Imagem de capa: GlebStock, Shutterstock
Um caso tomou a nossa atenção nos últimos dias – O jogo conhecido como Baleia Azul que recruta jovens para série de 50 desafios e que estimula o suicídio do jogador ao fim das provas tem deixado muitos pais e familiares bastante alarmados.
O jogo chegou ao Brasil recentemente e em apenas alguns dias foram noticiados inúmeras tentativas de suicídio, suicídio e lesões corporais cometidos pelos próprios jovens em vários estados brasileiros e que teriam ligação com a brincadeira.
O nome, Baleia Azul, deriva de um dos itens a serem cumpridos pela vítima que é o de “desenhar” uma baleia azul em seu antebraço com uma lâmina.
A origem do jogo conhecido em inglês por “Blue Whale” não é conhecida, mas os primeiros relatos teriam surgido na Rússia, onde mais de uma centena de suicídios tenham ligação com a brincadeira macabra.
As missões são dadas por um curador que acompanha os resultados. Para participar é necessário ser convidado, e a cada etapa concluída, o curador avalia se o resultado foi ou não satisfatório. A tendência é que o jogador vá se acostumando à dor, ao medo e ao sofrimento até que possa tomar a coragem para dar fim a própria vida ( o item 50 do jogo).
O fato é que jogos com apelos letais não é algo novo, e numa pesquisa rápida pela internet é possível encontrar nomes como “jogo da asfixia” ou “fada azul” que incita crianças ligar o gás do fogão de madrugada, enquanto os pais dormem. Além disso, há uma taxa crescente de suicídio no país, mesmo sendo considerada baixa comparada a outros países, ela mata mais que o HIV.
O caso baleia azul reacende a atenção para o fato que intriga pais, médicos e professores diante da motivação da morte num momento de descobertas e alegrias da vida. O tabu do suicídio também acende a lâmpada da depressão entre os jovens, principal motivador.
Mas a pergunta que a internet faz é: Qual o motivo? Por que tantos jovens estariam à beira do precipício? Ganhar o jogo talvez seja a fuga de muitos deles, que por diversos fatores podem estar gritando por socorro em seus silêncios e isolamentos.
Já a fase da adolescência e puberdade é mesmo um tudo ou nada, casos de vida ou morte onde tudo parece ser irreversível. Uma fase de estranhamento e autocritica. Para alguns desses jovens, tudo pode ser sempre uma grande exposição e acabam sentindo falta de uma direção e cuidado. Essa período da vida foi metaforicamente denominado de “complexo da lagosta” pela psicanalista francesa Françoise Dolto, que associou a fase da puberdade com a da lagosta, que precisa descartar a sua capa protetora, por não mais se ajustar a ela, e ficar desprotegida até que nasça um novo exoesqueleto maior e mais resistente. Este período de “nudez” e de transformações podem também ser encarados pelos adolescentes como uma um período de incompreensão e de catástrofes iminentes.
Na vida, passamos por diversas situações de “troca de carapaça”, que são aqueles momento de auto transformação. Na vida adulta, conseguimos lidar de forma mais madura com este fenômenos diante das experiências anteriores, mas para muitos jovens, pode ser também associado a um autoflagelo.
O caso de bullying, maus tratos, negligencia de pai e mãe, abuso sexual na infância e violência são também questões a serem colocadas em pauta quando a fuga de um jovem é tirar a própria vida. Se não há tais justificativas, é importante avaliar com a ajuda de um especialista o comportamento psicológico. Para isso, penso que é importante acompanhar, se fazer presente na vida do filho, seja nas atividades escolares, na internet e/ou no círculo de amizades. Conhecer e reconhecer seus comportamentos de modo que possa atuar em caráter de prevenção.
A fase da adolescência é o encontro com a autoafirmação, com o reconhecimento do ser e de suas habilidades. É importante também dar suporte e bagagem para o florescer dos talentos e da confiança.
Talvez este seja o momento de cultivar e divulgar ações positivas. Desligar a televisão da violência e de jogos mortais, e sintonizar na arte, na beleza, nas alegrias e realizações. Uma boa recomendação seria firmar o diálogo aberto e a observação próxima do comportamento, assim como apoio e carinho, atitudes que podem salvar uma vida.
É preciso olhar os jovens com os olhos do amor, violência nunca será a resposta para casos onde a necessidade de atenção e carinho sejam cruciais para a formação do ser humano.
Não é o desafio da baleia azul que está matando os nossos adolescentes, vou além… talvez seja mais questão de nossa insensibilidade.
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