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Fiquei com muito pouco, mas foi o suficiente para seguir em frente

Imagem de capa: Tatjana Kabanova, Shutterstock

Na vida passamos por certos vendavais que parecem nos devastar e nos deixam com muito pouco. Outros ventos parecem ser muito menos perturbadores, embora sua brisa nada agradável possa estar aparecendo de forma constante e sem conceder trégua, tirando-nos a paz. Por outro lado, existem outros ventos que nos devolvem o sentido da própria vida. Ventos de vitalidade que nos trazem o carinho das pessoas que parecem ter nascido para a vida com elas.

Contudo, algumas vezes esses ventos chegam a se transformar em turbilhões muito poderosos e conseguem nos arrastar com eles. Talvez fossemos já um “peso pena” para eles, debilitados por pequenos acontecimentos negativos que nos faziam cambalear sem chegar a cair. Contudo, em outras ocasiões os vendavais chegam quando a gente menos espera e batem com uma brutalidade inesperada arrebatando a paz da vida da gente.

Na hora em que você está no meio dele e pode sentir toda a sua força, pode ter a sensação de que você começa a perder pouco a pouco tudo o que você tinha de certo na sua vida. A sua cabeça começa a dar voltas e chega a ver realidades dolorosas que nunca quis ver (como uma traição ou um abandono), enquanto esses movimentos bruscos de ideias parecem ir assentando outros de maior importância.

É então quando você entende que esse vendaval levou consigo uma parte de você, mas não a melhor. Precisava levá-la dessa forma para que você reagisse assim e procurasse a sua própria paz. É verdade que sofri esses vendavais na minha vida e ainda hoje não estou bem certa de se teria sido melhor que não me chacoalhassem com tanta força. Mas, embora isso seja verdade, também é fato que eles me mostraram o essencial. Fiquei com muito pouco, mas o suficiente para seguir adiante e estar em paz.

Com pouco, mas abrigando paz

Todos já passamos por uma etapa onde parecia que a vida não estava disposta a nos dar trégua, nem um mínimo de margem para que pudéssemos detectar por que tudo parecia tão confuso. Não acredito na lei da atração, mas acredito que quando alguma coisa vai mal, se você não detectar “o que”, a vida não para até você se debruçar nisso. De um jeito ou de outro.

A questão é que todo esse cheiro que você pensou que valia a pena era apenas uma fumaça de cores. Não tinha essência diante da adversidade. Esse sentimento de admiração e mistério por alguma coisa desabou para mostrar-lhe a mediocridade que escondia.

Há momentos em que parecemos perder todos os nossos galhos esplendorosos e flores resplandecentes, como uma árvore de galhos secos. Mas não se esqueça de que existe algo poético na contemplação dessa árvore, seca e desgastada. Ela parece abrigar sempre um desejo, uma esperança, uma promessa.

Parece estar em paz, mas prometendo ir para a batalha logo. Parece que a promessa que abriga a sua extrema aparência raquítica é a sua maior virtude. E acontece, às vezes, que as melhores coisas são as que foram belas e já não se repetem novamente, e as que agora estão mortas mas anunciam a sua intenção de reviver. Nesse plano da existência está o sentido único da vida.

Os galhos que começam a florescer

Parece que é preciso parar de se lamentar. O que sentimos como um tsunami e que levou tudo que pensávamos que nos tornava especiais também levou uma infinidade de coisas sem serventia. Ganhamos consciência disto, aprumamos os ombros e sentimos as costas mais leves.

Tudo se tornou mais espontâneo e mais natural. A hipocrisia já não nos irrita, simplesmente provoca em nós uma gargalhada interna. Não existe melhor resposta para as pessoas que machucaram você, seja por ação, omissão ou tremenda decepção nesta vida do que a indiferença interior que de repente você é capaz de praticar. Você sequer precisa contar isso para os outros. É como aquele sorriso espontâneo que surge com os primeiros ares do amor correspondido.

Os corações apaixonados só se quebram diante de alguma coisa que realmente possa marcá-los para sempre. Alguém inteligente sempre anseia o que teve valor. A covardia não costuma permanecer na lembrança. Isso só lembra você do dano do seu ego, não da dor da perda.

É por isso que as flores começam a renascer. Você percebe que um dia parecia que ia ficar sem nada, mas que todo esse processo era necessário para estar como você está agora. Você sequer tem a mais mínima intenção de culpar. Essa sensação de paz só acontece em contraposição às grandes pancadas. Ou arrasam com você, ou o transformam completamente.

Às vezes é um privilégio se ver sem nada. Ver partir muitas coisas. Nem todo mundo encontra o sentido nesse processo de ver partir enquanto resiste. Esperam poder descobrir, com a sua espera, que tinham razão, e muitas vezes a perdem nesse processo.

A razão desse processo já está colocada no futuro. Você já descobriu o que é realmente importante para seguir adiante. Vai mais leve, o que não significa estar isento de problemas. Mas você volta a estremecer com as carícias do verdadeiro amor e a rir às gargalhadas com as amigas. A aproveitar a sua vida social, e já nem sequer tem a necessidade de demonstrar nada.

O mais maravilhoso de tudo é que você continuou de pé com dignidade e não é mais o mesmo, mas se sente muito melhor. Não anseia por sorrisos do passado. Os atuais já são os que o definem com as coisas boas que estão por vir e que surgiram da clareza derramada pela força desse vendaval.

Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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