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Pessoas aparentemente boas podem ser cruéis; adolescentes aparentemente frágeis podem ser cruéis; crianças aparentemente inofensivas podem ser cruéis. É tudo uma questão circunstancial.
O ser humano tem em sua essência uma natureza agressiva e belicosa, somos uma mistura complexa de ações e reações que vão nos constituindo ao longo da vida, enquanto seres sociais. Somos reativos 99% do tempo. A maneira que encontramos de nos relacionar com os nossos familiares, amigos, amores e conhecidos não é acidental, é uma construção, delicada e perigosamente inflamável, a depender dos anteparos emocionais que tivermos recebido enquanto nossa personalidade estava sendo moldada.
A formação do caráter de cada um de nós tem inúmeras tonalidades e nuances, advindas das incontáveis conexões que vão se estabelecendo entre nós e os outros. Ainda antes de conhecer a luz desse mundo, estamos suscetíveis ao ambiente afetivo no qual iremos nascer. As emoções maternas nos afetam diretamente, posto que passamos cerca de quarenta semanas a partilhar com essa pessoa o mesmo corpo físico. O que ela come nos afeta; o que ela pensa nos afeta; o que ela sente nos afeta.
Ao nascer, sofremos uma abrupta ruptura orgânica de laços de sangue e de afeto. Sermos alimentados ao seio da mãe é uma forma de aliviar esse corte e nos ajudar a ir formando outras redes de relação: somos nutridos física e amorosamente.
No entanto, há inúmeras outras formas de sermos acolhidos, além da amamentação. O contato com a mãe é nossa primeira referência de troca emocional. Bebês que passam por situações de rejeição têm muito mais probabilidades de desenvolver transtornos afetivos e cognitivos.
Os relacionamentos estabelecidos no núcleo familiar são os responsáveis pela nossa formação nuclear afetiva. Esse é o nosso esqueleto emocional, uma estrutura tão organizada quanto o nosso esqueleto ósseo; o que nos manterá de pé ou nos ajudará a encontrar novas posturas, conforme tivermos de nos adaptar às infinitas transformações que nos encontrarão no processo.
Ainda muito pequenos, quando começamos a interagir com outros pequenos, a maneira de nos comunicarmos será uma espécie de imagem holográfica criada a partir de nossas relações familiares. Reproduziremos no contato externo as aprendizagens relacionais que constituem nosso interior. É por isso que observamos crianças mais ou menos disponíveis para o afeto; mais ou menos confortáveis com a troca de experiências; mais ou menos arredias, permissivas ou agressivas no contato com o outro.
Uma vez inseridos em novos meios sociais, vamos nos misturando aos demais. Aprendemos – uns mais, outros menos -, a interpretar linguagens explícitas e não explícitas. Reconhecemos ambientes amigáveis ou não. Avaliamos nossas habilidades sociais, por meio de experiências de acolhimento e rejeição. Vamos criando espaços de contato e cascas de proteção. E no início, tudo isso pode ser muito assustador, dada a nossa pouca experiência de interpretação e assimilação das intrincadas redes de relacionamentos a que estamos expostos por toda a vida.
Já um pouquinho maiores, passamos a revelar de forma mais explícita nossa natureza. O mundo vai lendo nossas reações e ações espontâneas e passa nos definir a partir de sua leitura particular. Ainda que não tenhamos conhecimento pleno disso, as pessoas à nossa volta nos imaginam e classificam, de acordo com seu próprio crivo emocional, cultural e cognitivo. Exatamente da mesma forma que nós próprios fazemos em relação ao outro.
Ocorre que alguns de nós somos mais vulneráveis a esses rótulos, que tanto podem ser do tipo transitório, quanto do tipo “cola definitiva”. Pessoas mais sensíveis, dotadas de estruturas menos preparadas para lidar com as agressões – sejam elas veladas ou não -, representam alvos fáceis demais para aqueles que se desenvolveram afetivamente acreditando que precisam subjugar, diminuir ou destruir o outro para ter uma experiência sócio afetiva gratificante.
Abusos psicológicos muitas vezes começam com uma “brincadeira inocente”. Comentários maldosos feitos “de brincadeira” podem expor de forma negativa aqueles que não adquiriram a malícia necessária para localizar no outro o desejo de ferir. Apelidos depreciativos podem afetar terrivelmente a autoimagem e a estima daqueles que cresceram sem recursos para bloquear aqueles que vivem de invadir o espaço afetivo alheio para se auto afirmar. Isolamentos propositais, podem levar os mais vulneráveis a situações dolorosíssimas de solidão.
As crianças e os adolescentes, muito mais que os adultos, estão sujeitas a situações de abuso psicológico. Tanto a criança quanto o jovem podem estar em situação de risco, uma vez que lidam com o paradoxo entre aquilo que constitui a sua essência familiar e o apelo do grupo. É nesse momento que as redes afetivas construídas e desenvolvidas dentro da família fazem toda a diferença.
Famílias com boas estruturas afetivas têm mais recursos para identificar alterações de comportamento em suas crianças e adolescentes, que podem indicar a ocorrência de abusos psicológicos. O apoio emocional é algo que se oferece naturalmente; nada têm a ver com regras rígidas ou superproteção. É preciso olhar atento, escuta ativa e disponibilidade afetiva para ver além do óbvio, para enxergar o comportamento do jovem e da criança além do que é senso comum: “criança inventa coisas” ou “adolescentes são instáveis assim mesmo”.
Muitas famílias deixam passar oportunidades únicas de oferecer aos menores um ambiente propício ao desenvolvimento das habilidades necessárias para interagir com o mundo e as outras pessoas. Se uma criança ou jovem anda mais quieto que o habitual; mais agitado que o habitual; com alterações de humor, sono ou apetite; protagonizando explosões de agressividade ou choro excessivo; evitando o contato com as pessoas mais próximas e buscando isolamento… há que se acender um sinal de alerta.
O melhor que se pode fazer em relação àqueles de nós que se encontram em formação é oferecer-lhes atenção genuína, amor, confiança e confiabilidade. É preciso acreditar numa evidente verdade: eles têm muito o que e sobre o que dizer! É indispensável que sejamos capazes de ouvi-los, sem julgar… ouvi-los. Ajudá-los a fazer sua própria leitura da vida, garantir a eles que podem contar com um lugar afetivo seguro em suas próprias casas. É preciso deixar que eles falem em voz alta as dores que gritam em silêncio em suas almas em formação. E é preciso que se faça isso imediatamente, antes que não haja mais nada a ser feito.
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Sofri muito tudo que foi comentado, hoje já é tarde, estou doente com pouco tempo de vida, mas de que adianta culpar alguém? Não vai trazer a minha vida de volta. Mas porem o tema deve ser levado a diante sim e evitar que pessoas , principalmente pais que se passam por morcinhos na história , sejam cobrados de forma firme, judicial, assim como cobram o jovem que usa droga , sendo que o motivo da droga que o jovem usa muita das vezes é a culpa do abandono intelectual por parte da família . Estou muito feliz por ter lido este artigo, já estava acreditando que estou doente, querem me entupir de remédios psiquiátrico e me conduzir a terapias com psicologia ao invez de dar uma atenção, um apoio amor. Com ja estou mortendo mesmo , peço perdao a Deus mas eu é que quero distância .
Obrigado Ana Macarini.