Imagem de capa: Fnsy, Shutterstock

Tem sempre aquela solteira que fica na mesa do barzinho, olhando de soslaio, para os casais trocando carícias. Não é por maldade, ou de propósito, mas ela está com inveja. Bizarramente, ela nem sempre foi essa moça triste e almejante, que fica insistentemente olhando para os lados, exalando ansiedade, imaginando se o rapaz da mesa ao lado será o pai dos seus filhos. Em outros tempos ela era uma moça alegre, divertida, cheia de graça, de andar faceiro e sorrisos delicados. Ela não tentava atrair toda a atenção do mundo para si. Ela não olhava para os homens como se fossem um alvo em potencial. Ela não tinha dentro de si todos os suspiros do mundo.

Por algum motivo, algum fatídico evento, ou anônimo acontecimento, ela deixou de ser feliz só por ela, ela deixou de ser o maior amor da vida dela e passou a carregar um vazio dentro de si, cheio de uma tristeza enfadonha. Ela queria amar e ser amada, andar de mãos dadas, receber uma ligação de “boa noite”, cantarolar embasbacada, dormir de conchinha e pernas entrelaçadas, queria ter os cabelos afagados, palavras doces sussurradas ao ouvido, ela queria o que ela achava que era ser amada.

É irônico como funciona o amor… Só se encontra amor, quando não se está em busca dele. Mas a moça do início da nossa história não quer compreender isso, ela sente que o coração dela já não consegue mais aguardar e ela começa a se corroer e a se entregar para uns espectros que ela encontra ao longo do caminho. Não é amor ao que ela se entrega. Na verdade, ela nem sabe o que é. Talvez seja afeto, ou tesão, pode ser carinho, até mesmo amizade, mas não, não é amor! E bem lá no fundo, guardadinho no inconsciente dela, ela sabe que não é, porque amor tem hora para chegar e razão de ser, amor é fio tecido pelo tempo. Seja um fio até mesmo curto, mas que tenha sido tecido.

Assim, em meio a muitas desilusões, vários casos vazios, uma infinidade de pés na bunda e decepções sem tamanho, ela desiste e diz para o mundo: “Chega! Eu não quero nunca mais saber de amor!”. Contudo, para si mesma, ela diz baixinho, com medo que alguém escute: “Mas eu queria tanto amar… Por que é que só eu não posso?”. E ela segue caminhando um pouco tristonha, mas tentando convencer a si mesma de que aquilo ali não é para ela. Sentada na mesa do barzinho, ela vê um casal ao lado rindo, enquanto troca algumas confidências e, sim, ela sente inveja. Afinal, ela é humana. Sente inveja daquele riso largo que a outra moça dá, enquanto joga os cabelos para trás e chama o rapaz de “amor”. No entanto, sabe qual o problema da nossa moça? Ela não sabe que a outra moça também um dia já se perguntou “por que ela não”, já molhou o travesseiro nas noites solitárias e já quebrou a cara com vários caras errados, até encontrar este que a faz sorrir largo. Ela não sabe que aquele rapaz, que corresponde cheio de afeto, já passou noites e noites, saindo a ermo, em busca de algo diferente.

Amor tem hora para acontecer. Ninguém nasceu para viver sem amor. Amor uma hora chega. Mas amor não se fabrica, não se força, não se forja. Amor acontece, surge e cabe a cada um de nós reconhecê-lo. Cuidar de si mesmo é o primeiro passo para estar pronto para o amor. Se você está infeliz e amargurada o suficiente para cegar seus sentimentos, jamais poderá reconhecer o amor quando ele chegar, pois o amor é leve, é gentil e suave como uma brisa da manhã. O amor é algo que chega como se sempre tivesse estado ali. Se você estiver ansiosa em demasia, vai julgar qualquer coisa como amor e vai se ocupar com algo enganoso, perdendo a oportunidade de viver o que é real. Muitas vezes demora, mas por ter certeza: o amor uma hora chega. E, quando ele chegar, todos os fracassos anteriores terão razão de ser.

Se hoje sua busca incessante é o amor, mude o foco, varie a estratégia: cuide de si mesma. Tenha em mente que o amor uma hora chega e quando ele chegar é bom você estar livre, leve e feliz.

Rândyna da Cunha

Rândyna da Cunha nasceu em Brasília, Distrito Federal, em 1983. Graduada em Letras e Direito, trabalha como empregada pública e professora. Tem contos publicados em diversas revistas literárias brasileiras, como Philos, Avessa e Subversa. Foi selecionada no IX Concurso Literário de Presidente Prudente. Participou da antologia Folclore Nacional: Contos Regionalistas da Editora Illuminare e das coletâneas literárias Vendetta e Tratado Oculto do Horror, da Andross Editora- http://lattes.cnpq.br/7664662820933367

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  • Impressionante como estes textos tocam no fundo; É como se fosse feito pra nós.
    Estou nessa fase: A procura de um amor( "É irônico como funciona o amor… Só se encontra amor, quando não se está em busca dele, Muitas vezes demora, mas por ter certeza: o amor uma hora chega.")
    obrigada!

  • Quanta verdade neste texto... como se tivesse descrevendo o que realmente está acontecendo... sei que é isso mesmo que deveria fazer, mas quando a solidão bate, vem a pergunta: onde está o meu amor? Quando ele chegará? Está demorando... e essa sintonia é negativa. Como esperar com esta convicção de que ele vai chegar... ser forte e ficar plena pra esperar... vou trabalhar a minha mente, ele vai chegar! Obrigada pela mensagem tão profunda! Quanta inspiração! Que Deus continue a te iluminar pra escrever...

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Rândyna da Cunha

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