Imagem de capa: Anna Ismagilova, Shutterstock
Existem pessoas mágicas. São aquelas que sabem ouvir e escondem um sensor em seu coração para avisar imediatamente sobre suas tristezas, ilusões ou alegrias. Elas não precisam que lhes digam nada, porque sabem ler nas entrelinhas, entre olhares e através dos gestos. Elas falam o idioma do carinho e seus olhares escondem um oceano de calma onde gostamos de buscar refúgio.
Emily Dickinson disse em um de seus poemas que ninguém viveria em vão se conseguisse, pelo menos uma vez, evitar que um coração se parta, evitar a agonia de uma vida, ajudar um pássaro perdido a encontrar seu ninho ou acalentar a dor de uma pessoa. Mas além do poético que essas dimensões podem parecer, por trás delas existe uma ideia essencial: para ajudar, é preciso sentir a necessidade do outro.
“Ouvir com atenção te torna especial, mas quase ninguém faz isso.”
-Ernest Hemingway-
No entanto, e todos sabemos disso, no nosso dia a dia existe uma presença muito obscura chamada hipocrisia. Aos poucos fomos aceitando seu reinado de forma quase implacável, a tal ponto que não falta quem exalte os nobres valores do altruísmo e do respeito enquanto todos os dias coloca a armadura desse “eu” hermético onde é incapaz de ver, sentir e entender quem está por perto.
Não podemos esquecer que quem mais precisa de ajuda nem sempre sabe ou pode pedi-la. Porque quem sofre não leva cartazes, na verdade muitas vezes se esconde no silêncio, como o adolescente que se tranca no seu quarto, o namorado que se cala na outra metade do sofá, ou a namorada que deixa cair suas lágrimas no outro lado da cama.
Saber “sentir e perceber” a necessidade do outro é o que nos faz ser dignos a nível humano, porque fazemos uso dessa proximidade emocional que nos enriquece como espécie ao nos preocuparmos com quem está próximo a nós. Propomos que você reflita sobre isso.
Te sinto e te entendo sem que você diga nada: a leitura emocional
Embora não acreditemos, a maioria de nós dispõe de um poder excecional: ler a mente. É exatamente isso que Daniel Siegel nos diz, doutor em psiquiatria da Universidade de Harvard e diretor do “Center for Culture, Brain, and Development“. Em seu livro “The Mindful Brain“, ele nos explica que cada um de nós pode chegar a ser grandes “leitores de mentes”, porque a mente – e aqui está o ponto mais importante – é regida por todo um universo de emoções que devemos ser capazes de decifrar.
Na verdade, a maior parte de nós aplica este “superpoder” diariamente. Basta ver a forma como nosso chefe se sente e puxa o ar para avisar que alguma coisa não está bem. Entendemos pelo tom que a nossa amiga usa para falar conosco que alguma coisa a preocupa. Sabemos também quando o nosso filho pequeno mente para nós e quando o nosso irmão voltou a se apaixonar por alguém.
As emoções são como as bolhas do champanhe. Bagunçam nossos universos cotidianos, os rostos, as expressões, os gestos, as palavras… Elas fluem ao nosso redor de forma caótica, explodindo em pequenas bombas de informação capazes de produzir múltiplas sensações ao empatizar com elas. No entanto, o próprio doutor Siegel nos adverte de que há pessoas com “cegueira emocional“. Além disso, existem perfis de personalidade incapazes de sentir essas “bolhas” emocionais das pessoas que lhes são mais próximas.
William Ickes é um dos psicólogos que estudaram a dimensão da empatia a nível científico e experimental. Por mais estranho que pareça, e este dado é bastante interessante, a nível familiar, a capacidade de empatia entre seus membros não costuma ultrapassar os 35 pontos. No entanto, entre as boas amizades, supera os 70.
O motivo? A nível familiar, é comum estabelecer muitos filtros pessoais. Às vezes nos limitamos a ver os nossos filhos, nosso parceiro, irmãos ou pais como nós queremos, e não como eles são na realidade. É com essa cegueira mental que nos asseguramos de que tudo vai bem, que o nosso “pequeno mundo” não tem nenhum cabo solto, quando na verdade existem muitas necessidades para atender e muitos vínculos para curar.
As pessoas que sabem ouvir com o coração
Ouvir o que a outra pessoa nos comunica sem necessidade de dizer nada tem nome: comunicação emocional. Este “superpoder” foi evoluindo na nossa espécie através de todas essas áreas cerebrais que configuram a dimensão da empatia. Pesquisadores da Universidade de Monash, na Austrália, nos explicam que a empatia efetiva estaria relacionada com o “córtex insular“, enquanto a empatia cognitiva, por outro lado, se situaria no “córtex cingulado“, logo acima da conexão entre os dois hemisférios cerebrais.
“Temos que ouvir a cabeça, mas devemos deixar o coração falar.”
-Marguerite Yourcenar-
Todos nós temos essas estruturas, no entanto, nem sempre potencializamos sua capacidade, sua energia e esse vínculo que, sem dúvida, enriqueceria muito mais todas as nossas relações. A razão pela qual nem todos sabem sentir ou ouvir uns aos outros com essa proximidade tão autêntica muitas vezes está ligada a uma falta de vontade ou um excesso de ego. É o que Emily Dickinson nos dizia em seu poema: “nenhuma vida será em vão se conseguir sentir e ajudar outra“.
Porque quem sente com o coração desperta, e quem ajuda demonstra vontade e preocupação real pelo outro. É aí que nasce esse poder maravilhoso que nos torna únicos, que oferece qualidade às nossas relações e que, em essência, nos confere o poder mais valioso que existe: o de dar felicidade.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa
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