mudar o discurso, a atitude, o tom e o trato. Para isso, a primeira coisa a fazer é deixar de se comparar com os outros: a única referência válida a seguir é VOCÊ MESMO.
– Expresse-se. Encontre um canal onde você se sinta bem, onde possa se reafirmar, se descobrir e gostar de si. A dança, o esporte, a pintura ou a escrita são cenários maravilhosos para canalizar emoções.
– Reflita agora sobre os cenários e as pessoas com quem você se relaciona. Elas respeitam você? Permitem que você seja você mesmo? Fazem você se sentir bem?… Às vezes, “reciclar” cenários e pessoas é uma forma de recuperar a autoestima e deixar cair muitos complexos que os outros costumavam reforçar em nós.
Para concluir, lembre-se sempre de que não estamos neste mundo para sofrer ou para trancar nossa maravilhosa essência existencial no cárcere dos complexos. Merecemos ser livres, felizes e autênticos, e acima de tudo, viver a nossa própria realidade, não a que os outros disserem.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa
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