Imagem de capa: Evgeniya Porechenskaya, Shutterstock
O amor e a dor são como o mar. Grandiosos, imensos, profundos. Podem nos envolver de tal forma que nos afunde, podem nos guiar de tal forma que nos transforme.
Transfor-MAR
Eu acredito na ideia de que devemos viver o amor e a dor com máxima intensidade. Só assim poderemos saber o que há além da margem. Em 2010, após muitos anos sem ver o mar, peguei um ônibus e fui sozinha pra uma cidade litorânea, desconhecida para mim até então. Quando cheguei ao destino, tive urgência em ir à praia e entrar na imensidão da água. À medida que eu me aproximava, a cada passo dado, mais azul o horizonte ficava. O horizonte do céu, logo em seguida, o horizonte do mar. Lembro-me de ter ficado quatro horas seguidas dentro dele… A minha necessidade era tanta, a minha sede era tamanha… Eu precisava viver o mar enquanto eu e ele estávamos no mesmo lugar. Apenas me molhar não era o suficiente. Eu mergulhei.
O amor e a dor, assim como o mar, são imensos de tal forma que torna-se impossível passar ileso a eles. Por um tempo, eu andei de mãos dadas com o amor. Ele me permitiu ser a pessoa sonhadora que eu nunca fora até então. Ele me fez querer tanto e tão bem a alguém, de uma forma que até então eu não quisera a ninguém. Eu me desnudei do meu orgulho para mergulhar no sentimento.
O amor, como o mar, é intenso demais para ser controlado. É grande demais pra nos determos à margem. Eu amei, e esse amor foi maior do que eu. Foi tão forte que eu abandonei a segurança do cais e não pude mais sentir a areia sob meus pés. Eu aprendi a flutuar. E assim fui além: além do porto, além de mim.
Por um tempo também eu andei de mãos dadas com a dor. Porque a dor compreende parte do processo do amor. O luto existe e precisa ser vivido. É só vivendo a fundo a morte de um amor, é que podemos renascer. Então eu vivi tudo o que a dor me trazia: silêncio e solidão. Quantas vezes, nesse meio tempo, eu olhei para o mundo e suas luzes e não me via ali? Por isso me isolei, poucos me viram, poucos me ouviram, pouco eu escrevi. Vulnerável à dor e ao que ela me trazia, me distanciei para me transfor-MAR.
Ao mar, ao amor e à dor, eu aprendi a me atirar, sempre que preciso. A vida requer mergulhos e coragens. Andei de mãos dadas com o amor durante um tempo, andei de mãos dadas com a dor durante outro. Agora, novamente, vou ao mar. A minha alma tem sede de água e sal.
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